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Alexandre de Moraes já mudou algumas vezes sua versão sobre as ligações para o Banco Central, mas o imenso batom na cueca segue exposto em praça pública: um contrato de R$ 129 milhões entre o Banco Master e o escritório de sua família. Esse fato, por si só, já seria suficiente para a prisão do ministro, fosse ele julgando um terceiro.
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O advogado Andre Marsiglia comentou: "Se confirmada a hipótese de que Moraes tenha solicitado, direta ou indiretamente, ao presidente do Banco Central, algum tipo de favorecimento, e este favorecimento tiver sido indevido ou irregular, estaremos diante até mesmo de um possível crime de corrupção passiva, tipificado no art. 317 do Código Penal".
Ou seja, é algo ainda pior do que "advocacia administrativa", jargão técnico para lobismo. Marsiglia pergunta: "A gravidade do caso exige algo que o ministro costuma aplicar com rigor aos outros: investigação imediata. Onde está a severidade considerada necessária para 'salvar a democracia', quando a corda está no pescoço do próprio ministro?"
Espera-se que não seja tarde demais. A imprensa aplaudiu por muito tempo os abusos supremos pois o alvo era o bolsonarismo. Agora fica difícil colocar o gênio novamente na garrafa. Mesmo com os escândalos dos ministros expostos à luz do dia
A maioria dos jornalistas, que até ontem buscavam poupar Moraes de críticas, tem cobrado do ministro explicações. O clima parece ter mudado na velha imprensa. A Globo tem bancado as reportagens comprometedoras e exigido respostas. Ainda resta ou ou outro subserviente ao ministro, como Reinaldo Azevedo, que disse: "Cobram provas de Moraes por suas virtudes". Chega a ser constrangedor o servilismo...
Enquanto isso, Dias Toffoli vem tentando avacalhar de vez com as investigações do Banco Master. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender a acareação no caso envolvendo o Banco Master e manteve a audiência marcada para o próximo dia 30 de dezembro, em pleno recesso do Judiciário. A decisão intensificou críticas de parlamentares da oposição e de juristas, que apontam possível desvio de competência, quebra de jurisprudência e tentativa de intimidação de técnicos do Banco Central.
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O senador Alessandro Vieira (MDB-SE) – autor de um dos pedidos de criação da CPMI do Banco Master no Senado – ironizou a decisão e afirmou que marcar uma acareação durante o recesso, sem provocação dos órgãos de investigação, “é a coisa mais comum do mundo” – em referência crítica ao episódio. Para ele, o caso simboliza o que chamou de “passar pano” para ministros do Supremo. “A defesa da democracia virou desculpa para qualquer canalhice”, disse o senador, que também mencionou a possibilidade de impeachment de ministros de cortes superiores.
Malu Gaspar disse: “Mais uma decisão esdrúxula do ministro Dias Toffoli, no caso do Banco Master. Está parecendo mais uma tentativa de intimidação aos técnicos do Banco Central, como se a preocupação do ministro não fosse com a fraude financeira e sim com Daniel Vorcaro”. Até Miriam Leitão endossou esse ponto de vista.
Sobre o risco de Toffoli anular a liquidação do Master, tratado pelo Estadão como "concreto, crescente e atual", o ex-diretor do BC, Alexandre Shwartsman, desabafou: "Se rolar, empilha as cadeiras, apaga e luz e fecha o país, porque fica inviável". William Waack afirma que a crise política e institucional do Supremo “passou do ponto de retorno”.
Espera-se que não seja tarde demais. A imprensa aplaudiu por muito tempo os abusos supremos pois o alvo era o bolsonarismo. Agora fica difícil colocar o gênio novamente na garrafa. Mesmo com os escândalos dos ministros expostos à luz do dia. Se o lobista escapar também desta enrascada, aí ninguém mais para ele mesmo...
