Os conselheiros de clube: guardiões no papel, mas e na prática?

Hoje, o cenário em clubes como São Paulo e Corinthians é desolador

  • Por Wanderley Nogueira
  • 22/12/2025 16h41
Reprodução/Meu Timão Romeu Tuma Júnior Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians

Vamos falar sobre a função do conselheiro em um clube de futebol. No estatuto, o papel é claro e nobre: ele representa os sócios, fiscaliza a gestão, analisa contas, orçamentos e decisões administrativas importantes. Os conselheiros deliberam sobre temas graves, como reformas no estatuto, concessão de títulos honorários, mudanças em regulamentos internos e investigações de irregularidades.

Em muitos casos, elegem ou aprovam nomes para cargos-chave da diretoria e participam dos processos eleitorais. Também decidem questões estratégicas, como a transformação do clube em SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Resumindo: no papel, eles são os guardiões do clube. Essa descrição varia pouco de um estatuto para outro. Mas a realidade, infelizmente, nem sempre acompanha o texto bonito.

Hoje, o cenário em clubes como São Paulo e Corinthians é desolador. Há anos as gestões vêm acumulando lambanças, escândalos e resultados ruins dentro e fora de campo. Aí surge a pergunta inevitável: e os conselheiros nesses clubes? O que eles têm feito? É difícil acreditar que centenas de pessoas — muitas delas experientes, com acesso a informações privilegiadas — sejam apenas ingênuas. É duro aceitar que não vejam as evidências, que não tenham dados concretos ou que aprovem erros repetidos com convicção quase artística. Como é possível ignorar, por tanto tempo, sinais claros de má gestão? Não dá para imaginar que caiam em “armadilhas” por acidente, ano após ano. Então vem a dúvida mais incômoda: por que aprovam certas decisões?

  • Por idolatria ao presidente ou à diretoria do momento?
  • Por cegueira quanto à própria responsabilidade?
  • Por achar que o caos não os atingirá pessoalmente?
  • Por confiar genuinamente na “beleza” das promessas dos gestores?
  • Ou, quem sabe, pelo conforto do voto em bloco, mesmo que hoje o anonimato já não exista mais — todos os votos são conhecidos do público.

No fim das contas, o conselheiro não é só um cargo honorário. É uma função de fiscalização e proteção do patrimônio coletivo. Quando essa função falha sistematicamente, o clube inteiro paga a conta. Fica a reflexão para sócios e torcedores: até quando será aceito que os guardiões, no papel, continuem dormindo no ponto, na prática? Até a próxima.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.