O caso Renato Freitas e a banalização do racismo
Imagens mostram o deputado partindo para a agressão física após ser confrontado por um homem
Marisa Lobo - 19/11/2025 16h24

No mesmo dia em que o país se dedica a refletir sobre a Consciência Negra, uma data que deveria fortalecer debates sobre igualdade e respeito, o Paraná testemunhou mais uma polêmica envolvendo o deputado Renato Freitas (PT).
Já conhecido por comportamentos controversos — de confrontos públicos a provocações constantes, passando por episódios de uso de maconha em via pública e invasão de igrejas — o parlamentar voltou ao centro das atenções após se envolver em uma briga de rua registrada em vídeo.
As imagens mostram o deputado partindo para a agressão física após ser confrontado verbalmente por um homem.
Em vez de assumir a responsabilidade pelo episódio, Freitas optou por uma estratégia conhecida, mas cada vez mais desgastada: alegou ser vítima de “racismo ideológico”. O termo, utilizado sem rigor e fora de contexto, cumpre apenas uma função: deslocar o foco do comportamento do parlamentar para uma narrativa conveniente.
Esse caso revela um fenômeno preocupante: quando figuras públicas instrumentalizam causas legítimas — especialmente o combate ao racismo — para justificar atos pessoais e evitar críticas.
Banalizar o racismo é um desserviço à pauta
O racismo é um problema real, profundo e cotidiano no Brasil. É estrutural, é histórico, é grave — e justamente por isso não pode ser tratado como um curinga retórico.
Quando um parlamentar que aparece em vídeos agredindo uma pessoa usa a pauta racial como escudo para seus atos, o resultado é perverso:
– Denúncias verdadeiras passam a ser desacreditadas;
– Opositores ganham argumentos para minimizar o racismo;
– E a sociedade se confunde sobre o que realmente está em jogo.
A luta verdadeira antirracista perde força quando vira discurso de conveniência para quem tenta administrar crises pessoais.
Responsabilidade não pode ser terceirizada
É legítimo exigir que representantes eleitos ajam com equilíbrio e maturidade. O mandato parlamentar não é um salvo-conduto para explosões emocionais, nem uma licença para transformar conflitos particulares em pauta política.
Freitas tem um histórico público de confrontos, e não é injusto afirmar que se apoia frequentemente na polêmica como forma de projeção. Agora, ao adotar o discurso de vitimização racial em um episódio claramente desconectado da pauta, ultrapassa um limite perigoso: o da manipulação de uma causa que exige cuidado, seriedade e compromisso.
Uma causa justa não pode virar escudo para irresponsabilidades. O Brasil precisa avançar na discussão; precisa de políticas públicas, de debates qualificados, de vozes comprometidas — não de espetáculos.
Quando um parlamentar utiliza o racismo para proteger a própria imagem em vez de defender a pauta, não apenas desrespeita quem sofre o racismo real, como alimenta a narrativa dos que tentam desacreditar toda a luta.
A consequência é inequívoca: quem perde não é o deputado, nem o homem da briga. Quem perde é a causa — e, sobretudo, a população negra brasileira.
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Marisa Lobo atua como psicóloga e psicanalista, é pós-graduada em Psicanálise; Gestão e Mediação de Conflitos; Educação de Gênero e Sexualidade; Filosofia de Direitos Humanos e Saúde Mental; tem também habilitação para magistério superior. |
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