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O bairro Jardim Itatinga, em Campinas (SP), geralmente com ruas lotadas por clientes que transitam entre os diversos bares, casas noturnas, hotéis, motéis e boates, vem observando uma queda no movimento. Uma série de golpes, roubos, furtos, sequestros-relâmpago e extorsões contra clientes dos serviços oferecidos na região tem afastado parte do público das quadras locais.
De acordo com a polícia, os responsáveis pela crise econômica que se abate sobre o Jardim Itatinga seriam de uma quadrilha ligada à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A situação foi considerada tão grave e os casos, tão numerosos, que a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) da Polícia Civil de Campinas montou uma investigação com agentes à paisana trabalhando infiltrados na região — este ano foram realizadas pelo menos três grandes operações policiais no bairro, com 22 presos ou apreendidos (no caso de menores de idade) no total.
As investigações apontam que, entre 2024 e 2025, a quadrilha roubou R$ 1,2 milhão dos frequentadores do Jardim Itatinga — isso apenas nos casos registrados em boletins de ocorrência na Polícia Civil da cidade. Como parte das vítimas deste tipo de situação geralmente evita procurar a polícia, as forças de segurança estimam que o valor real seja muito maior.
Quadrilha que seria ligada ao PCC mantém vítimas sob ameaça armada até o pagamento em área de prostituição
De acordo com as investigações na “Disneylândia da prostituição” paulista, criminosos estariam utilizando garotas de programa como “iscas" para atrair as vítimas para locais fechados, onde são cometidos os crimes. Segundo a polícia, há relatos de clientes que são atraídos para uma boate ou hotel próximo após combinar um preço que vai de R$ 60 a R$ 200 com as supostas prostitutas.
Ao chegarem ao local combinado, são obrigados a pagar quantias que variam entre R$ 2 mil e R$ 5 mil. Conforme os relatos que chegaram até as equipes de investigação, na maioria das vezes, os programas com as garotas sequer são realizados. Uma vítima que teve extorquido o valor de R$ 30 mil. Quem não faz a transferência bancária fica preso no local sob ameaça armada, além de ser agredido, até pagar de alguma forma os bandidos.
No mês de agosto, por exemplo, um homem foi mantido em cárcere privado dentro de uma casa de prostituição no Jardim Itatinga. Segundo a Polícia Militar, ele foi impedido de sair ao se negar a pagar uma cobrança indevida após um programa com uma prostituta. Os responsáveis pelo local exigiam um valor maior do que o que teria sido acertado.
A vítima foi localizada rendida em um dos quartos, após conseguir avisar um amigo que chamou a PM. Três homens e uma mulher foram detidos, além de uma adolescente apreendida. O homem foi levado à delegacia, prestou depoimento e foi liberado. Um dos detidos era procurado pela Justiça e permaneceu preso.
Cerca de duas semanas antes, a Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco-SP) deflagraram a operação Illudere em 14 cidades do estado, onde foram cumpridos 25 mandados de prisão — destes, 12 suspeitos foram encontrados e presos. Ao todo, foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão. As investigações continuam.
A Justiça autorizou o bloqueio de valores referentes a 96 alvos identificados como recebedores dos valores obtidos pelo grupo. Aproximadamente 40 pessoas vítimas da extorsão registraram boletins de ocorrência nos últimos dois anos contra a suposta quadrilha envolvida com o PCC na área de prostituição.
Parte dos presos que tiveram os mandados expedidos pela Justiça já estava na cadeia. Máquinas de cartões de crédito, dinheiro e aparelhos eletrônicos foram apreendidos.
De acordo com a investigação, em uma das casas de prostituição onde a operação foi realizada, a polícia resgatou uma adolescente que passava por exploração sexual. A Polícia Civil afirmou que as extorsões aconteceram em pelo menos três casas noturnas do Itatinga.
Região tem registro de venda de bebidas alcoólicas falsificadas
Além de prostituição, exploração sexual de menores e tráfico de drogas, o Jardim Itatinga é famoso pela venda de bebidas alcoólicas falsificadas em vários dos estabelecimentos comerciais da região. Em maio, a operação Red Light, também da Polícia Civil, já havia sido deflagrada com o objetivo de combater crimes de extorsão, exploração sexual infantil e prostituição, tráfico de drogas e outros delitos.
Durante a operação, a 2ª Delegacia de Defesa da Mulher de Campinas cumpriu seis mandados de busca e apreensão relacionados à investigação de exploração sexual de menores. Três adolescentes foram resgatadas em situação de exploração em casas de prostituição. Onze pessoas foram presas em flagrante: três por tráfico de drogas, uma por crime ambiental — com a descoberta de um lixão clandestino — e seis por furto de energia.
Além disso, um homem procurado pela Justiça foi capturado pela Polícia Militar. A operação também resultou na apreensão de bebidas sem procedência, máquinas de cartão utilizadas nas atividades ilegais, drogas e outros objetos de interesse para as investigações. A ação contou com o apoio de técnicos da concessionária CPFL, que auxiliaram na identificação de ligações clandestinas de energia.
Casos são recorrentes
São diversos casos similares que se acumulam na região. Em fevereiro, a polícia libertou um homem de 42 anos que era mantido refém dentro de uma boate no bairro. Policiais do 6° DP (Distrito Policial) percorriam o Jardim Itatinga justamente para investigar crimes de extorsão quando entraram uma uma casa utilizada para prostituição e encontraram a vítima rendida. Um suspeito foi preso.
O homem contou aos policiais que foi atraído para o local fechado por uma garota de programa e, quando chegou com ela no quarto, foi surpreendido por um chute na porta e a entrada de cinco homens. A garota fugiu, e ele era mantido em cárcere privado e extorquido quando os policiais chegaram.
Cerca de um ano atrás, uma operação conjunta da PM, Polícia Civil e prefeitura de Campinas fiscalizou 30 estabelecimentos no bairro e encontrou dezenas de garrafas de uísque e vodca falsificadas em pelo menos três endereços.
De acordo com o Código Penal, é crime qualquer tipo de exploração sexual — como promover tráfico de pessoas, manter local destinado à prática de prostituição e tirar proveito financeiro da prostituição de outra pessoas, entre outras formas.
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