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O Ministério Público de Milão, no norte da Itália, confirmou nesta semana que está investigando supostas viagens de cidadãos italianos para atirar em pessoas sitiadas em Sarajevo entre 1992 e 1996.
A investigação teve origem em uma denúncia apresentada pelo escritor Ezio Gavazzeni e pelos advogados Nicola Brigida e Guido Salvini.
“A documentação inclui as provas que permitiram a abertura desta investigação e revela que cidadãos italianos viajaram para Sarajevo, passando por Trieste, para matar pessoas sitiadas”, explicou Brigida em entrevista à agência EFE, em Roma.
A denúncia, assim como a investigação do Ministério Público, não cita nomes, mas se concentra em expor essas viagens com documentos que supostamente comprovam sua organização, além de depoimentos de soldados e informações de serviços de inteligência, esclareceu o advogado.
Nesta quarta-feira (12), um ex-general de brigada e agente de inteligência bósnio, Edin Subasic, confirmou à emissora regional N1 que italianos ricos participaram de caçadas humanas em Sarajevo.
“O aspecto mais macabro do ‘safári de Sarajevo’ era que havia um valor fixo que um caçador de fim de semana tinha que pagar aos membros do Exército da República Sérvia [combatentes sérvio-bósnios] em Grbavica [bairro de Sarajevo] para atirar em civis: adultos, mulheres, crianças, grávidas, soldados”, afirmou Subasic.
Esses “turistas” pagariam o equivalente a até 100 mil euros para milícias sérvio-bósnias para atirar em pessoas inocentes, segundo as denúncias.
As forças sérvio-bósnias, denunciadas por vários crimes de guerra durante a Guerra da Bósnia, tinham o objetivo de conquistar território bósnio para atender aos interesses de Slobodan Milosevic de formar uma “Grande Sérvia”, impedindo a independência da Bósnia e Herzegovina (que havia sido declarada em 1992, no contexto do esfacelamento da antiga Iugoslávia), que tem Sarajevo como capital.
Subasic lembrou que a realização das viagens para atirar em civis já havia sido abordada publicamente em “Sarajevo Safari”, um documentário do diretor esloveno Miran Zupancic, lançado em 2022.
Subasic afirmou que alguns dos participantes desses supostos safáris já morreram, mas que os mais jovens “ainda estão ao alcance da Justiça”.
O ex-militar afirmou que a Justiça bósnia abriu um processo sobre o assunto após uma denúncia apresentada por Benjamina Karic, que foi prefeita de Sarajevo entre 2021 e 2024.
O crime em análise pelo Ministério Público de Milão é homicídio múltiplo com os agravantes de “motivos abjetos” e “crueldade”, o que significa que esses atos não estão sujeitos a prescrição.
Durante o cerco, que deixou mais de 10 mil mortos, Sarajevo foi alvo de bombardeios constantes e tiros de franco-atiradores vindos de posições sérvio-bósnias nas colinas ao redor da cidade, de onde os participantes do “safári humano” efetuavam os disparos.
O cerco terminou oficialmente em fevereiro de 1996, com a retirada das tropas sérvio-bósnias após a assinatura do acordo de paz em dezembro de 1995 que pôs fim à guerra.
Conteúdo editado por: Fábio Galão


