Catastrofismo perde força: demanda por fósseis segue alta, África resiste à agenda verde e até ONGs desmoronam — até quando as COPs vão durar? (Foto: Imagem criada utilizando Chatgpt/Gazeta do Povo)

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Os críticos do catastrofismo climático costumam dizer que o principal resultado das Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, as COPs, é a confirmação da edição seguinte do evento, que completou três décadas este ano.

Após a recém-concluída COP 30, em Belém (PA), a de número 31 já está marcada para Antalya, Turquia, organizada em conjunto com a Austrália, em novembro de 2026. No entanto, apesar de a Etiópia já ter se candidatado para sediar a COP 32, o cenário global cada vez mais desfavorável à indústria catastrofista oferece motivos consistentes para duvidar de que o convescote climático anual consiga manter o seu formato atual. Vejamos alguns deles.

Ao contrário dos seus prognósticos anteriores sobre um suposto pico do consumo de petróleo em 2030, a Agência Internacional de Energia (AIE) passou a afirmar, em seu último relatório (World Energy Outlook 2025), que a demanda de petróleo e gás natural deverá manter-se em alta pelo menos até 2050.

A projeção anterior vinha sendo exaustivamente usada pela indústria catastrofista como referência para justificar as suas ruidosas campanhas pela redução do uso de combustíveis fósseis, como ainda se viu na COP 30 (ver a coluna da semana passada).

No caso do carvão, a agência mantém a projeção de um pico da demanda antes do final da década atual, mas tal cenário se mostra bastante duvidoso em função do consumo crescente nas economias asiáticas, sobretudo na China, Índia, Indonésia e outras. Estas já representam, em conjunto, cerca de três quartos do consumo global, sem dar sinais de que o seu consumo sofrerá uma redução significativa no futuro próximo.

A própria AIE oferece uma “pista” sobre um dos motivos pelos quais a demanda energética só tende a aumentar nas próximas décadas:
“Hoje, cerca de 730 milhões de pessoas ainda vivem sem eletricidade e quase 2 bilhões dependem de métodos de cozimento poluentes. Na situação atual, o mundo não está no caminho de fechar essa grande lacuna na provisão de energia moderna. A nossa nova análise se baseia nas lições de países que lograram um rápido progresso e delineia um novo roteiro para o acesso universal, atingindo essa marca em 2035 para a eletricidade e 2040 para o cozimento limpo.”

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A maior parte desses desprovidos vive na África, e não é por outro motivo que os países africanos não estão dispostos a abrir mão do aproveitamento dos seus recursos de carvão, petróleo e gás natural para alimentar o seu desenvolvimento. Em Belém, essa posição foi transmitida claramente pelo tanzaniano Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores na conferência, ainda que o grupo não tenha emitido uma declaração formal.

Segundo ele, seria “realmente patético” pedir que os africanos fizessem uma “transição” para deixar de usar os seus combustíveis fósseis, grande parte dos quais apenas começa a ser aproveitada. “A nossa transição é da lenha e do carvão vegetal para a eletricidade”, disse ele.

Na África Subsaariana, a poluição causada pelo uso de lenha, esterco e carvão vegetal no cozimento de alimentos causa de 600 a 700 mil mortes por ano de doenças cardiorrespiratórias, principalmente entre mulheres e crianças.

Nesse contexto, não será surpresa se os africanos demonstrarem cada vez menos interesse pela agenda climática, principalmente na medida em que se torna cada vez mais evidente que o alardeado financiamento climático a fundo perdido para a “transição justa” tende a não se concretizar.

Desinteresse que já é realidade nos EUA de Donald Trump, cujo governo está golpeando fortemente o cipoal de leis e regulamentos restritivos da exploração de hidrocarbonetos estabelecidos nas últimas décadas, além de encerrar os incentivos fiscais às energias eólicas e solares, privilegiados principalmente pelas administrações de Barack Obama e Joe Biden.

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Um simbólico reflexo dessa reorientação pode ser visto nos problemas de duas das mais ativas ONGs ambientalistas do país, o Sierra Club e a 350.org. O centenário Sierra Club, uma das ONGs mais antigas do mundo, perdeu nada menos que 60% dos 4 milhões de membros e apoiadores que tinha em 2019 e está às voltas com um déficit orçamentário de US$ 40 milhões.

Uma reportagem do New York Times de 7 de novembro comenta:
“Enquanto o Sr. Trump impulsionava a energia do carvão, cancelava fazendas eólicas e pressionava limites de poluição, o Club se consumia no caos interno, culminando com a demissão do seu diretor-executivo, Ben Jealous, um ex-presidente da NAACP [Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor].”

Ainda pior é o caso da 350.org, filha pródiga de Bill McKibben, um dos mais ruidosos ativistas climáticos estadunidenses, com operações em dúzias de países, Brasil inclusive. O nome da entidade é uma referência ao mítico limite de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera (350 partículas por milhão – ppm), que, segundo os alarmistas climáticos, não deveria ser ultrapassado por segurança, embora a concentração atual seja de 424 ppm.

No último dia 13 de novembro, o sítio Politico.com divulgou uma carta da diretora-executiva Anne Jellema informando as organizações associadas que, devido a uma queda de 25% na receita prevista para o ano fiscal de 2025-26, a ONG se via forçada a suspender as suas atividades nos EUA, mantendo apenas três funcionários, “na esperança de reviver as operações no futuro”.

Pelo andar da carruagem, os problemas da indústria do catastrofismo climático estão longe de limitar-se aos citados. O que nos retorna à indagação sobre as COPs: haverá uma 32?