EUA sancionam operativos do Hezbollah por explorar economia em dinheiro do Líbano
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou nesta quinta-feira (6) novas sanções contra indivíduos ligados ao grupo terrorista Hezbollah, acusados de movimentar dezenas de milhões de dólares vindos do Irã por meio de casas de câmbio no Líbano.
A medida, conduzida pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), busca desarticular a estrutura financeira que sustenta as atividades militares e políticas do grupo xiita, considerado uma organização terrorista global desde 1997 pelo governo norte-americano.
Segundo o comunicado oficial, a operação faz parte dos esforços dos EUA para apoiar o desarmamento do Hezbollah e fortalecer a soberania do Estado libanês, que enfrenta uma das piores crises econômicas e políticas de sua história recente.
“O Líbano tem a oportunidade de ser livre, próspero e seguro — mas isso só será possível se o Hezbollah for totalmente desarmado e cortado do financiamento e controle iraniano”, declarou John K. Hurley, subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência Financeira.
US$ 1 bilhão em transferências ilegais
De acordo com o Tesouro americano, desde janeiro de 2025, a Força Quds do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC-QF) transferiu mais de US$ 1 bilhão ao Hezbollah, principalmente através de empresas de câmbio libanesas — muitas delas licenciadas oficialmente, mas que, segundo Washington, atuam como frentes para lavagem de dinheiro e evasão de sanções.
Um dos principais operadores identificados é Ossama Jaber, membro ativo do Hezbollah responsável por coletar e converter grandes quantias de dinheiro entre setembro de 2024 e fevereiro de 2025. O Tesouro aponta que parte dessas transações foi feita em parceria com casas de câmbio pertencentes a aliados do grupo xiita.
Queda do regime sírio afetou finanças do grupo
A morte do ex-chefe financeiro do Hezbollah, Muhammad Qasir, em outubro de 2024, e o colapso do regime de Bashar al-Assad, em dezembro do mesmo ano, teriam provocado uma reestruturação nas finanças da organização. Segundo o OFAC, os responsáveis atuais incluem o filho de Qasir, Ja’far Muhammad Qasir, e seu sobrinho, ‘Ali Qasir, ambos já sancionados anteriormente pelos EUA.
Ja’far passou a administrar o portfólio econômico e as operações financeiras do Hezbollah, coordenando negócios ilícitos que envolvem venda de petróleo e produtos químicos iranianos. Em meados de 2025, Ja’far e seus aliados teriam tentado recuperar o navio Arman 114, apreendido na Indonésia em 2023 por transportar petróleo iraniano de forma ilegal.
Outro nome citado é o empresário sírio Yasar Husayn Ibrahim, próximo do antigo ditador sírio Assad, que teria colaborado com Ja’far e Samer Kasbar — diretor da empresa Hokoul SAL Offshore, também ligada ao Hezbollah — para negociar energia, metais e produtos químicos.
Com a decisão, Ossama Jaber, Ja’far Muhammad Qasir e Samer Kasbar foram formalmente incluídos na lista de Nacionais Especialmente Designados e Pessoas Bloqueadas (SDN List) do OFAC, nos termos da Ordem Executiva 13224, que prevê sanções contra terroristas e seus financiadores.
Na prática, todos os bens e ativos dos sancionados nos EUA estão bloqueados, e cidadãos ou empresas americanas estão proibidos de realizar qualquer transação com eles. Entidades controladas em 50% ou mais pelos designados também passam a ser automaticamente bloqueadas.
O governo norte-americano alertou ainda que instituições financeiras estrangeiras que negociarem com os sancionados podem sofrer sanções secundárias, incluindo restrições ao acesso ao sistema bancário dos EUA.
O Tesouro reforçou que as penalidades civis podem ser aplicadas mesmo sob responsabilidade objetiva, ou seja, sem necessidade de comprovar intenção de violar as sanções.
“O poder das sanções da OFAC vem não apenas da capacidade de incluir pessoas na lista, mas também de removê-las quando há mudança de comportamento. O objetivo final é induzir uma transformação positiva”, afirmou o órgão.
O Hezbollah e a crise libanesa
O Hezbollah – movimento político e militar xiita fundado na década de 1980 – mantém fortes vínculos com o Irã e uma presença dominante no cenário político libanês. Apesar de operar como partido político e grupo social, sua ala armada é considerada terrorista por EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Israel e outros países.
O Líbano, por sua vez, enfrenta uma crise financeira sem precedentes desde 2019, com o colapso de seu sistema bancário, hiperinflação e aumento da economia informal baseada em dinheiro vivo – um ambiente que, segundo Washington, favorece a infiltração de redes ilícitas e o financiamento de grupos armados.
Analistas apontam que as novas sanções podem intensificar a pressão internacional sobre o Hezbollah e ampliar o isolamento econômico do Líbano, caso o governo de Beirute não adote medidas concretas para conter a lavagem de dinheiro e a influência iraniana no país.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.