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O papa Leão XIV tem marcado o início do seu pontificado pelo uso de vestes litúrgicas mais tradicionais e clássicas do que as escolhidas pelo antecessor, papa Francisco, que preferia modelos mais modernos. Na recente viagem apostólica à Turquia, Leão XIV reforçou esse resgate. Usou uma mitra bordada em fios dourados, com vários símbolos da fé. A peça foi produzida pela Via Ápia Paramentos, empresa brasileira de Apucarana, no norte do Paraná.
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“O mais emblemático para nós foi a escolha de Sua Santidade em usar uma peça nossa em uma viagem apostólica, momento de reconciliação e afirmação da unidade. E há um sinal importante: o reconhecimento de que o Brasil produz material de alta qualidade, como os belíssimos paramentos usados pelos ortodoxos”, afirma Juliane Passoni, responsável pela marca.
Para os especialistas, a escolha das vestes representa o perfil de cada papa e também está inserida no contexto do pontificado que o líder máximo da igreja católica pretende realizar. "O papado é um símbolo em si mesmo, e ao longo dos séculos alguns sinais externos lhe foram acrescentados para melhor ilustrar isto de acordo com cada época", aponta o padre Luís Fernando Alves Ferreira, mestrando em Liturgia na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma.
Leão XIV usou paramentos brasileiros no dia de Nossa Senhora Aparecida
Em 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, o papa também recorreu ao trabalho dos paranaenses. A Via Ápia produziu a mitra com tecidos importados e aviamentos nobres. Leão XIV a escolheu para a celebração da visita da imagem de Nossa Senhora de Fátima ao Vaticano. A cerimônia integrou o Ano Jubilar e coincidiu com a data dedicada à Virgem Maria no Brasil. “Foi um dia especial, uma providência muito significativa”, diz Juliane.
A encomenda veio de um sacerdote residente em Roma, que optou pela Via Ápia pela precisão técnica. Os bordados reúnem símbolos centrais da liturgia: a cruz, a coroa de espinhos e a flor-de-lis. As três pétalas remetem à Santíssima Trindade. A forma reforça a pureza atribuída à Mãe de Jesus. Uma linha com pequenas contas evoca o rosário e a unidade da fé católica.
De fábrica de bonés para serviço religioso
O nome da empresa remete à Via Appia Antica, uma das estradas mais antigas de Roma. A rota conectava a capital ao sul da Itália e sustentava o transporte comercial. A marca nasceu da iniciativa do padre Antônio Dilben, fundador da Comunidade Mar a Dentro. Segundo a responsável pela marca, a confecção surgiu do “amor e zelo pela liturgia da igreja, com o desejo de embelezar o altar e revelar, pelas vestes, a beleza e a realeza de Cristo”.
O atelier de Apucarana começou longe da produção religiosa. Na época, Rose Passoni, mãe de Juliane, administrava uma fábrica de bonés. O encontro com o padre Antônio mudou a trajetória da família. “Ele explicou que ela poderia servir à igreja e evangelizar com seu trabalho”, conta Juliane. Hoje, mãe e filha são membros da comunidade Mar a Dentro e conduzem a produção. A marca completa 25 anos em 2025 e conta com a colaboração da família Passoni há duas décadas.

Atelier de Apucarana também produziu paramentos para papa Francisco
A Via Ápia também confeccionou paramentos para o patriarca latino da Terra Santa, cardeal Pierbattista Pizzaballa. Ele usou uma casula da empresa na missa de exéquias em homenagem ao papa Francisco, no Santo Sepulcro. A peça pertence a um padre brasileiro que atua em Jerusalém. “É a que ele escolhe para celebrar, emprestando do amigo do Brasil”, revela Juliane.
A marca também vestiu o papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, em 2013. A equipe preparou uma casula — manto amplo que simboliza o revestimento de Cristo — e uma mitra para uma das celebrações no Brasil.
Hoje, os paramentos da empresa circulam por todo o país e chegam a nações da América Latina, ao México, aos Estados Unidos e a vários países europeus, incluindo a Suíça. A produção mantém foco no trabalho artesanal, na leitura rigorosa dos símbolos e na continuidade da tradição católica de celebrar com beleza e riqueza simbólica.
