Greve petroleiros
Paralisação por tempo indeterminado atinge refinarias e outras unidades, mas não afeta distribuição de combustíveis. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Os trabalhadores da Petrobras iniciaram uma greve por tempo indeterminado nesta segunda (15) em protesto contra a proposta apresentada pela estatal nas negociações do Acordo Coletivo de Trabalho. A paralisação foi aprovada na sexta-feira (12) e envolve sindicatos de todo o país, mas sem afetar – em princípio – o fornecimento de combustíveis.

A decretação da greve ocorre num momento em que a estatal pagou R$ 37 bilhões em dividendos aos acionistas, mas propôs um reajuste de apenas 0,5% de ganho real sobre a inflação, totalizando 5,66%. A reivindicação dos trabalhadores é de um aumento de 9,8%, sob o argumento de recompor perdas acumuladas em anos sem reajuste real.

“Enquanto a Petrobrás já desembolsou, somente nos primeiros nove meses deste ano, R$ 37,3 bilhões para pagamento de dividendos, a categoria recebe uma contraproposta de Acordo Coletivo com meio por cento de ganho real, além de uma série de retrocessos e de diferenciações de direitos entre os trabalhadores da holding e das subsidiárias. Uma provocação”, disse a Federação Única dos Petroleiros (FUP) em nota.

A Petrobras ainda não se pronunciou sobre a paralisação dos trabalhadores.

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Segundo o movimento sindical, 14 sindicatos ligados à FUP aderiram à paralisação, o que representa cerca de 25 mil empregados e atua em 61% das unidades da Petrobras. Também participam da mobilização outros cerca de 50 mil trabalhadores responsáveis por 80% da extração nacional de petróleo.

O balaço mais recente da FUP aponta que a greve atinge unidades administrativas, plataformas e refinarias, com adesão variando conforme a duração do movimento. Houve adesão total nas plataformas do Espírito Santo e do norte Fluminense, além do Terminal Aquaviário de Coari, no Amazonas.

Também foi registrada adesão em seis refinarias, onde não houve troca de turno nesta manhã, incluindo unidades em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, o sindicato afirma que a Petrobras acionou a Polícia Militar para tentar conter a greve, resultando na detenção de diretores do Sindipetro Caxias.

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A greve, na prática, não paralisa totalmente as operações da estatal, que seguem funcionando com equipes mínimas para garantir segurança e produção essencial. Os sindicatos afirmam que o impacto ocorre principalmente pela ausência de trocas de turno e das equipes de redundância, o que reduz a flexibilidade operacional e pode gerar desgaste nas unidades ao longo dos dias.

A paralisação ocorre após mais de três meses de negociações sem acordo, com os trabalhadores alegando que a proposta da Petrobras não atende às reivindicações centrais da categoria. Entre os pontos criticados estão a não retomada de direitos retirados em gestões anteriores, a manutenção de planos de equacionamento do déficit da Petros e a distribuição de resultados considerada desigual.

A situação de aposentados e pensionistas também pesa no movimento, com vigílias organizadas em frente à sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, contra os descontos relacionados ao fundo de pensão. Para os sindicatos, o impacto desses descontos agrava a renda de quem já não está mais na ativa. Por conta disso, um grupo de beneficiários está acampado em frente ao Edisen, o edifício-sede da petroleira, há cinco dias.

“Assim como a greve, a vigília em frente ao Edisen seguirá por tempo indeterminado, até a Petrobrás apresente uma proposta concreta para a categoria”, pontuou a FUP.

Outro ponto de conflito é a tentativa da Petrobras de alterar cláusulas que estão em análise judicial e que podem resultar em ganhos aos trabalhadores. Os sindicatos veem a iniciativa como uma manobra para enfraquecer direitos já consolidados e evitar avanços futuros no acordo coletivo.

Esta não é a primeira paralisação recente da categoria, que realizou greves de 24 horas em março e fevereiro deste ano. Na ocasião, os protestos envolveram críticas à redução do home office, mudanças na PLR e cobranças por contratações e melhores condições de trabalho.

Em 2020, os petroleiros ficaram 20 dias em greve contra demissões e o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná. À época, a Petrobras era presidida por Roberto Castello Branco, enquanto atualmente a estatal está sob o comando de Magda Chambriard.