Belém (PA), 19/11/2025 " Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tendo ao lado esquerdo o presidente da COP30, André Corrêa do Lago e ao lado direito a primeira-dama, Janja Lula da Silva, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fala durante entrevista coletiva após reuniões na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

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Nos últimos anos, a sustentabilidade ambiental passou a ocupar um espaço central no debate público. Mas, junto com a boa intenção de repensar hábitos e buscar soluções, também se multiplicaram narrativas equivocadas - muitas vezes simplistas, sem base em dados - que criam vilões e heróis onde não existem. Nesse cenário, o plástico tornou-se um dos principais alvos.

É comum vermos manchetes tratando o plástico como inimigo absoluto do meio ambiente e do planeta. Na prática, o problema não está no material em si, mas na forma como é descartado e na ausência de políticas efetivas de reciclagem e economia circular. Ao apontar o dedo para um único produto, desvia-se a atenção do que realmente ameaça nossos ecossistemas: o desmatamento ilegal, a poluição das águas por múltiplas fontes, o desperdício de alimentos e a falta de infraestrutura para gestão de resíduos.

Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), apenas 4% do lixo sólido produzido no Brasil é reciclado. O dado revela que o problema vai muito além do plástico: trata-se de um sistema falho de gestão de resíduos, que não consegue transformar descarte em matéria-prima para novos ciclos produtivos. A oportunidade está justamente aí: investir em logística reversa, educação ambiental e inclusão de cooperativas pode transformar o que hoje é visto como lixo em fonte de renda, inovação e inclusão social.

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O desafio da desinformação ambiental é que ela atrapalha esse movimento. Quando demonizamos o plástico, deixamos de enxergar seu potencial: ele é leve, barato, versátil e, quando reciclado, tem uma das menores pegadas de carbono entre diversos materiais. Em vez de tratá-lo como problema, precisamos falar com transparência sobre seu papel e sobre como usá-lo de forma responsável.

Não podemos combater a crise ambiental com slogans ou meias-verdades. É preciso encarar os dados, entender as prioridades e construir soluções reais. O combate à desinformação também faz parte da sustentabilidade. Se quisermos avançar, o caminho é um só: ciência, dados e educação. Só assim conseguiremos separar mitos de fatos e direcionar energia para enfrentar o que realmente ameaça nosso futuro - e não apenas o que viraliza nas redes sociais.

Rui Katsuno é empresário e comunicador do setor de plásticos, presidente do Instituto Soul do Plástico e da MTF Termoformadoras.