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O Comando Vermelho (CV) está envolvido em todos os confrontos de grupos criminosos no Brasil, segundo a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). De acordo com o coordenador-geral de Análise de Conjuntura Nacional da Abin Pedro de Souza Mesquita, não existe uma guerra de facção sem o CV.
“A gente tem confronto de grupos organizados no Brasil e todos eles envolvem o Comando Vermelho. Não há confronto de organizações criminosas hoje que não envolva o CV”, afirmou.
A análise foi apresentada nesta quinta-feira (6) durante audiência na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional.
Expansão
Segundo a Abin, o processo de expansão do Comando Vermelho teve início em 2013 e se consolidou em 2024, tornando-se um dos principais desafios à segurança nacional.
Mesquita destacou que o grupo se espalhou por quase todos os estados brasileiros, com exceção de Roraima e Amapá, no Norte, mas alcançando também Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Paraná.
UPPs provocaram dispersão
De acordo com a Abin, a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro foi o ponto de partida para a expansão nacional do CV.
“A fagulha desse processo é uma externalidade negativa do próprio projeto de UPP”, declarou Mesquita.
A presença policial forçou líderes do Comando Vermelho a migrarem para outros estados, como Tocantins, Pará, Rondônia e Santa Catarina, espalhando a rede criminosa pelo país.
Estratégia de expansão
O crescimento do CV foi impulsionado por alianças estratégicas com facções regionais e pela oferta de logística para o tráfico de drogas e armas.
“O CV começou a oferecer acesso logístico a armas e drogas, com uma cadeia de comando mais descentralizada que a do PCC. Assim, a organização se proliferou rapidamente”, explicou Mesquita.
Com estrutura descentralizada e o apoio operacional, fortaleceu presença em territórios antes dominados por grupos locais e até do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Disputa com o PCC e avanço internacional
Enquanto o Comando Vermelho se consolidou no território nacional, o PCC concentrou esforços na expansão internacional.
Segundo a Abin, o PCC iniciou sua atuação fora do Brasil em 2016 e, dois anos depois, já estava presente em 11 países.
Hoje, segundo Mesquita, o grupo atua em 28 países e possui mais de dois mil integrantes, sendo considerado “a principal ameaça à estabilidade do Brasil no cenário internacional”.
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Crescimento do Terceiro Comando Puro (TCP)
Relatórios recentes da Abin mostram que o Terceiro Comando Puro (TCP) também vem expandindo sua presença.
Atualmente, o grupo atua em nove estados além do Rio de Janeiro, incluindo Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre e Mato Grosso do Sul.
O TCP passou a disputar territórios com o Comando Vermelho, oferecendo estrutura semelhante de fornecimento de armas e drogas, além de abrigo em comunidades sob seu domínio.
“Ele foi ocupando, mas em vez de oferecer resistência ao PCC, oferece resistência ao CV”, explicou Mesquita.
Abin alerta para ameaça à segurança nacional
O diretor de inteligência interna da Abin, Esaú Feitosa, destacou que o avanço dessas facções já ultrapassou o campo das forças policiais.
“O crime deixou há muito tempo de ser um problema somente policial. A compreensão de como essa ameaça intervém na estabilidade do Estado perpassa quaisquer tipos de abordagens”, afirmou.
A agência avalia que o avanço simultâneo de CV e TCP acende um sinal de alerta nacional, espalhando a lógica dos confrontos violentos do Rio de Janeiro para outras regiões do país.
Governo do Rio contesta relação direta entre UPPs e expansão do CV
O governo do Rio de Janeiro rebateu a tese de que o projeto das UPPs tenha sido o principal responsável pela expansão do Comando Vermelho.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública reconheceu que o programa falhou na integração com políticas sociais, o que dificultou sua sustentabilidade, mas destacou que o fenômeno teve múltiplas causas.
“A pressão sobre os territórios controlados pelo tráfico levou muitos criminosos a se deslocarem para outros estados, contribuindo para o avanço da facção”, declarou a pasta, segundo a Agência Brasil.
O governo fluminense defendeu uma ação coordenada entre os governos federal, estadual e municipal para conter o avanço do narcotráfico e restaurar a segurança pública.