Onda de medo: 20 mil alunos somem das escolas em Charlotte durante tensão por fiscalização migratória

Rede registra 15% de ausência em um único dia; autoridades negam ação do ICE em escolas, mas clima de pânico atinge comunidades imigrantes, incluindo famílias brasileiras

  • Por Eliseu Caetano
  • 19/11/2025 13h32
MChe Lee/Unsplash Sala de aula, escola Distrito Charlotte-Mecklenburg Schools afirma que não há confirmação do motivo específico das ausências

O distrito escolar Charlotte-Mecklenburg Schools (CMS) de Charlotte, no estado da Carolina do Norte, registrou 20.935 faltas em apenas um dia útil, segundo números oficiais divulgados pela própria rede. O volume representa aproximadamente 15% de todos os estudantes matriculados, um dos índices mais altos de ausência repentina já reportados pelo distrito.

Apesar de o CMS afirmar que não há confirmação do motivo específico dessas ausências, o episódio ocorreu no auge de operações federais de imigração em Charlotte, que já haviam provocado temor, redução na circulação de famílias imigrantes e relatos de medo generalizado em bairros mais vulneráveis. A operação conduzida pelo U.S. Customs and Border Protection (CBP) e pelo U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE), denominada “Operation Charlotte’s Web”, resultou na prisão de mais de 130 pessoas nos primeiros 48 horas em que foi executada na cidade.

Conforme as autoridades federais, esses detidos são indivíduos que estariam em situação migratória irregular — muitos com histórico criminal, incluindo acusações de agressão, posse de arma, direção alcoolizada, furto e reincidência após deportação. O estado da Carolina do Norte, liderado pelo governador Josh Stein, manifestou preocupação com os métodos adotados, afirmando que os agentes estariam atuando com carros não identificados e alvos em locais residenciais ou públicos, provocando medo generalizado nas comunidades imigrantes.

Distritos negam ação migratória em escolas

Em comunicado, o CMS garantiu que não foi informado sobre qualquer operação do ICE ou de outras agências federais dentro ou ao redor das unidades escolares. A rede reforçou que não solicita status migratório durante o processo de matrícula e que todas as crianças – independentemente da situação documental — têm direito à educação pública, conforme as leis federais dos EUA.

Ainda assim, o montante incomum de faltas ocorreu justamente enquanto agentes federais realizavam prisões em diversas áreas da cidade, segundo informações confirmadas por veículos americanos.

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Medo crescente entre imigrantes

Organizações comunitárias locais relataram que a movimentação policial elevou o clima de tensão entre famílias estrangeiras, que passaram a evitar deslocamentos, inclusive para levar crianças à escola. Relatórios anteriores já apontavam que estudantes de origem imigrante – especialmente latinos – possuem taxas mais altas de absentismo devido a inseguranças e barreiras sociais.

Charlotte e todo o condado de Mecklenburg abrigam uma comunidade brasileira crescente, presente em escolas, comércio e igrejas locais. Embora não existam números oficiais que indiquem quantos brasileiros faltaram às aulas ou quantos estão diretamente envolvidos no total de 20.935 ausências, especialistas e lideranças locais afirmam que, se as ausências foram motivadas por receio migratório entre imigrantes, é provável que famílias brasileiras também estejam entre as afetadas, já que fazem parte desse mosaico populacional.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.