O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, em encontro em Caracas em novembro de 2022 (Foto: Miguel Gutiérrez/EFE)

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No último dia 10, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que, após o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro – que, segundo ele, está com os dias “contados” –, o mandatário da Colômbia, Gustavo Petro, “será o próximo” alvo das ações americanas contra o narcotráfico na América Latina.

Petro entrou na mira da Casa Branca depois de ter criticado a operação militar dos EUA que visa embarcações supostamente ligadas ao tráfico de drogas em águas internacionais no Mar do Caribe, perto da Venezuela, e que depois se espalhou para o Oceano Pacífico, próximo da Colômbia.

Com Trump prometendo realizar em breve ações por terra na Venezuela, Petro vê a pressão aumentar também sobre ele, já que partes do modus operandi que mira o chavismo estão sendo repetidas na Colômbia, embora haja diferenças importantes.

Um ponto semelhante é que no último dia 16 o governo Trump designou o colombiano Clan del Golfo como uma organização terrorista, classificação que os Estados Unidos utilizaram para justificar bombardeios a embarcações que supostamente seriam de gangues venezuelanas.

Este ano, os EUA designaram o Tren de Aragua e o Cartel de Los Soles, que a Casa Branca diz terem vínculos com Maduro, como grupos terroristas.

Em gestões anteriores, o governo dos Estados Unidos já havia aplicado essa classificação a grupos colombianos, como as dissidências das Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Outra semelhança nas ofensivas contra Maduro e Petro são as sanções contra os dois líderes e seus familiares.

O ditador venezuelano, sua esposa, Cilia Flores, o filho de Maduro, Nicolás Maduro Guerra, os três filhos da mulher do líder chavista e outros parentes do casal foram incluídos na lista de sanções econômicas do Departamento do Tesouro.

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Em outubro, Petro, sua esposa, Veronica del Socorro Alcocer Garcia, o filho mais velho dele e um ministro do seu governo se tornaram alvos da mesma medida, sob a justificativa do governo Trump de que o mandatário esquerdista permitiu que cartéis de drogas “florescessem” na Colômbia durante seu mandato.

Antes, em setembro, o Departamento de Estado americano já havia cancelado o visto do presidente colombiano, após ele participar de um protesto pró-Palestina em Nova York no qual “instou os soldados americanos a desobedecerem a ordens e incitarem à violência”.

Outro fator parecido é que os Estados Unidos, que há anos impõem sanções à Venezuela, retiraram este ano a ajuda à Colômbia.

Porém, apesar dessas semelhanças preocuparem Petro, diferenças significativas permitem projetar que o presidente colombiano não será alvo de medidas americanas na mesma escala que o ditador venezuelano.

Para começar, Petro por ora não é acusado formalmente pelos Estados Unidos de crimes. Embora Trump tenha chamado Petro de “traficante” este ano, não há notícia de processos na Justiça americana contra o presidente colombiano, ao contrário de Maduro.

Um tribunal federal de Nova York indiciou o chavista por acusações de narcoterrorismo, conspiração para levar cocaína para os Estados Unidos, posse de metralhadoras e dispositivos destrutivos e conspiração para posse de metralhadoras e dispositivos destrutivos.

Com base nesse indiciamento, os Estados Unidos ofereceram em 2020, na primeira gestão Trump, uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levassem à prisão e/ou condenação de Maduro.

Em 10 de janeiro deste ano, ainda no governo Joe Biden, a oferta foi aumentada para US$ 25 milhões. Por fim, em agosto, o valor oferecido subiu para US$ 50 milhões.

“Maduro usa organizações terroristas estrangeiras como Tren de Aragua, [Cartel de] Sinaloa e Cartel de Los Soles para trazer drogas letais e violência para o nosso país”, disse a procuradora-geral Pam Bondi, ao anunciar o novo valor.

Outros pontos que contam a favor de Petro é que, ao contrário de Maduro, ele foi eleito democraticamente e não tem manifestado intenção de se perpetuar no poder.

Em 2026, haverá eleição presidencial na Colômbia e o esquerdista não poderá concorrer porque a legislação local não permite mandatos presidenciais consecutivos. O senador Iván Cepeda será o candidato do partido de Petro, o Pacto Histórico, no pleito do ano que vem.

Maduro, por sua vez, após assumir o governo da Venezuela em 2013, se manteve no cargo por meio de eleições questionadas e não tem indicado que deixará o poder, mesmo diante das ameaças americanas de intervenção.

Essas diferenças dão um certo alívio a Petro – mas ele deve “ficar esperto”, como o próprio Trump advertiu.

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