Osmar Terra
(Foto: Pablo Valadares /Câmara dos Deputados)

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Médico, servidor público e deputado federal por seis mandatos, Osmar Terra se consolidou como uma figura influente da política brasileira nas últimas décadas. Natural do Rio Grande do Sul, foi secretário estadual por diferentes governos, ministro do Desenvolvimento Social no governo Michel Temer e, posteriormente, ministro da Cidadania no governo Jair Bolsonaro. Sua atuação costuma ser marcada por posições firmes em temas como segurança pública, políticas sociais, drogas, facções criminosas e política internacional, frequentemente ocupando espaço de destaque em debates que atravessam ideologia, gestão pública e enfrentamento ao crime organizado.

Conhecido pela defesa de medidas mais rígidas de combate ao narcotráfico e às facções, Terra também é uma das vozes críticas aos governos de esquerda na América Latina. Nesta entrevista exclusiva, o deputado comenta seu diagnóstico sobre a situação regional, critica a postura de governos brasileiros recentes, analisa a influência internacional na política local e discute projetos de lei relacionados à segurança pública. Ao longo da conversa, ele aborda ainda temas como o cenário eleitoral e a gestão estadual no Rio Grande do Sul.

EUA, Brasil e Venezuela

Entrelinhas: Os Estados Unidos têm cercado o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Discute-se que ele dá, ao mesmo tempo, um recado a Lula, no Brasil. Como o senhor vê esse cenário?
Osmar Terra: Trump está ganhando tempo, porque, antes de tudo, ele precisa tirar o Maduro. E o Maduro é a cabeça da cobra de todo o sistema de esquerda, narco-esquerda da América Latina. Ele tirando o Maduro, um narcoterrorista, ditador sanguinário, a conversa vai ser outra com o Lula. A saída dele muda tudo.

Entrelinhas: Parte do tarifaço imposta pelos EUA ao Brasil foi revista nesta semana por questões econômicas. Em julho, no entanto, Trump declarou que as taxações teriam motivação política. Foi uma pressão ao governo Lula?
Osmar Terra: No meu entendimento, foi uma medida unilateral do Trump. É a forma como ele pensa: é uma forma de pressão. Ele quer resolver a questão da liberdade, da democracia no Brasil, do maior líder vivo desse país poder caminhar na rua de novo, poder ser um grande candidato, se quiser.

Ele está colocando no centro da conversa a questão política. Por que o Lula não revela o que foi conversado em portas fechadas lá na Malásia? Foi isso. O Trump se identifica muito com o Bolsonaro. Ele passou por tudo o que o Bolsonaro está passando. Então, com o Bolsonaro preso, certamente isso está no centro da conversa. Poderia ser resolvido rapidamente com uma anistia.

Narcoterrorismo no Brasil

Entrelinhas: O narcotráfico já ocupa território no Brasil. Qual a dimensão desse problema?
Osmar Terra: Eu acho que são organizações terroristas que ocupam o território. Estamos perdendo soberania nacional para os traficantes. Eles mandam em 25% do território brasileiro. Uma pesquisa da Universidade de Chicago mostrou isso: 56 milhões de brasileiros vivem em territórios controlados pelo narcotráfico.

Entrelinhas: O Estado brasileiro tem meios para enfrentar essas facções?
Osmar Terra: Se um país com exército, marinha, aeronáutica, centenas de milhares de policiais não pode enfrentar o narcotráfico, é porque falta vontade. El Salvador mostrou que dá pra resolver. Em dois ou três anos, retomaram o território e acabaram com os grupos.

Entrelinhas: A equiparação de facções a terrorismo ficou de fora do PL Antifacção na versão final do relator. Guilherme Derrite, no entanto, disse que prevê uma outra legislação para garantir que esses grupos sejam intitulados como terroristas. O senhor acredita que um projeto assim seria aprovado?
Osmar Terra: Acho que se botar em votação, será aprovado. O medo do governo é que, ao classificar como terrorismo, os EUA possam tomar medidas contra o comando dessas organizações. Mas, se queremos retomar o território nacional, temos que considerar como narcoterrorismo.

Entrelinhas: Por que a esquerda resiste à tipificação do terrorismo?
Osmar Terra: Lá atrás, eles tinham medo de que isso atingisse o MST. E agora vemos o MST formando brigadas para defender o Maduro. A fronteira é muito tênue. Tem que ver como atuar na prática: se expulsa pessoas, se usa violência, se controla território.

Entrelinhas: O senhor costuma comparar episódios de depredação da esquerda com o 8 de janeiro. Qual é a sua leitura?
Osmar Terra: Eu vi tudo da janela quando era ministro. Incendiaram ministérios, depredaram prédios. O MTST entrou no Congresso com um carro. Não aconteceu nada. Dois pesos, duas medidas. Agora, com Bolsonaro e quem estava na praça, o tratamento é político.

Rio Grande do Sul

Entrelinhas: Qual é o impacto das enchentes e da crise agrícola no Rio Grande do Sul?
Osmar Terra: Gravíssimo. Agricultores se suicidando, bancos levando máquinas, o governo do estado sem ação, e o federal ignorando. Até criaram um ministério extraordinário só para repassar recursos sem passar pelo governo do estado — um zumbi político.

Entrelinhas: Como o senhor avalia o governo Eduardo Leite?
Osmar Terra: Para mim, é um dos piores governadores que nós já tivemos. Onde atua, piora. Só conseguiu colocar salários em dia por causa dos repasses extraordinários do Bolsonaro. E, mesmo assim, o estado segue entre os piores em educação, saúde e com pedágios absurdos.

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