Trump impõe recall em massa e chacoalha o serviço diplomático dos EUA

Mais de duas dúzias de diplomatas de carreira receberam aviso por telefone para deixar postos no exterior em até 30 dias; sindicato classifica ação como ‘altamente irregular’

  • Por Eliseu Caetano
  • 23/12/2025 09h30
EFE/EPA/KIYOSHI OTA / BLOOMBERG POOL Presidente dos EUA, Donald Trump, e a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi (não mostrada na foto), participam da cerimônia de assinatura de um documento sobre a implementação do acordo comercial EUA-Japão Trump impõe recall em massa e chacoalha o serviço diplomático dos EUA

O presidente Donald Trump determinou o retorno imediato de dezenas de diplomatas de carreira que atuavam no exterior, numa decisão que aprofunda o embate entre a Casa Branca e a burocracia permanente de Washington. Mais de duas dúzias de diplomatas seniores já receberam ordens diretas para deixar seus postos.

O prazo é curto e objetivo: os diplomatas devem desocupar seus cargos até 15 ou 16 de janeiro, o que equivale a cerca de 30 dias para encerrar missões, reorganizar equipes e retornar aos Estados Unidos.

Mas o que mais causou impacto interno foi a forma da comunicação. De acordo com a American Foreign Service Association (AFSA), sindicato que representa os diplomatas de carreira, muitos foram avisados por telefone, sem memorando formal ou explicações detalhadas. A entidade classificou o procedimento como “altamente irregular” e fora das práticas tradicionais do serviço diplomático americano.

A ordem atinge funcionários de carreira, não indicados políticos. São quadros que permanecem no sistema independentemente de eleições e mudanças de governo – justamente o grupo que Trump frequentemente associa ao chamado deep state, o “Estado profundo” que, em sua visão, atua como freio às diretrizes de presidentes eleitos.

A maioria dos diplomatas afetados atua em missões na África, embora também haja casos na Europa, Ásia, Oriente Médio e no Hemisfério Ocidental. O Departamento de Estado não divulgou nomes, cargos específicos nem números exatos, limitando-se a confirmar o processo.

Um funcionário sênior do Departamento afirmou à rede ABC que o recall pode ser visto como um procedimento padrão dentro de qualquer administração, ressaltando que embaixadores e chefes de missão atuam como representantes pessoais do presidente e devem defender a agenda do governo – no caso, a política de “America First”.

A reação do sindicato expõe o desconforto de uma estrutura historicamente protegida por estabilidade e normas rígidas. Já a Casa Branca, ao menos nos bastidores, sinaliza que não vê a diplomacia como um espaço neutro, mas como parte do jogo político.

O recall, portanto, vai além de uma decisão administrativa. Funciona como ato simbólico e político, desmontando cadeias de comando consolidadas e deixando claro que alinhamento com o presidente não é opcional.

Para críticos, a medida gera ruído internacional e ameaça a continuidade da política externa. Para aliados de Trump, trata-se de um reset necessário, feito antes que resistências internas se reorganizem.

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A mensagem do presidente é direta: quem representa os Estados Unidos no exterior precisa falar a língua do governo eleito. A era da diplomacia blindada contra mudanças políticas parece, ao menos por agora, ter ficado para trás.

E desta vez a ordem não veio em papel timbrado. Veio por telefone.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.