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Em 2018, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu o caso Murphy vs. National Collegiate Athletic Association (NCAA) — associação que regula o esporte universitário no país. Em decisão dividida, liderada por uma maioria conservadora, o tribunal considerou inconstitucional a Lei de Proteção ao Esporte Profissional e Amador, de 1992, sancionada nos últimos meses do governo George H. W. Bush.
O efeito prático da decisão foi imediato: as apostas esportivas, que antes eram legalmente permitidas apenas nos cassinos do estado de Nevada, se espalharam rapidamente pelo país. Poucas semanas depois, Delaware tornou-se o primeiro estado — além de Nevada — a legalizar as apostas esportivas. Hoje, elas são permitidas em 39 estados, além de Washington, D.C. A mudança é visível: tornou-se quase impossível assistir a uma partida de futebol americano ou navegar pelas redes sociais sem ser bombardeado pelos anúncios sedutores da indústria de apostas.
Assim como o controverso experimento social envolvendo a legalização da maconha para uso recreativo — inaugurado pelo Colorado em 2012 —, a legalização das apostas esportivas nos EUA tampouco tem apresentado bons resultados. Ao contrário, tem sido desastrosa para o tecido moral do país e para as legiões de jovens financeiramente vulneráveis que sucumbem às tentações do setor.
Muitos celebraram a decisão no caso Murphy como um triunfo do federalismo constitucional e do princípio do livre mercado. Mas a liberdade ordenada, quando bem compreendida, não admite condescendência com o vício. As apostas esportivas legalizadas não fortaleceram a ordem cívica americana; ao contrário, corroeram-na. As consequências são morais e financeiras, especialmente entre os jovens. Com a popularização das apostas online e via celular, o “cassino” deixou de ser um local distante e passou a caber no bolso de qualquer um.
Segundo um estudo que analisou o comportamento de 7 milhões de adultos, os estados que legalizaram as apostas esportivas online registraram aumento de 25% a 30% nos pedidos de falência e alta de 8% nas dívidas enviadas a cobrança, em comparação com estados sem acesso facilitado às apostas. Outro levantamento mostrou que um em cada quatro apostadores declarou ter atrasado o pagamento de contas por causa do jogo, e 30% afirmaram ter dívidas diretamente ligadas às apostas esportivas. Mais da metade dos entrevistados disse carregar saldo devedor no cartão de crédito mês após mês.
E a lista não para aí.
O custo humano é alarmante. Inúmeros jovens — já desanimados e cada vez mais distantes da fé, da família e da comunidade — permanecem grudados ao celular, obcecados por estatísticas e linhas de apostas. Eventos esportivos que deveriam promover união, como o Super Bowl ou o March Madness (campeonato universitário de basquete), foram deturpados e transformados em veículos de vício. As transmissões são permeadas por odds e prognósticos; comentaristas da ESPN frequentemente soam mais como apresentadores de cassino do que como analistas esportivos.
Um passatempo nacional querido, que antes reforçava a coesão cívica e oferecia um escape saudável, tornou-se mais um ambiente de consumo isolado e degradante. Pior ainda: a integridade do esporte foi comprometida, como indicam recentes casos judiciais envolvendo a NBA (liga profissional de basquete) e a MLB (liga de beisebol).
Os defensores da legalização evocam frequentemente a “escolha pessoal”. Mas nem todas as escolhas são inocentes. Assim como regulamentamos narcóticos e pornografia, temos o direito — e o dever — de restringir formas de entretenimento que exploram os vulneráveis. Uma cultura que se contenta em “deixar as pessoas fazerem o que quiserem” não consegue sustentar a autogovernança republicana de uma geração à outra.
Há também impactos econômicos mais amplos. Outro estudo constatou que famílias residentes em estados com apostas esportivas legalizadas investem quase 14% menos do que famílias em estados sem esse tipo de legislação. Dinheiro que poderia ser destinado à aposentadoria, a pequenos negócios, ao financiamento imobiliário ou a outras atividades produtivas é, em vez disso, arriscado e perdido em apostas. Para millennials e jovens da Geração Z, já pressionados economicamente, o sonho americano tem sido hipotecado pela adrenalina de um lance.
Deveria ser evidente que mercados existem para servir às pessoas — não o contrário. Legislativos estaduais precisam reconsiderar sua adesão precipitada à legalização das apostas. Líderes religiosos e comunitários devem falar com clareza sobre os custos dessa nova contaminação social. Pais precisam alertar seus filhos de que o “cassino digital” não é um aplicativo inofensivo, mas uma armadilha espiritual e financeira.
Earl Warren, ex-presidente da Suprema Corte dos EUA, disse certo dia sobre seus hábitos de leitura: “Sempre leio primeiro a seção de esportes. A página de esportes registra conquistas humanas; a primeira página registra apenas fracassos”. Ele estava certo — e talvez seja a única vez em que concordo com Warren. Em uma cultura saudável, o esporte eleva. Celebra a excelência humana e fortalece vínculos sociais. Em uma cultura doente, torna-se mais um instrumento do vício.
Precisamos ter coragem de dizer basta. As consequências sociais são muito maiores do que qualquer diferença de pontos. É hora de parar as apostas.
Josh Hammer é editor sênior da Newsweek, apresentador do programa "The Josh Hammer Show", consultor sênior do Projeto Artigo III e pesquisador da Fundação Edmund Burke. Seu primeiro livro é Israel and Civilization: The Fate of the Jewish Nation and the Destiny of the West (Israel e a Civilização: O Destino da Nação Judaica e o Destino do Ocidente).
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Copyright 2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: The Next Social Epidemic Is Already Here: Legalized Sports Gambling