Rede de distribuição de energia. Brasil corre risco de apagão por que o governo demora em fazer ajustes necessários. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

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O governo está animado: desde junho, Lula recuperou popularidade e a prisão de Bolsonaro enfraqueceu a oposição. A maioria dos analistas hoje o coloca como favorito para 2026. Para quem não gosta do presidente, há um dado ainda mais preocupante: o chamado kit reeleição, que pode superar R$ 200 bilhões, só terá efeito pleno em 2026 — com impacto máximo a partir de março —, impulsionando a popularidade do governo às vésperas da eleição.

Infelizmente, vejo poucas brechas políticas para evitar um quarto mandato. O PT tem estrutura partidária robusta, capilaridade e disciplina pública sob a liderança de Lula. Historicamente, o dado é incontestável: o partido jamais perdeu uma disputa presidencial estando no poder. O presidente atual desfruta de uma base econômica que, inegavelmente, herdou o impulso das reformas consolidadas nas gestões anteriores (Temer e Bolsonaro). Ao manter índices de aprovação compatíveis com presidentes reeleitos e ao contar com o arsenal do "kit reeleição" para forjar e ampliar alianças, a reeleição se desenha não como uma possibilidade, mas como a projeção mais lógica e difícil de ser contestada no horizonte político atual.

Mas, como diz o ditado, “o homem faz planos e Deus ri”. A operação policial no Rio revelou amplo apoio popular a políticas duras de segurança pública, abrindo espaço para a oposição. Escândalos de corrupção voltaram ao noticiário — como o caso dos idosos do INSS — e a política econômica de Haddad cobra seu preço: explosão de gastos, 27 medidas de aumento de arrecadação, déficits persistentes, prejuízos em estatais como os Correios, juros elevados travando a economia e uma equipe que só responde aumentando tributos. Paradoxalmente, Haddad pode vir a ser o principal elemento de risco político para o presidente Lula. Seu impacto é atenuado por um fator externo: a inquestionável robustez da herança econômica deixada no ciclo anterior (2016–2022), que serve como um colchão de segurança para a atual gestão.

Há, porém, uma ameaça ainda subestimada: uma crise no sistema elétrico brasileiro prestes a emergir. Por mais estranho que pareça, o Brasil corre risco de sofrer um apagão causado por excesso de energia. O desenho do setor — construído para um país baseado em hidrelétricas, complementadas por térmicas — não acompanhou a rápida expansão de eólicas e solares. Mudanças regulatórias mal calibradas ampliaram a complexidade do sistema, e algumas, como as decisões de Dilma em 2012, quase quebraram o setor.

Mas, como diz o ditado, “o homem faz planos e Deus ri”

É com preocupação que observo o abandono de uma agenda tão importante. Durante minha gestão no Ministério de Minas e Energia, alertei veementemente para o risco iminente que agora se materializa e iniciamos medidas corretivas essenciais. No entanto, o atual governo optou por negligenciar e descontinuar esse caminho. Este atraso deliberado nos ajustes indispensáveis não é apenas uma falha administrativa; está, na verdade, armando uma verdadeira bomba-relógio que poderá explodir nos próximos meses. Permanece a convicção de que, se a trajetória atual for mantida, se a inação persistir, a crise certamente explodirá antes de 2030. É preciso agir agora. O custo da inércia será pago por toda a nação.

Essa análise não é um exercício de pessimismo ou de torcida pelo fracasso. Pelo contrário, trata-se de um chamado à reflexão e ao reconhecimento do óbvio: neste exato momento, existe uma bomba armada no sistema elétrico brasileiro. A verdade é inescapável. Se medidas urgentes e eficazes não forem implementadas para desativá-la, a explosão é uma consequência certa. A única dúvida é quando.