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As investigações caminham para o núcleo político do esquema que teria causado prejuízos bilionários a aposentados e pensionistas. Em entrevista à coluna Entrelinhas e ao programa Sem Rodeios, o deputado federal Alfredo Gaspar (União-AL), relator da CPMI do INSS, afilou que a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, ajuda a expor estruturas que, até então, estariam protegidas por uma sólida blindagem política.
O relator destacou que personagens hoje no centro das apurações já haviam sido mencionados anteriormente no âmbito da comissão. Entre eles, está Lulinha, como é conhecido Luís Cláudio Lula da Silva, filho de Luiz Inácio Lula da Silva, citado nos trabalhos da CPMI por suposta proximidade com operadores do esquema investigado no INSS. Outro nome recorrente é o de Antônio Carlos Camilo, o chamado “Careca do INSS”, cuja relação com Lulinha, na avaliação de Gaspar, “extrapola qualquer parâmetro republicano”. O deputado recordou que chegou a declarar, em reunião da comissão, que renunciaria à relatoria, “caso não se confirmasse a parceria entre os dois em viagens sob investigação”.
Na leitura do parlamentar, o que mudou recentemente foi justamente a queda dessa proteção. Em um dos trechos mais incisivos da conversa, Gaspar afirmou que o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal, “tratorou essa blindagem, mostrando o tamanho do escândalo e até onde a CPMI do INSS está chegando”.
Para ele, houve uma atuação coordenada de parlamentares alinhados ao governo para impedir o acesso a informações sensíveis, como listas de voos internacionais e registros financeiros. Na sua avaliação, a resistência em fornecer dados básicos à comissão evidenciou o esforço para manter determinados nomes fora do alcance das apurações, mesmo diante do avanço das investigações policiais.
“Resistências políticas”
Ao traçar um paralelo com a CPMI dos Correios, que culminou no escândalo do Mensalão, Gaspar observou semelhanças no percurso das investigações. Para ele, assim como naquele episódio, a atual comissão começa a alcançar o braço político do esquema. “Havia uma sustentação política clara naquele momento, e agora também estamos chegando a esse ponto”, pontuou.
Alfredo Gaspar tratou ainda da investigação envolvendo o senador Weverton Rocha (PDT-MA), que foi alvo da Polícia Federal nesta semana, e o “Careca do INSS”. Segundo o relator, já existem indícios de vínculos que ultrapassam o aceitável do ponto de vista institucional, incluindo compartilhamento de aeronaves, contador e suspeitas de negócios em comum. Ele defendeu a convocação do senador para depor, classificando o depoimento como uma oportunidade para esclarecer as relações apontadas pela CPMI.
Embora ainda não haja um número fechado, Gaspar indicou que o prejuízo causado aos aposentados e pensionistas é expressivo e pode atingir cifras bilionárias. Ele frisou que as apurações seguem um critério técnico rigoroso e sem seletividade. “Não temos bandido de estimação”, disse, reforçando que a comissão continuará avançando apesar das resistências políticas.
Blindagem do Banco Master
Questionado sobre a decisão do ministro Dias Toffoli que barrou o acesso da CPMI a dados fiscais, bancários e telemáticos de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, o relator contextualizou que a instituição é investigada justamente por sua atuação no mercado de crédito consignado — um dos principais focos do esquema que atingiu diretamente aposentados e pensionistas do INSS. Segundo Gaspar, o banco aparece nas apurações por suspeitas de irregularidades na concessão de empréstimos e nos descontos aplicados diretamente nos benefícios previdenciários, o que torna essas informações essenciais para o aprofundamento das investigações.
Na avaliação do deputado, ao impedir o acesso a esses dados, a decisão judicial não apenas limita o alcance da CPMI, como também aprofunda a crise de confiança nas instituições. “O povo brasileiro não está acreditando nos poderes constituídos, e essa descrença nasce dos exemplos que se repetem diariamente”, observou. Gaspar recorreu a um princípio clássico do Direito para resumir o cenário: “A mulher de César não pode ser apenas honesta, ela precisa parecer honesta”. Para ele, quando investigações que envolvem diretamente o dinheiro de aposentados encontram barreiras desse tipo, o resultado é a sensação de impunidade e o enfraquecimento do Estado de Direito no país.
