Exclusivo: Saiba detalhes da conversa entre Rubio e Umerov e os bastidores da negociação que pode encerrar a guerra
Documentos e relatos aos quais a coluna teve acesso mostram que EUA articulam, longe dos holofotes, acordo que envolve cessar-fogo, garantias de segurança permanentes e reconstrução econômica; próxima etapa envolve Moscou
A coluna teve acesso ao conteúdo central da conversa realizada em Hallandale, na Flórida, entre o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, e o secretário do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia, Rustem Umerov. O encontro, realizado sem transmissão e com apenas um resumo público superficial, tratou de pontos decisivos do que Washington e Kiev consideram a fase mais sensível das negociações para encerrar a guerra.
O que se discutiu ali vai muito além do que foi dito aos jornalistas. Segundo documentos e relatos obtidos com exclusividade, Rubio e Umerov trabalharam em torno de três pilares: a estrutura de um possível cessar-fogo, as garantias permanentes de segurança para impedir futuras invasões e um plano de reconstrução nacional capaz de reposicionar a Ucrânia em um cenário pós-conflito.
Essa reunião segue o fluxo criado em Genebra e aprofundado ao longo da última semana em trocas reservadas entre Washington, Kiev e intermediários escolhidos pela Casa Branca. Trata-se de uma construção silenciosa, conduzida com extremo cuidado, e que já entra formalmente na categoria de “negociação paralela”, como confirmaram fontes americanas e ucranianas.
Nos trechos da conversa aos quais a coluna teve acesso, Rubio foi categórico: os Estados Unidos não querem apenas encerrar a guerra; querem impedir a próxima. Ele falou em “segurança permanente”, “prosperidade duradoura” e num modelo de reconstrução que permitiria à Ucrânia surgir do conflito mais forte do que antes — um objetivo ambicioso, mas que faz parte da lógica estratégica americana neste momento.
A visão de Washington é que a guerra só terminará de forma estável se houver um pacote completo: estabilidade militar, reformas internas, integração econômica e garantias multilaterais de segurança. Umerov reforçou a importância do apoio americano e agradeceu diretamente Rubio, Steve Witkoff e Jared Kushner. Em documentos aos quais a coluna teve acesso, ele declarou que esta rodada representa “a melhor oportunidade em meses para consolidar independência e estabilidade”.
A parte mais sensível da conversa envolve a Rússia. Rubio admitiu, fora das câmeras, que os emissários americanos mantêm diálogo ativo com representantes de Moscou. Disse também que Witkoff viajará a Moscou ainda nesta semana para avançar nos pontos mais difíceis – incluindo territórios, forças de ocupação e mecanismos de verificação internacional. Essa etapa é considerada a mais delicada de todo o processo. Mesmo assim, fontes familiarizadas com as discussões afirmam que existe “mínimo terreno comum” suficiente para permitir o avanço da rodada.
Ao final da reunião, Rubio e Umerov concluíram que houve progresso real, mas que a negociação segue complexa e sujeita a mudanças rápidas. Os próximos dias devem ser cruciais, especialmente diante da expectativa quanto à resposta inicial da Rússia às propostas apresentadas. O encontro de Hallandale se consolida como o ponto mais claro, até agora, de que há um esforço efetivo nos bastidores para costurar um acordo abrangente. Um acordo que não é apenas sobre o fim da guerra, mas sobre o formato do país que surgirá depois dela.
A reunião entre Rubio e Umerov vai muito além da diplomacia tradicional. Há um componente que precisa ser entendido com clareza: os Estados Unidos estão assumindo, na prática, a liderança total do esforço para redesenhar o futuro da Ucrânia. Essa postura tem implicações diretas.
Em primeiro lugar, evidencia que Kiev hoje não negocia mais sozinha. As decisões estratégicas, especialmente as que envolvem segurança e reconstrução, passam necessariamente por Washington. A presença de figuras como Steve Witkoff e Jared Kushner, nomes que não fazem parte da diplomacia formal, indica o uso de canais paralelos que permitem à Casa Branca agir com mais liberdade – e menos transparência.
Em segundo lugar, a viagem de Witkoff a Moscou mostra que os EUA decidiram centralizar a interlocução com a Rússia. É um movimento ousado, que retira da Europa parte do protagonismo e coloca a resolução do conflito diretamente nas mãos da diplomacia americana. Isso pode gerar atritos com aliados europeus, que já vinham expressando desconforto com decisões tomadas sem consulta plena.
Em terceiro lugar, a ideia de “segurança permanente” para a Ucrânia implica compromissos que podem levar a um reposicionamento estratégico de longo prazo. Nada disso é simples, e todos os passos desse processo caminham sobre terreno político sensível. A Rússia não aceitará facilmente condições impostas unilateralmente, e a Ucrânia não aceitará concessões que comprometam sua integridade territorial.
Por fim, há a questão central: mesmo com toda a articulação americana, o conflito só terminará se Moscou enxergar vantagem no acordo. É nesse ponto que reside o risco. Qualquer sinal de retrocesso russo pode comprometer toda a estrutura construída até agora. A negociação avança, mas avança sobre uma linha extremamente fina. E o desfecho ainda está longe de ser garantido.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

