O que os funcionários devem esperar sobre home office e trabalho presencial em 2026
Lógica do espaço voltado à vigilância perde força, dando lugar a ambientes pensados como pontos de encontro, alinhamento estratégico e fortalecimento da cultura corporativa
O ano de 2026 tende a marcar uma virada definitiva na forma como empresas usam seus escritórios. O aumento da ocupação dos espaços físicos não significa uma volta ao modelo tradicional de controle presencial, mas sim a consolidação do trabalho híbrido, com escritórios redesenhados para estimular colaboração, cultura organizacional e troca entre equipes. “Não estamos mais na fase de discutir a volta ou não aos escritórios, mas sim de dar sentido ao que tem sido decidido”, afirma Andréa Migliori, CEO da Workhub, ecossistema de intranet e experiência do trabalho.
Dados do relatório The 2026 Workplace Statistics and Benchmarks, da consultoria Ronspot, indicam que o uso de escritórios chegou a 54% em 2025, acima dos 49% registrados no ano anterior. Ainda assim, a tendência não aponta para o retorno integral ao presencial. Pelo contrário: 73% das equipes relatam ganho de produtividade no modelo híbrido, enquanto 69% das empresas observam melhora na retenção de talentos. “Existem muitas maneiras de aplicar o híbrido. A flexibilidade pode ser baseada em dias da semana, em encontros pontuais, nos cargos de cada pessoa ou na rotatividade de mesas. Não faltam opções, mas pode faltar organização”, avalia Migliori.
Na prática, isso tem levado companhias a rever o papel do escritório. A lógica do espaço voltado à vigilância do funcionário perde força, dando lugar a ambientes pensados como pontos de encontro, alinhamento estratégico e fortalecimento da cultura corporativa. A expectativa para os próximos anos é de menos mesas individuais fixas e mais áreas compartilhadas, voltadas à colaboração e ao trabalho em grupo. “As empresas que operam com times distribuídos já perceberam que o escritório precisa funcionar como ponto de cultura e não como área de controle”, destaca a executiva.
Um exemplo recente dessa mudança é o Nubank. No mês passado, o banco digital anunciou que passará a exigir presença física mínima de dois dias por semana a partir do segundo semestre de 2026, após anos operando quase integralmente de forma remota. A empresa informou que fará investimentos na ampliação e criação de escritórios no Brasil, na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa para viabilizar o novo modelo.
Em carta aos funcionários, o presidente-executivo do Nubank, David Vélez, afirmou que a companhia prosperou em um ambiente prioritariamente remoto nos últimos cinco anos, período em que alcançou 122 milhões de clientes. Ainda assim, segundo ele, o retorno parcial ao escritório busca fortalecer o trabalho em equipe e a interação presencial, sem abandonar a flexibilidade. “A partir de 1º de julho de 2026, planejamos trazer os Nubankers de volta ao trabalho em equipe presencial, dentro de escritórios vibrantes”, escreveu o executivo, acrescentando que a exigência começará com dois dias por semana.
Especialistas em experiência do trabalho apontam que essa transição exige mais do que mudanças físicas. A comunicação interna passa a ser central para o sucesso do modelo híbrido. Ferramentas como intranets ganham protagonismo ao integrar times presenciais e remotos, organizar fluxos de informação e sustentar a cultura organizacional em contextos de alta flexibilidade. “A intranet já foi vista por muitas gestões como um simples ‘mural de recados’. Na realidade, ela tem potencial para sustentar a cultura organizacional e evitar que a comunicação fique fraturada”, afirma Andréa Migliori.
Estudos recentes mostram que empresas que investem em plataformas digitais de comunicação interna conseguem reduzir perdas de informação e melhorar o engajamento dos funcionários. Ao mesmo tempo, esses dados ajudam as organizações a planejar melhor o uso dos escritórios, evitando espaços vazios em alguns dias e superlotados em outros. “Para quem aplica a intranet, já é possível saber quem interage, como interage e quando interage, fornecendo uma radiografia precisa para decisões sobre layout e gestão de presença”, explica a CEO da Workhub.
Para os trabalhadores, a tendência é clara: o escritório de 2026 deve ser menos um local de controle de jornada e mais um espaço de convivência, troca e construção coletiva. A flexibilidade deixa de ser exceção e passa a fazer parte da estratégia central das empresas na disputa por produtividade e talentos. “O escritório que não considerar esses dados tende a virar um lugar vazio em dias aleatórios e cheio nos mesmos horários, sem coerência com a estratégia de negócio”, conclui Migliori.

