Moraes alega que não houve discussão do caso Master em reunião com Galípolo.
Ditaduras devoram seus próprios agentes: como Yezhov de Stálin, o “Imperador Calvo” pode cair não por abusos, mas por escândalo conveniente. (Foto: Andre Borges/EFE)

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Marx escreveu que a história se repete: na primeira vez como tragédia, na segunda, como farsa. Mark Twain teria dito que a história não se repete, mas às vezes rima. Não sei se a razão estava com Marx ou Mark, mas o fato é que a história parece seguir alguns padrões recorrentes.

Em ditaduras, por exemplo, sempre há tensões e conflitos internos que inevitavelmente conduzem a expurgos. Em todos os regimes totalitários, a história é reescrita para agradar à facção triunfante.

Ao observar a atual situação do Imperador Calvo, cada vez mais enrolado no escândalo do Banco Master e sendo diariamente criticado por expoentes da mídia que até ontem o incensavam como grande herói da democracia, lembrei-me do camarada Yezhov. A história do chefe da polícia secreta de Stálin, apelidado de Anão Sanguinário, tem algo em comum com o que estamos vendo acontecer no Brasil.

Se Yezhov usava o Artigo 58 do código penal soviético para prender e fuzilar “inimigos do povo”, o nosso magistrado utiliza o Inquérito do Fim do Mundo e outras aberrações jurídicas para definir quem pode falar, quem deve calar e quem deve ser preso, mesmo sem ter cometido crime algum.

Yezhov achava que sua proximidade com o Guia Genial dos Povos o tornava intocável. Ele limpou o caminho para Stálin, eliminando a velha guarda bolchevique e espalhando o terror entre as famílias russas. Mas o poder absoluto é como Saturno: ele devora seus próprios filhos. Quando o terror se tornou inconveniente para a imagem de estabilidade que Stálin queria projetar, Yezhov foi removido do cargo. O passo seguinte foi o porão da Lubianka.

A grande ironia, no caso de Yezhov, é que ele acabou sendo condenado por crimes que não cometeu. Foi acusado de ser espião polonês e japonês, o que não passava de fantasia. Por outro lado, nenhuma referência foi feita às mortes de centenas de milhares de cidadãos russos e de outras nacionalidades que ele ordenou, a mando de Stálin.

Existe aqui outro paralelo histórico com o Imperador Calvo: caso venha a ser expelido pelo sistema, será em consequência do escândalo do Master, e não de suas atrocidades mais graves

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Como dizia o professor Olavo de Carvalho, o brasileiro se escandaliza com crimes financeiros, mas não está nem aí para coisas muito piores, como a prisão de inocentes, a destruição de vidas e a maior farsa jurídica da história do país.

Se o sistema abandonar o Calvo, será preciso fazer uma espécie de apagamento da história. No caso de Stálin, esse apagamento tinha um sentido literal. A imagem de Nikolai Yezhov foi apagada de uma famosa foto tirada às margens do Canal Moscou-Volga, em que ele caminhava ao lado de Stálin e Molotov.

À esquerda, fotografia de Nikolai Yezhov com Stalin junto ao Canal Moscou–Volga, em 1937. À direita, a imagem adulterada após o Grande Expurgo: Yezhov foi apagado da fotografia, num claro exemplo de damnatio memoriae. A remoção envolveu retoques no fundo e no curso d’água. (Foto: Domínio público na Rússia/Wikimedia Commons)

Censores soviéticos, utilizando técnicas meticulosas de retoque e raspagem de negativos, removeram Yezhov da imagem, substituindo sua silhueta pelas águas do canal e pela estrutura da mureta, criando uma ilusão de continuidade espacial onde antes estava um dos homens mais temidos da URSS.

O expurgo de Yezhov não significou o fim do terror comunista. O ex-chefe da polícia secreta foi substituído pelo igualmente sanguinário Lavrenti Béria. Aqui no Brasil, o regime já tem um sucessor para as maldades do Imperador Calvo: será o Imperador Obeso.

A história se repete, com ou sem rima. Mas, no Brasil, é sempre farsa.

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