Motorista admite farsa com explosivos e revela que mentiu sobre sequestro no Rodoanel
Indiciado pela Polícia Civil, condutor confessa que agiu sozinho ao bloquear rodovia e depredar a carreta para chamar a atenção
O caso que paralisou uma das principais vias de São Paulo na semana passada teve uma reviravolta nesta quarta-feira (19). Dener Laurito dos Santos, de 52 anos, confessou às autoridades que forjou todo o cenário no Rodoanel Mário Covas. Em depoimento à Polícia Civil de Taboão da Serra, o caminhoneiro admitiu que não houve abordagem de criminosos, nem ameaça real com bomba.
Dener, que possui mais de duas décadas de experiência na profissão, detalhou como arquitetou a falsa ocorrência. Segundo seu relato, na noite anterior aos fatos, enquanto descansava em um posto na Rodovia dos Bandeirantes, ele construiu um artefato falso utilizando materiais disponíveis na cabine, como um tubo de gás de cozinha portátil, fios de fone de ouvido, fita crepe, papel-alumínio e água.
A execução do plano ocorreu na manhã seguinte. O motorista parou o veículo no quilômetro 32, desceu da cabine e arremessou uma pedra contra o próprio para-brisa — objeto que ele mesmo reconheceu posteriormente na delegacia. Em seguida, ligou para um conhecido informando falsamente sobre um roubo. Para dar veracidade à cena, estacionou a carreta atravessada na pista, amarrou as próprias mãos e simulou ter sido rendido. Ele alega ter desmaiado na sequência devido ao forte estresse emocional, recobrando a consciência apenas durante o socorro.
Investigação desmente versão inicial
A Polícia Civil desmontou a versão de Dener através de provas técnicas e inconsistências no primeiro depoimento. O delegado responsável pelo caso, Marcio Fruet, explicou que o confronto de dados foi fundamental. Imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que o motorista estaciona, urina na via e atira a pedra contra o caminhão, iniciando o que ele chamou de “ataque”.
Além disso, o condutor de um carro de passeio relatou aos investigadores que a carreta realizou manobras perigosas, fechando seu veículo pouco antes de bloquear a rodovia, e confirmou não ter visto nenhuma ação criminosa externa. Confrontado com essas evidências, Dener abandonou a narrativa de que três homens armados o haviam sequestrado para roubar o caminhão e levar armas ao Rio de Janeiro.
Motivação
Sobre os motivos que o levaram a cometer o ato, o motorista apresentou justificativas variadas. Alegou que a escolha do local foi aleatória e que não mediu as consequências de seus atos, mas também afirmou que sua intenção era protestar e chamar a atenção para a insegurança enfrentada pelos caminhoneiros nas estradas brasileiras. Ele negou o uso de entorpecentes ou medicamentos controlados, atribuindo o ocorrido a questões emocionais. Atualmente, ele diz estar sob acompanhamento psicológico.
Devido à farsa, que mobilizou o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), causou mais de 20 quilômetros de congestionamento e bloqueou o Rodoanel por cerca de cinco horas, Dener foi indiciado. Ele responderá em liberdade pelo crime de falsa comunicação de crime, previsto no artigo 340 do Código Penal. A pena para essa infração varia de um a seis meses de detenção ou pagamento de multa.
O episódio afetou drasticamente a circulação no Rodoanel Mário Covas, anel viário estratégico que conecta rodovias como a Régis Bittencourt, Imigrantes, Anchieta, Dutra, Bandeirantes e Castello Branco. A interdição prejudicou o fluxo tanto em direção ao litoral e ao porto de Santos quanto para o interior paulista e outros estados.

