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A Polícia Federal (PF) e Controladoria-Geral da União (CGU) ainda investigam o esquema fraudulento envolvendo a Life Tecnologia Educacional, empresa que firmou contratos milionários com prefeituras do interior de São Paulo para fornecer livros e materiais escolares com superfaturamento extremo envolvendo recursos do Ministério da Educação. Segundo a PF, a Life comprava livros por valores baixos e os revendia aos municípios por preços até 35 vezes superiores.
O esquema, apontam os investigadores, seria liderado pelo empresário André Gonçalves Mariano e envolveria agentes públicos municipais, que facilitavam editais, atas de preços e pagamentos. A PF identificou indícios de lavagem de dinheiro, com uso de empresas de fachada, pagamentos fracionados e doleiros para ocultar a origem dos valores desviados.
Entre os alvos da operação deflagrada na quarta-feira (12) estão Carla Ariane Trindade, ex-nora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi casada com seu filho Marcos Cláudio, e Kalil Bittar, ex-sócio de Fábio Luís da Silva, o Lulinha, outro filho de Lula e da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Ariane e Kalil teriam atuado como facilitadores de contratos, aproximando a empresa de gestores públicos e participando da prospecção de negócios.
A operação — batizada de Coffee Break — apura contratos que somam R$ 111 milhões com prefeituras da região de Campinas, incluindo Hortolândia, Sumaré, Limeira e Morungaba. Em alguns casos, segundo a PF, os livros sequer haviam sido adquiridos pela empresa quando já constavam em contratos assinados com os municípios, indicando o direcionamento e a montagem artificial das licitações. O nome Coffee Break vem do uso da palavra café como senha para propina.
Salto no capital social de empresa gerou suspeita de movimentações financeiras
Cinquenta mandados de busca e apreensão e prisões preventivas foram cumpridos nas cidades investigadas. Além do superfaturamento, a PF observou que o capital social da Life saltou de pouco mais de R$ 300 mil para R$ 34 milhões em menos de dois anos, reforçando suspeitas. O caso lança luz sobre irregularidades na aplicação de recursos da educação municipal e tem potencial impacto político, dada a sua proximidade com familiares de Lula.
Carla Ariane, ex-nora de Lula, é apontada pela Coffe Break como peça central do esquema de tráfico de influência em Brasília, para facilitar contratos superfaturados de materiais educacionais. Alvo de busca e apreensão, o empresário Kalil é irmão de Fernando Bittar, um dos donos do sítio de Atibaia, investigado pela Operação Lava Jato. De acordo com a PF, ele recebia uma “mesada” para defender seus interesses junto ao governo.
Há evidências de que parte dos pagamentos foram feitos em dinheiro vivo, em sacolas plásticas, com valores estimados em R$ 10 milhões entregues em espécie a partir de doleiros. Ainda não há divulgação completa de todos os nomes envolvidos. O destino dos recursos desviados — em termos de imóveis, contas no exterior, criptomoedas — está ainda em levantamento.
Em sua coluna na Gazeta do Povo, o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, escândalos como este mostram um padrão: “o retorno do velho modo petista de governar, no qual as estruturas do Estado são loteadas entre partidos e políticos aliados, e a corrupção brota como consequência inevitável da promiscuidade política”.