Um cenário esculpido pela fé e pela própria serra. No alto de Grão Mogol, o Presépio Mão de Deus transforma pedra, silêncio e paisagem em devoção.
Presépio Mãos de Deus foi esculpido por artistas em cenário natural. (Foto: Paulo Henrique Silva/Prefeitura de Grão Mogol)

Ouça este conteúdo

Em Grão Mogol, no norte de Minas, o Natal não se limita ao calendário e acontece o ano inteiro. No alto da serra do Espinhaço, o presépio natural Mãos de Deus se impõe como um dos cenários mais singulares do país. Com 3,6 mil metros quadrados, o espaço abriga o maior presépio permanente a céu aberto do mundo — um conjunto que parece ter sido moldado pela própria natureza.

Inaugurado em 9 de dezembro de 2011, o presépio já recebeu mais de 100 mil visitantes e se consolidou como o principal cartão-postal de Grão Mogol, ao lado da igreja matriz de Santo Antônio, construída integralmente em pedra e tombada pelo patrimônio histórico de Minas Gerais.

A iniciativa partiu da fé e da sensibilidade do empresário Lúcio Marcos Bemquerer. Depois de anos, ele voltou à terra natal e, do quintal de uma casa centenária, enxergou o que poucos perceberam. Para ele, aquele conjunto de rochas já formava um presépio natural — "não criado por mãos humanas, mas por mãos divinas", como costumava dizer.

As esculturas do Presépio Mãos de Deus foram criadas pelos artistas Antônio da Silva Reis e Edson Novais, que transformaram pedra-sabão e cimento em imagens de força, silêncio e devoção.As esculturas do presépio Mãos de Deus foram criadas pelos artistas Antônio da Silva Reis e Edson Novais, que transformaram pedra-sabão e cimento em imagens. (Foto: Paulo Henrique Silva/Prefeitura de Grão Mogol)

Na serra do Espinhaço, presépio gigante transforma a paisagem em expressão de fé

Bemquerer adquiriu o terreno no topo da serra, implantou acessos, instalou piso e gradil. O cenário, segundo ele, já estava pronto. Faltavam apenas os personagens. As esculturas em tamanho natural completaram a cena.

Produzidas em pedra-sabão e cimento, as imagens de Maria, José, o Menino Jesus, os reis magos, São Francisco de Assis e os animais da narrativa bíblica surgem integradas à paisagem. As obras, assinadas pelos artistas mineiros Antônio da Silva Reis e Edson Novais, pesam centenas de quilos — e carregam um simbolismo ainda maior para quem visita.

O percurso até o presépio exige uma subida por rampas, que segundo os devotos, conduzem não apenas o olhar, mas também o espírito. Uma gruta remete ao nascimento de Jesus em Belém. À noite, a iluminação cênica transforma o espaço em um espetáculo de fé. Do alto da serra, a paisagem recompensa. O visitante avista o casario histórico, as ruas de pedra e o curso do rio Itacambiruçu, afluente do Jequitinhonha.

À noite, a serra muda de tom. A iluminação cênica revela o Presépio Mãos de Deus, destacando as esculturas entre as rochas.A iluminação cênica revela o presépio Mãos de Deus, destacando as esculturas entre as rochas. (Foto: Marina Fróes/Prefeitura de Grão Mogol)

Grão Mogol é conhecida como a cidade das pedras

Fundada no fim do século XVII, a partir da exploração de diamantes, Grão Mogol se tornou um novo ponto turístico em Minas Gerais, sem perder a essência. O município investe no ecoturismo, com trilhas, cachoeiras e cicloturismo no parque estadual, e também no enoturismo, com a vinícola Vale do Gongo, que já produz uvas Merlot de destaque.

Outro patrimônio emblemático da cidade passa por renovação. A igreja matriz de Santo Antônio, erguida na segunda metade do século XIX por escravos, recebe uma restauração de R$ 1 milhão. As obras recuperam telhado, piso original e altares, preservando um dos templos mais expressivos do interior mineiro.

"O presépio natural Mão de Deus é um dos principais atrativos turísticos da cidade de Grão Mogol e de certa forma sintetiza essa mescla de natureza e cultura, de natureza e religiosidade. Ele expressa toda a religiosidade do povo mineiro, nessa cidade que é mais do que qualquer outra, um grande presépio que ornamenta a cordilheira do Espinhaço", afirma o secretário de Turismo de Grão Mogol, Italo Mendes.

VEJA TAMBÉM: