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Faltou água nos banheiros da COP 30. O evento internacional, criado para reunir chefes de Estado e discutir o clima, não tinha água para dar descarga. Ou seja, os chefes de Estado chegavam aos tronos e contemplavam as obras de arte de outros chefes de Estado — e o quanto estavam preocupados com o clima.
O acareamento entre criador e criatura, homem e obra, o último adeus antes de despachar os amigos do interior para o rio (Amazonas?), foi o retrato perfeito da COP 30. Aliás, a COP 30 foi o retrato perfeito de todas as outras COPs. Você pegou o substantivo.
O timing da COP 30 não poderia ser mais perfeito: Bill Gates, o bilionário obcecado com o aquecimento global (depois renomeado “mudanças climáticas”, para disfarçar que o clima não está esquentando como ele acusava), admitiu, dias antes, que a causa climática é bem menos apocalíptica do que ele papagueou neuroticamente nos últimos 30 anos.
Em vez de se preocupar em fazer o Windows parar de travar a cada cinco minutos, confessou que não vamos morrer de “mudanças climáticas” (é interessante quando um bilionário descobre que a água é molhada) e que os recursos destinados a essa conversinha verde servem para quase qualquer coisa — exceto deixar uma árvore no lugar.
Também foi duas semanas após a mega Operação Contenção — que resultou em 121 mortes, sendo quatro delas de policiais, e 117 das quais só a Rede Globo lamenta —, operação que assustou qualquer turista que venha ao Brasil sem estar armado até os dentes, como só é permitido a chefões do tráfico, políticos e juízes desarmamentistas. Para quem sabe a diferença.
Depois do timing, ainda houve o desfile de lambanças. Uma estrada criada para a COP (quem se lembra dos estádios do Acre e de Brasília, criados apenas e tão somente para a Copa do Mundo?) derrubou 10 mil árvores para que ativistas climáticos enchessem a nossa paciência. Chuva que molhou (e não foi pouco) a área de imprensa. Festival de atores vestidos como animais, com roupas recicláveis, que faz a Carreta Furacão parecer cinema IMAX (se a ideia é mostrar o artesanato local, seria melhor criar uma cultura mais apresentável para exibir à gringaiada).
Hotéis de gosto duvidoso cobravam valores de suítes presidenciais em Dubai. Lula e Janja estavam em um iate que consome 150 litros de diesel por hora, enquanto Janja falava em “pobreza climática” e alguns discutiam o “racismo ambiental”, na velha arte esquerdista de reunir duas palavras que não fazem o menor sentido juntas. Duas coxinhas com refrigerante por R$ 90. Janja ainda zombando dos repórteres por isso. Janja (já pode pedir música no Fantástico?) organizou um coquetel para reunir lideranças mundiais — e ninguém apareceu (Lula também parece ter dado o cano).
E até as prostitutas de Belém reclamaram dos gringos querendo pechinchar, alegando que se esforçaram e aprenderam inglês para se comunicar na COP 30. E faltou água nos banheiros para dar descarga.
As COPs costumavam reunir mais de 100 líderes mundiais. “Líder mundial” dá a impressão de falarmos de Neymar, Cristiano Ronaldo, Max Verstappen, Elon Musk e alguns prêmios Nobel de Literatura e Física, discutindo algo mais elevado do que a programação daqueles programas maçantes de jornalistas falando de Bolsonaro o dia inteiro enquanto mexem no celular.
Mas não. “Líderes mundiais” é só um cacoete chumbrega da velha mídia para não dizer “alguns presidentes e uma renca de ditadores genocidas, assassinos, psicopatas e tarados fingindo que são todos amigos muito preocupados com a situação das girafas na Amazônia e dos ursos polares no Pantanal, enquanto faturam uma nota furiosa arrancando dinheiro da população e transferindo-o para os próprios bolsos e para os dos bilionários amiguinhos operando com fundos de impostos verdes sobre a população” (pronuncia-se melhor sem pausa para respirar).
Ou seja, a única boa notícia da COP 30 é que pouca gente veio. Os líderes mundiais estão se importando menos com o clima do que na era pré-Trump, quando esses chongos falavam em “energia verde” antes de perceber que ficariam dependentes do gás da Rússia de Putin, tornando-se submissos ao ditador contra o qual torram uma fortuna e centenas de milhares de vidas na Ucrânia. Tal como o que fazem nos banheiros.
Nem Greta veio — ocupada que estava em se tornar um garoto inspirado no He-Man e chegar com uma flotilha na direção de Gaza, sem nunca ameaçar sair do barco (ou chegar, de fato, a Gaza) com um único hambúrguer vegano como mantimento a ser distribuído. Leonardo DiCaprio também parece ter encontrado lugares melhores para viajar com seu jatinho torrador de combustível fóssil. Não teve show gratuito do Coldplay, e o público teve de se contentar com Fafá de Belém. Afinal, estavam em Belém. Ou seja, não teve público.
Sobrou Marina Silva — para quem souber traduzi-la para alguma língua cognoscível. Mas Marina Silva falando sobre meio ambiente em Belém e nada dá no mesmo. Algum dia, talvez, ela tenha uma explicação interessante para ter ficado em terceiro lugar nas eleições no Acre, em sua primeira tentativa presidencial, e também por que permaneceu no PT mesmo depois do mensalão.
Também sobrou Sônia Guajajara — de quem ninguém no Brasil se lembra que é ministra do governo Lula. Duvido que Lula se lembre. Sônia, na verdade, se chama Sônia de Sousa Silva Santos, mas nossa Silva Santos parece remeter mais a um camelô que ficou bilionário do que a uma líder indígena.
Na verdade, é difícil dizer o que Guajajara “lidera”. Sua Wikipédia alega que “em 2023 foi apontada como uma das 100 mulheres mais inspiradoras do mundo pela BBC”. Gostaria de conhecer um único ser humano no planeta inspirado por Sônia Guajajara. Ou melhor: não gostaria, não.
O banheiro sem descarga da COP 30 foi a imagem viva e fluida do que as pessoas, de fato, pensam sobre o clima
Não vivemos em um país fácil, nem em uma época fácil. Quem usa o sistema operacional do Bill Gates também não tem um software fácil.
Saia da COP 30 e dê uma volta por Belém. Ouça a preocupação dos seres vivos que não são “líderes mundiais”: falta de saneamento básico, inflação, drogas, funk, falta de hospital, menina de 12 anos grávida do chefe do Comando Vermelho local, filho da empregada pagando faculdade para o playboy com boné do MST.
Ninguém — absolutamente ninguém — tem como dificuldade na vida o aquecimento global. Se ninguém ligar a TV a cabo, ninguém descobre que rico acredita nisso. O aquecimento global, a idolatria da natureza como um deus irado exigindo sacrifícios em meio à dança da chuva de Janja e Fafá, é apenas a boa e velha macumba de rico.
É muito mais fácil encontrar um crente em “mudanças climáticas” na Vila Madalena — cujo único conhecimento sobre mato é controlado pelo Comando Vermelho — do que entre os índios e o agronegócio, aquele que Lula chama de fascista.
Talvez, quando as pessoas tiverem seus jatinhos particulares a combustível fóssil, passem a se preocupar mais com o aquecimento global.
