No "Saideira" desta semana, Francisco Escorsim e Paulo Polzonoff Jr. tratam de um dos temas mais inquietantes do Brasil contemporâneo: a narcocultura. Fenômeno que vai muito além do tráfico de drogas, ela se manifesta em músicas, séries, redes sociais e até na maneira como jovens e adultos entendem o sucesso, a liberdade e o poder. A conversa entre os dois colunistas da Gazeta do Povo percorre o imaginário do crime e o fascínio que ele exerce sobre a cultura popular.
Logo no início do programa, Polzonoff provoca e pergunta ao Chico como ele alicia o imaginário dos jovens para esse mundo de violência e morte. Escorsim responde com a serenidade que o caracteriza, descrevendo a narcocultura como um sistema de valores que oferece sentido a uma geração órfã de transcendência.
Estilo de vida
Os dois também discutem o papel do trap e do funk ostentação na formação desse imaginário. As letras, centradas em riqueza, vingança e prazer, expressam um ideal de sucesso muito próximo do que se exalta na elite econômica. Porque o problema talvez não seja o funk, e sim a elite cultural que o consome e o chancela, como se o crime fosse um estilo de vida.
A conversa se aprofunda quando os dois se perguntam se a direita, os intelectuais e até o jornalismo não ignoraram por tempo demais esse fenômeno. Afinal, enquanto a esquerda transformava o bandido em vítima, a direita achava que bastava ignorar o assunto. Ou então propor a pena de morte. O resultado é uma sociedade dividida: metade encantada com a bandidagem e a outra metade encantada com o uso da força para conter a criminalidade.
Tremembé
No segundo bloco, o tema muda de cenário, mas não de essência: a série "Tremembé", sucesso de público e desastre de crítica. Polzonoff confessa que tentou assistir com boa vontade, mas o resultado o desanimou. “A série é ruim de doer”, brinca. Os dois conversam sobre a falta ambição artística e a abundância de naturalismo barato.
O debate sobre a arte se entrelaça com uma homenagem involuntária a Lô Borges, músico mineiro que morreu esta semana. E de repente o cenário parece se iluminar um pouco. Afinal, por mais que os grandes artistas estejam morrendo, a arte deles permanece. E isso é o que importa.
Comentários
No bloco final, Polzonoff e Escorsim leem comentários dos leitores. Entre eles, uma bronca indignada de uma leitora que acusa Escorsim de “poetizar o bandidismo” em sua coluna sobre o Complexo do Alemão. Como será que o colunista reagiu a essa provocação? Teve também um leitor que odeia cultura e outro que mencionou o filme sobre Ney Matogrosso, gerando muitas risadas.
No fim das contas, o "Saideira" desta semana é uma aula de crítica cultural com boas risadas e reflexões incômodas. Fala de crime, mas também de beleza. De niilismo, mas também de esperança. E lembra ao público que, num país em que o bandido é pop e o herói é ridicularizado, resistir é continuar pensando.