Quando a narrativa precisa de um patrocinador
Então, a pergunta surge: quem está pagando o jantar?
Juliana Leite - 22/12/2025 09h53

Eles tentam sempre o mesmo truque antigo: deslocar o foco. Quando a liquidação do Banco Master ameaça expor decisões técnicas incômodas e interesses mal explicados, a narrativa passa a ser reescrita como um romance policial de quinta categoria, em que o Banco Central vira vilão apressado e há sempre um “peixe grande” invisível puxando os fios por trás da cortina. Nada é assumido de frente; tudo é sugerido com a elegância torta de quem prefere a insinuação ao fato, porque a insinuação contamina mais e exige menos provas.
O curioso é como essa nova versão começa a circular de forma sincronizada, quase coreografada. As mesmas frases, os mesmos enquadramentos, a mesma tentativa de transformar uma decisão regulatória em conspiração política.
Não afirmo nada — limito-me a observar —, mas quando vozes que se dizem independentes passam a falar em uníssono, a pergunta deixa de ser ideológica e passa a ser banal: quem está pagando o jantar? No Brasil, a espontaneidade costuma ter CNPJ, e a indignação súbita raramente é gratuita.
O que incomoda, no fundo, não é o debate sobre a liquidação em si, mas a pressa em fabricar culpados convenientes para poupar outros mais óbvios. Atacar o Banco Central é fácil, rende cliques e preserva relações. Questionar interesses privados, financiamentos cruzados e a súbita militância de certos influenciadores é mais arriscado. Por isso, tudo fica no terreno do “parece”, do “há indícios”, do “dizem por aí”.
E assim seguimos: não em busca da verdade, mas da versão mais bem paga.
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Juliana Moreira Leite é jornalista especialista em cultura, escritora e curiosa. Nesse espaço vai falar sobre assuntos da atualidades sob a sua visão. |
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