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O paranaense João Américo Macori Barboza transformou um projeto escolar em uma startup do agronegócio. Ele é o criador e CEO da Dioxid, empresa sediada em Londrina (PR) que desenvolveu uma tecnologia inédita de aplicação de gás carbônico no tratamento de sementes de soja e feijão. O método, que Barboza já patenteou nos Estados Unidos, é aplicado em 12 estados brasileiros, atendendo quase 200 produtores.
A ideia começou com uma feira de ciências no ensino fundamental. “Quando eu comecei a desenvolver o projeto de feira de ciências, o que eu buscava naquele momento era ganhar nota e passar de ano”, recorda Barboza, hoje com 25 anos. Aprimorando aquele primeiro experimento, acumulou mais de 30 prêmios no Brasil e no exterior, e acabou transformando o projeto em negócio – em 2018, ele fez a transição da pesquisa acadêmica para o mundo empresarial.
Aplicação de gás carbônico provoca mudança fisiológica na semente
O tratamento desenvolvido pela Dioxid ocorre dentro das "bags" de armazenamento das sementes, onde a atmosfera interna é alterada para elevar a concentração de gás carbônico (CO₂).
A aplicação é feita por difusores monitorados por sensores, que controlam o processo e provocam uma mudança fisiológica na semente, estimulando o enraizamento e extraindo seu potencial genético. O resultado é um ganho médio de produtividade de 4,3 sacas por hectare, com aumentos de até 12% na performance em campo.
“Fui convidado pela Sociedade Rural do Paraná a transformar aquela pesquisa em uma startup. Mas, para que essa transformação da pesquisa para startup acontecesse, foi preciso me transformar enquanto fundador”, conta Barboza. Com o apoio dos pais, ele estruturou o negócio, atraiu mais de R$ 1 milhão em investimentos e conquistou clientes em todas as regiões do país.
Produtores que testaram a tecnologia destacam os resultados. “Sou um cara que gosta muito de tecnologia e inovação, e quando o João chegou com a tecnologia dele, achei um trem totalmente diferente", conta Guiverson Bueno, produtor rural em Lucas do Rio Verde e Ipiranga do Norte (MT). "No começo parecia que não tinha sentido, mas o João tem um conhecimento técnico tão grande que, quando ele começou a explicar, fiquei mais confiante em tentar.”
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Antes de alcançar as principais regiões produtoras do Brasil, Barboza percorreu um longo caminho. Durante a pandemia, mudou-se para Luís Eduardo Magalhães (BA), um dos polos do agronegócio nacional, onde precisou lidar com incertezas e a desconfiança em torno de um empreendedor tão jovem.
“Fizemos parte do programa de aceleração da Cyklo Agritech. Nele, recebemos um aporte para realizarmos os testes e os protocolos de validação da nossa tecnologia e com isso angariamos os primeiros clientes e expandimos a empresa”, relata.
Tecnologia da Dioxid atraiu investimento privado
A trajetória da Dioxid seguiu o percurso típico das startups de base tecnológica: primeiro, o período de incubação, em que a inovação é desenvolvida e testada; depois, a fase de aceleração, marcada por crescimento, contratações e validação técnica.
A empresa chamou atenção de fundos de investimento privados. “A tecnologia da Dioxid traz um aumento importante na produtividade agrícola de culturas como soja e milho. Em soja, por exemplo, a aplicação na semente pode trazer até 12% de aumento de produtividade. Esse incremento é muito importante em um setor tradicionalmente de margens baixas, em que o produtor é tomador de custos e não formador de preços”, diz Fernanda Gottardi, sócia da GR8 Ventures, fundo investidor da empresa.
Para ela, o sucesso combina tecnologia promissora e perfil obstinado do fundador. “A história de João é inspiradora, pois ele iniciou a pesquisa do composto de gases, que se tornou o centro da tecnologia da Dioxid, ainda no ensino escolar, em um projeto de iniciação científica. É um empreendedor jovem e batalhador, não tem problema em arregaçar as mangas, e conhecedor da solução em profundidade”, diz.
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Agora, o foco está na internacionalização. A Dioxid já patenteou sua tecnologia de aplicação de CO₂ em 130 países, com prioridade no mercado dos Estados Unidos. “Nosso plano para o futuro é conquistar mercados internacionais, principalmente o norte-americano. Dessa forma, vamos promover não só o crescimento nacional da empresa, mas também fazer a internacionalização da tecnologia”, afirma Barboza.
Ciente da concorrência com grandes multinacionais do agronegócio, o jovem CEO vê nelas possíveis parceiras. “Não temos nenhum concorrente direto, mas possuímos vários concorrentes indiretos, que são todas as multinacionais, muito bem posicionadas e consolidadas no mercado. Temos um entendimento muito claro de que esses concorrentes são parceiros estratégicos. Para o crescimento contínuo da Dioxid, vamos precisar estar próximos desses grandes players.”
Para outros jovens que se inspiram em sua trajetória, Barboza deixa um conselho realista. “O mundo das startups parece glamouroso, mas a realidade é bem diferente — especialmente no Brasil. Empreender exige muito esforço, resiliência e dedicação. É colocar o ‘pé na terra’, visitar clientes, resolver problemas e trabalhar com determinação todos os dias. O verdadeiro glamour vem como consequência desse trabalho intenso, e não como ponto de partida.”



