PRISÃO BOLSONARO
Prisão de Bolsonaro: festa sádica e deprimente. (Foto: EFE/ Andre Borges)

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O ex-presidente Jair Bolsonaro foi preso. Não na Papuda, como queriam e querem alguns, e sim na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Sobre esse fato, esse momento histórico e deprimente, o que escrever? Que é um absurdo? Que Alexandre de Moraes é um louco consumido pelo desejo de vingança? Que as instituições foram pervertidas para legitimar o que é barbárie, impulso, instinto e crueldade?

Tudo isso já foi dito e repetido. Sem maiores consequências. Alexandre de Moraes continua inebriado pelo próprio poder – e isso não vai mudar. Bolsonaro e os bolsonaristas vão continuar sofrendo revezes, tanto pelo que fizeram e não fizeram, quanto pelo que deveriam ou não ter feito. E a esquerda continuará tripudiando sobre o sofrimento alheio, se esbaldando nos abusos e ilegalidades, se entorpecendo de mentiras e se divertindo no parque de diversões das pequenas perversidades.

Existência insuportável

É uma festa sádica, essa da prisão de Bolsonaro. Quem for capaz de suportar a repulsa de ver tanta gente expondo o caráter putrefato, porém, vai conseguir aprender um pouco sobre a sociedade em que vivemos – e sobre si mesmo. Sobre as justificativas que inventamos para corroborar a perseguição a um homem específico, acusado de ser o responsável por tudo de ruim que aconteceu nos últimos anos, das mortes pela pandemia à volta de Lula ao poder. Ora, se até vigília de oração foi criminalizada...!

Não por acaso, o que se viu nas redes sociais neste fim de semana foi um espetáculo de expectativas frustradas e de demonstrações desavergonhadas de superioridade intelectual e moral sobre alguém cuja própria existência se tornou, para alguns, insuportável. Indesejável. Não sei como você chama isso, mas eu chamo de covardia. É chutar cachorro morto e ainda se vangloriar disso. Acredite: por mais livros que você tenha lido, por mais rico que você seja, por mais decisões acertadas que você tenha tomado na vida, dificilmente você é muito melhor do que Bolsonaro. (Tampouco sou).

Para além dos efeitos imediatos

Como se a prisão de Bolsonaro fosse tornar alguém feliz. Não vai. Nem o Alexandre de Moraes, que todo mundo sabe que trocou qualquer esperança de felicidade pela promessa de poder. Como se a prisão de Bolsonaro fosse uma vitória da Justiça. Não é e te digo mais: daqui a alguns anos isso aí vai dar uma ressaca danada. Como se a prisão de Bolsonaro devolvesse ao brasileiro a dignidade da qual ele abdicou e abdica sempre que troca a verdade por uma mentira conveniente.

Para além dos efeitos imediatos, que vão desde a depressão em massa até a descrença na democracia, a prisão de Bolsonaro aumentará o tribalismo, acabará com qualquer resquício de racionalidade, poluirá ainda mais o debate público, nublará a busca pela verdade e instaurará um regime que se apoiará no medo para manter passivos os escravos, voluntários ou não, da política. Até que tenha início outro ciclo de vingança e ressentimento.

Para quem está feliz e quem está triste

Para quem se diz feliz com a prisão do Bolsonaro, meus pêsames. Porque já morreu por dentro quem condiciona a felicidade à desgraça alheia. Sei disso por experiência própria. Aliás, sabemos. Afinal, a desgraça do Lula nos áureos tempos da Lava Jato iludiu muita gente com essa ideia falsa de felicidade aí. De finalmente-nos-livramos-dessa-praga. De agora-vai. Fica, pois, a lição aos que hoje soltam fogos de artifício: a felicidade nunca pode estar condicionada à queda dos nossos inimigos. Felicidade é outra coisa.

Para quem está triste, sei que é difícil, mas vale a pena ver essa prisão, essa perseguição, essa humilhação e essa tortura como oportunidades de aprendizado. É que a gente tende a depositar esperanças demais em homens imperfeitos e falhos que, explícita ou veladamente, passam a acreditar e a vender a ideia de que têm a solução para todos os problemas. Só quando voltarmos a ver os líderes políticos pelo que eles são – homens imperfeitos e falhos – é que poderemos nos resignar e até perdoar, quando for o caso. E, assim, encontrar alguma paz.