EDUARDO BOLSONARO DESESPERO DIREITA
Te peguei! Não, o maior inimigo da direita não é Eduardo Bolsonaro. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

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Se você leu o título, viu a foto e concluiu imediatamente que este texto é um ataque virulento a Eduardo Bolsonaro, sinto muito e muito obrigado. Porque você acaba de provar o argumento contido nos parágrafos que se seguem: o de que o maior inimigo da direita não é o Sistema. Muito menos o Lula (ah, o Lula!) ou o STF. Tampouco é Alexandre de Moraes. O maior inimigo da direita hoje, dia 11 de novembro de 2025, às 15h14, é o desespero.

Um desespero compreensível. Afinal, basta olhar ao redor para constatar que a direita, esse amontoado de edifícios disformes, de paredes feitas de princípios frágeis e assentados sobre a areia da aceitação nas redes sociais, está em ruínas. Bolsonaro preso. Alexandre de Moraes no STF até 2043. Magnitsky que não serviu para nada. Tarifaço idem. Brigas de egos. Ninguém mais fala em anistia. Aparentemente não há ao que se agarrar para sobreviver às – socorro! – sucessivas derrotas.

Esperança

O problema é que o desespero nubla a razão e nos impede de tomar decisões realmente capazes de nos livrar do atoleiro. Ou melhor, daquela areia movediça dos nossos pesadelos infantis. Prefere lava? Que seja. O desespero que impede que vejamos a realidade hostil através da lente necessária da esperança. Sabe aquele otimismo comedido de quem acredita, acredita mesmo, na verdade que liberta? Então. O desespero o esmaga fácil. Facinho.

E é por isso que a direita, desesperada e incapaz de reconhecer os erros estratégicos que a trouxeram até este cenário de terra arrasada, tem tomado decisões que em outro momento eu chamaria de estúpidas, mas está um dia lindo, acordei de bom humor e, no mais, não quero briga, e que por isso chamarei apenas de equivocadas. Como essa coisa de impor Carlos Bolsonaro como candidato em Santa Catarina. Mas não só. Tem ainda a cobrança de lealdade e gratidão ao ex-presidente e os expurgos de aliados ou simpatizantes tratados como traidores, quando não canalhas.

Retorno milagroso

Outro sintoma do desespero, um desespero que já disse que é compreensível, mas talvez valha a pena repetir, é a incapacidade de ouvir críticas, por mais bem-intencionadas que elas sejam, e a tendência a dar ouvidos apenas aos puxa-sacos. Aos oportunistas. Àqueles que não têm nada a perder. Assim, aos poucos a direita (ou o bolsonarismo, porque é difícil saber onde termina uma coisa e começa a outra) vai virando um clubinho que só aceita quem abaixe a cabeça para o líder. Um líder autointitulado, ainda por cima.

Desesperada e paranoica, a direita vê inimigos por todos os lados. Com medo de ser vítima novamente de Joices e Frotas, ela exige submissão total ao mito sebastianista do retorno do capitão que foi lutar contra o Sistema e acabou preso e calado, mas voltará triunfante num cavalo verde e amarelo, a fim de se vingar de seus inimigos e instaurar um paraíso conservador nos trópicos. E ao lado dele estarão apenas seus fidelíssimos escudeiros, aqueles que nunca o questionaram nem jamais duvidaram do seu retorno milagroso.

Cabeçadas

Mas tenho esperança: a esperança de que um dia a direita consiga recuperar a esperança. Não em Bolsonaro ou num dos filhos dele. Nem em qualquer outro líder messiânico desses que há aos montes por aí. Estou falando da esperança em si mesma. Na sua capacidade de convencimento, no poder sedutor do ideal de liberdade e principalmente na convicção de que a busca pela Verdade vale muito mais do que a disputa pelo poder. Tenho esperança de que um dia a direita volte a acreditar, acreditar mesmo, nos valores que diz defender. Principalmente na honestidade e na solidariedade, ambas sacrificadas no altar da popularidade e dessa lealdade aí que... sei não.

Sobre a combinação entre a foto e o título deste texto, espero que você tenha percebido que é ele, o desespero, seguido pelo instinto de defesa, que nos faz mostrar os dentes, rosnar e tirar conclusões apressadas e geralmente equivocadas das pessoas que nos cercam, que querem nosso bem e que compartilham de nossos objetivos. E que não são traíras só porque, aqui e ali, se perguntam se não seria melhor contornar a pedra no meio do caminho, em vez de tentar reduzi-la a pó à base de cabeçadas.