Com investimento bilionário da Arauco em Inocência, Mato Grosso do Sul consolida sua posição como epicentro da nova expansão da indústria de celulose no Brasil.
Com investimento bilionário da Arauco em Inocência, Mato Grosso do Sul consolida sua posição como epicentro da nova expansão da indústria de celulose no Brasil. (Foto: Saul Schramm/Governo do MS)

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O município de Inocência, no Mato Grosso do Sul, com cerca de 8,7 mil habitantes, está prestes a viver uma transformação sem precedentes. A cidade foi escolhida para abrigar uma das maiores fábricas de celulose do mundo construída em uma única etapa, empreendimento que promete gerar 14 mil empregos diretos e indiretos durante as obras — quase o dobro do número de moradores.

O investimento é da Arauco, multinacional chilena com presença em mais de 80 países, incluindo Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, China e África do Sul. A empresa atua nos setores de celulose, painéis de madeira, produtos florestais e energia renovável, sendo uma das líderes globais na produção de celulose sustentável.

O projeto, chamado de Sucuriú, receberá US$ 4,6 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões). A planta terá capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas de celulose por ano, consolidando o Brasil como um dos principais polos mundiais do setor.

”A forte vocação do Mato Grosso do Sul para empreendimentos do setor de base florestal foi decisiva para a opção da Arauco pelo estado”, afirma o diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da empresa, Theófilo Militão. A Arauco enfatiza que vai operar com energia limpa.

Com novas megafábricas em construção, Mato Grosso do Sul se prepara para liderar a produção nacional de celulose e reforçar o protagonismo do Brasil no mercado global.Com novas megafábricas em construção, Mato Grosso do Sul se prepara para liderar a produção nacional de celulose e reforçar o protagonismo do Brasil no mercado global. (Foto: Wenderson Araujo/CNA )

Entrega da fábrica de celulose está marcada para 2027

A pedra fundamental do empreendimento foi lançada em abril, marcando o início das obras civis. O cronograma prevê a primeira leva de celulose para o quarto trimestre de 2027. Durante esse período, a cidade deve receber milhares de trabalhadores, movimentando a economia local, o comércio e o setor de serviços.

A Arauco projetou a fábrica para integrar as produções florestal, industrial e energética em um mesmo complexo. A empresa planeja gerar 400 megawatts (MW) de energia limpa a partir dos subprodutos do processo industrial. Pelos cálculos, a previsão é utilizar 200 MW para o consumo interno, com a venda de 220 MW ao Sistema Interligado Nacional. O volume é suficiente para abastecer uma cidade com 800 mil habitantes.

A Arauco garantiu o abastecimento florestal da planta com 400 mil hectares de eucalipto já contratados e em expansão. A empresa escolheu Inocência, a 330 quilômetros de Campo Grande, pela combinação entre solo fértil, clima favorável, abundância de água e boa logística de transporte.

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Além do impacto econômico, a Arauco afirma que a unidade utilizará tecnologia de última geração para reduzir emissões, otimizar o reaproveitamento de resíduos e racionalizar o uso da água. A meta é produzir celulose de alta qualidade com baixo impacto ambiental e alta eficiência energética.

A expectativa é que a presença da Arauco provoque uma mudança estrutural na região, impulsionando a arrecadação municipal, a geração de renda e novos investimentos. O setor de serviços, moradia e comércio se prepara para absorver o crescimento populacional e o aumento na demanda.

MS projeta concentrar maior parte da celulose brasileira em uma década

Com os investimentos, a expectativa da Arauco é que, em menos de uma década, Mato Grosso do Sul deva assumir o posto de maior produtor de celulose do Brasil — e um dos principais do mundo. Hoje responsável por quase um terço da produção nacional, o estado caminha para responder por quase metade do total quando as três novas megafábricas entrarem em operação.

Segundo relatório da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), o Brasil produziu 25,5 milhões de toneladas de celulose em 2024. Desse volume, cerca de 7,5 milhões saíram de Mato Grosso do Sul, distribuídos entre quatro linhas industriais — três da Suzano e uma da Eldorado.

O país é o segundo maior produtor global, atrás apenas dos Estados Unidos, que fabricam cerca de 48 milhões de toneladas por ano. Mesmo sozinho, o estado já ultrapassa o Japão, nono colocado no ranking mundial, com produção superior a 7,4 milhões de toneladas anuais.

Grande parte dessa celulose sul-mato-grossense cruza fronteiras. No último ano, as exportações renderam US$ 2,7 bilhões (R$ 14,4 bilhões), com destino principalmente à Ásia e à Europa — especialmente China, Países Baixos e Itália. No mesmo período, o Brasil exportou US$ 10,6 bilhões em celulose, consolidando o setor como um dos motores do superávit comercial do país.

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