Divórcio
Nos últimos anos, o Brasil registrou taxas recordes de divórcio e queda do interesse pelo casamento (Foto: Freepik)

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Alguns meses atrás, dois amigos de longa data se separaram das suas esposas. Os motivos para o fim do relacionamento de cada um são até certo ponto diferentes, mas têm suas semelhanças.

Ambos os casos contaram com uma figura muito conhecida em histórias de divórcio: uma amiga da esposa, via de regra solteira, que ao menor sinal de desentendimentos ou dificuldades do casamento passa a encorajar o término “pelo bem da mulher”.

É por isso que se ouve tanto por aí que casados deveriam evitar relacionamentos de amizade mais íntima com solteiros. E não é só porque solteiros têm menores probabilidades de aconselhar sabiamente quem está em um relacionamento, mas porque muitas vezes podem, mesmo inconscientemente, tentar trazer casados de novo à vida de solteiro.

Obviamente não é regra, mas acontece muito. Voltando às histórias dos divórcios, nos dois casos a decisão partiu da mulher e foi influenciada por uma amiga solteira encorajando o término.

E do outro lado também havia falhas de comportamento dos maridos, que só perceberam isso depois que o casamento acabou. Um deles me disse: “Uma grande parte do fim do meu casamento tem a ver com eu ter evitado fazer trabalhos domésticos por todos esses anos. Ficou tudo nas costas dela”. Meu outro amigo também relatou algo parecido.

Nesta coluna sempre tenho batido na tecla de que se marido e esposa trabalham, é injusto que o cuidado com a casa fique apenas com a mulher. E isso não me faz um progressista, muito longe disso. Lavar a louça, cozinhar, tirar o lixo e limpar a casa não torna alguém menos homem, mas ajuda a manter uma família em pé. Pode parecer exagero, mas não é.

Gosto de usar um raciocínio que funciona bem para pais de menina: você, homem, gostaria que quando sua filha se casasse, o marido deixasse absolutamente todo o trabalho doméstico nas costas dela?

Aliás, meninos que veem seu pai ajudando em casa possivelmente repetirão o que viram e terão casamentos mais felizes e duradouros. Meninas que crescem vendo o pai fazer o mesmo aprendem que é isso que um homem de verdade deve fazer, e buscarão essas características em seus futuros maridos. Homens que agem assim protegem seus casamentos e favorecem que os filhos sejam adultos mais felizes e realizados.

Comportamentos danosos e radicalismo feminista explicam taxas recordes de divórcio

O mesmo roteiro que vitimou os dois casamentos que contei acima tem sido contado em milhões de casas nos últimos anos no Brasil. Segundo o IBGE, em 2023 o número de casamentos registrados foi de 941 mil, um recuo de 3% em relação a 2022. Em paralelo, houve 441 mil divórcios, número 5% maior que o ano anterior.

É verdade que por um lado muitos homens contribuem para esses números com visões distorcidas sobre o que é família e casamento. Além de crenças como as que falamos, outros comportamentos comuns são igualmente prejudiciais, como consumo de pornografia, aversão ao diálogo em casa e distanciamento emocional.

Do outro lado, temos a influência avassaladora do discurso feminista radicalizado, que se alimenta de criar ódio entre masculino e feminino e prega que mulheres são mais felizes sozinhas. É um discurso que por vezes beira a ignorância completa, com frequência vendendo a utopia de que seria possível, e muito melhor, um mundo exclusivamente feminino.

Essa combinação de erros é uma das explicações possíveis para o término precoce de relacionamentos que tinham tudo para dar certo, mas também para o descrédito sem precedentes da figura do casamento entre mulheres – e isso, obviamente, não se resume ao Brasil.

Uma nova pesquisa do Pew Research Center revelou que jovens norte-americanas estão perdendo a fé no casamento em uma escala impressionante. Nos últimos 30 anos, a porcentagem de meninas do último ano do ensino médio que afirmam ter maior probabilidade de se casar um dia caiu de 83% em 1993 para 61% em 2023. Enquanto isso, a porcentagem de adolescentes que esperam se casar permaneceu estável, em torno de 75%.

Um dado interessante: outro estudo norte-americano recente revelou que mulheres identificadas com a esquerda – ou seja, mais abertas à agenda feminista – são muito menos propensas a se casar e a ter filhos do que conservadoras.

Uma terceira pesquisa recente, da NBC News, constatou que as mulheres de esquerda da Geração Z classificam casar e ter filhos como algumas de suas menores prioridades para uma vida bem-sucedida, muito abaixo de um emprego gratificante, segurança financeira e saúde emocional.

Isso explica um pouco do baixo esforço aplicado para salvar casamentos em dificuldades, com a opção do divórcio prevalecendo facilmente. Alguns dias atrás li uma matéria que tratava do número recorde de divórcios no Brasil. A repórter começava o texto desta forma: “Quando você percebe que o casamento não é mais o mesmo do começo da união, pode ser que esteja perto de um divórcio”. 

A naturalidade com que se trata a opção pela separação é impactante e muitas vezes carrega uma forte crença de que mulheres têm muito mais chances de serem felizes se viverem sozinhas. Será verdade? Vamos ao que dizem as pesquisas.

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Estudo conclui que mulheres casadas e com filhos têm o dobro de felicidade

A chamada Women’s Well-being Survey (em português “Pesquisa de Bem-Estar Feminino”), realizada com 3 mil mulheres entre 25 e 55 anos nos Estados Unidos e publicada neste ano, constatou que mães casadas relataram quase o dobro de níveis de felicidade e taxas menores de solidão na comparação com solteiras ou sem filhos.

Outro dado curioso é que mulheres de esquerda casadas têm 30% a mais de probabilidade de se declararem “muito felizes” do que solteiras e sem filhos.

Para se ter noção dos danos da radicalização ideológica para mulheres, basta observar que a felicidade feminina despencou nos últimos dez anos entre mulheres de esquerda solteiras e sem filhos, enquanto permanece alta para suas pares que conseguiram se casar e formar uma família.  

Em resumo: aquelas que pendem ao feminismo radical acreditando que casamento e família são um obstáculo para a felicidade são menos felizes do que as que têm uma visão mais tradicional de família.

O casamento não é uma competição

Por fim, é importante dizer que quando se fala em relações familiares, nada é perfeito e sempre haverá dificuldades, mas dificuldades não significam infelicidade. Muito pelo contrário.

Como dito, a vida em família é uma das maiores fontes de felicidade, desde que homem e mulher compreendam que é no autossacrifício, no compromisso de longo prazo e na busca pelo bem-estar do outro que se encontra a sua própria felicidade.

Se não houver isso, o casamento será sempre uma competição pelo posto de quem fará menos para receber mais.

Se eu puder dar um conselho, seria este: rejeite o radicalismo da moda, mas também a doença do egocentrismo. Passar longe dos delírios ideológicos e colocar em prática mudanças simples de postura dentro de casa pode salvar uma família de um fim que não precisa acontecer. Faça sua parte!