Lições de Jesus e Guardiola: o medo de mexer cedo está custando pontos caros

Aqui no Brasil (e em boa parte do futebol sul-americano) ainda vemos treinadores que parecem ter alergia a mudanças no primeiro tempo

  • Por Wanderley Nogueira
  • 23/11/2025 16h58
EFE/EPA/ ADAM VAUGHAN Guardiola Manchester (Reino Unido), 25/10/2024.- O técnico do Manchester City, Pep Guardiola, gesticula durante a partida de futebol da Premier League inglesa entre Manchester City e Southampton FC, em Manchester, Grã-Bretanha, 26 de outubro de 2024. (Reino Unido) EFE/EPA/ ADAM VAUGHAN SOMENTE PARA USO EDITORIAL. Não use áudio, vídeo, dados, listas de jogos, logotipos de clubes/ligas, serviços “ao vivo” ou NFTs não autorizados. Uso on-line na partida limitado a 120 imagens, sem emulação de vídeo. Não há uso em apostas, jogos ou publicações de clubes/ligas/jogadores individuais.

Lá em 2019, Jorge Jesus chegou ao Flamengo e mudou completamente a cultura do futebol brasileiro em relação a substituições. Quem não se lembra? Quando o time estava preso taticamente, sofrendo para criar ou sendo dominado, o português não tinha o menor pudor de mexer antes dos 40 minutos do primeiro tempo. Era comum ver alterações já aos 30, 35 minutos se o plano A claramente não estava funcionando.

Pep Guardiola segue fazendo exatamente a mesma coisa no Manchester City. Haaland, o melhor centroavante do mundo, já saiu de campo com meia hora de jogo várias vezes quando o time não conseguia ativá-lo ou quando o adversário neutralizava o estilo de posse do City. Resultado? O time se reajusta rápido e evita entrar no intervalo em desvantagem ou completamente perdido no jogo.

Aqui no Brasil (e em boa parte do futebol sul-americano) ainda vemos treinadores que parecem ter alergia a mudanças no primeiro tempo. O time sendo engolido no meio-campo, os laterais perdidos, o ataque isolado… e nada. Só vão mexer depois dos 60, 65, às vezes 70 minutos. Quando isso acontece, normalmente é por um desses dois motivos: teimosia excessiva – “Eu montei o time assim e vai funcionar, nem que seja na marra”. Ou, falta de repertório tático – simplesmente não sabem o que fazer diferente.

Com as 5 substituições permitidas, esperar o segundo tempo para “virar a chave” é um luxo que o futebol moderno não permite mais. Você pode até conseguir a reação (às vezes até consegue), mas já perdeu tempo precioso, já sofreu mais do que precisava e, na maioria das vezes, deixou pontos importantes pelo caminho por pura demora em encontrar novos caminhos.

E já que estamos falando de banco de reservas… No futebol de elite em 2025, aquele jogador que só sabe fazer UMA única função está cada vez mais próximo da extinção. O famoso “especialista limitado” pode até ter qualidade técnica altíssima na sua posição, mas se não consegue render em outro setor do campo ou em outro sistema tático, vira um peso morto no elenco. Clubes que brigam por títulos precisam de versatilidade. Ponto final.

O recado de Jorge Jesus em 2019 continua mais atual do que nunca: coragem para mexer cedo e inteligência para ter peças que realmente mudem o jogo – não apenas ocupem vaga no banco.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.