Quais as medidas do Acordo de Paris?
Após anos de avanços e retrocessos, as ações globais para conter o aquecimento da Terra ganham novo impulso, mas a janela para evitar desastres irreversíveis está se fechando rapidamente
A crise climática se acelera e, enquanto o mundo ainda lida com os impactos de décadas de inação, as lições aprendidas com acordos passados, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris, apontam para uma realidade urgente. Após anos de avanços e retrocessos, as ações globais para conter o aquecimento da Terra ganham novo impulso, mas a janela para evitar desastres irreversíveis está se fechando rapidamente.
Em 2015, durante a COP21, a cidade de Paris foi palco do histórico Acordo de Paris, onde as nações se comprometeram a limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C até o final do século. O Brasil desempenhou um papel central nas negociações, com a participação ativa de cientistas como Telma Krug, ex-vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Segundo Krug, o Acordo foi um marco diplomático, mas também um teste de realidade para o mundo, com as metas estabelecidas representando avanços significativos — mas ainda insuficientes.
“Se não tivéssemos o Acordo de Paris, hoje estaríamos com uma projeção de aumento de 4°C”, afirma Krug. O acordo resultou em uma redução nas emissões, mas o mundo ainda está distante de alcançar as metas necessárias. Atualmente, as emissões globais indicam uma trajetória de 2,8°C de aquecimento, o que, embora melhor que a previsão inicial, ainda é insustentável.
O Desafio das NDCs
As NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) são a espinha dorsal do Acordo de Paris, com cada país comprometendo-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. No entanto, poucos países conseguiram cumprir suas promessas. O climatologista José Marengo destaca que o aumento da temperatura média global já alcançou 1,3°C até 2025, com algumas regiões, como a Amazônia e partes da África e Europa, registrando aumentos de mais de 2°C. O impacto é claro: mais calor extremo, ondas de seca e eventos climáticos extremos que afetam diretamente a vida das pessoas, como demonstrado pelas ondas de calor na Europa, que resultaram em milhares de mortes.
A COP30 e a Necessidade de Ação Urgente
A COP30, que ocorrerá em breve, traz um novo desafio: a renovação das NDCs a partir de 2025. Mais de 100 países devem apresentar planos mais ambiciosos para reduzir suas emissões, com foco em triplicar a capacidade de energia renovável, dobrar a eficiência energética, restaurar ecossistemas e reduzir as emissões de metano. Para atingir essas metas, será necessário repensar a forma como produzimos, consumimos e financiamos energia.
O Brasil, por exemplo, possui uma matriz energética limpa, com mais de 80% de sua energia elétrica proveniente de fontes renováveis, mas continua a enfrentar desafios como o desmatamento e as emissões do setor de transporte e indústria. O país possui um grande potencial para crescer de maneira sustentável, utilizando sua biodiversidade e infraestrutura renovável. No entanto, é preciso combater o desmatamento, especialmente na Amazônia, onde a destruição das florestas compromete não apenas as metas climáticas, mas também a economia e o futuro do planeta.
A Transição Energética: Oportunidades e Desafios
O mundo já vive uma revolução energética. A energia solar e a eólica se tornaram mais baratas e eficientes, e o hidrogênio verde surge como uma fronteira tecnológica promissora. O Brasil tem grande potencial para se tornar um dos maiores exportadores dessa nova fonte de energia limpa. Porém, como explica Patrícia (da COP30), a transição energética enfrenta desafios, especialmente em países desenvolvidos, onde a substituição de fontes tradicionais por renováveis é mais complexa devido à dependência de sistemas de energia estabelecidos.
A infraestrutura, a capacitação e a tecnologia nacional são essenciais para que o Brasil e outros países consigam avançar na transição para uma economia de baixo carbono.
O Impacto Econômico da Crise Climática
A crise climática já está gerando perdas econômicas significativas em todo o mundo, com custos que somam centenas de bilhões de dólares por ano. No Brasil, desastres como a tragédia no Rio Grande do Sul em 2024, que causou prejuízos superiores a 30 bilhões de reais, mostram que a falta de adaptação pode custar muito mais do que a prevenção.
O clima já está mudando mais rápido do que as políticas e os investimentos necessários para enfrentá-lo. As ondas de calor, por exemplo, estão matando mais pessoas do que as doenças respiratórias associadas. Em cidades como Paris e Roma, os efeitos do calor extremo já se tornaram uma ameaça real, especialmente para os mais vulneráveis: idosos, crianças e pessoas com doenças respiratórias ou cardíacas.
A Necessidade de Prevenção e Adaptação
A prevenção e a adaptação são cruciais. Estudar riscos climáticos, planejar para as mudanças que já estão ocorrendo e buscar estratégias para reduzir a vulnerabilidade das populações são ações que podem salvar vidas e reduzir danos econômicos. O Brasil, por exemplo, pode ser um modelo de uso sustentável da terra, com a integração entre agricultura, pecuária e preservação florestal, criando uma sócioeconomia de floresta em pé. No entanto, é essencial combater o crime organizado que destrói os biomas brasileiros, especialmente na Amazônia, se quisermos garantir que o país cumpra suas metas climáticas.
O Futuro Está em Jogo
O futuro do planeta está em jogo. Se não tomarmos medidas drásticas agora, podemos ultrapassar os 1,5°C de aquecimento, e os impactos disso serão irreversíveis. O desmatamento, as ondas de calor e os desastres climáticos já estão nos mostrando que a crise não é mais uma ameaça futura, mas um problema presente. A COP30 será um teste crucial para ver se o mundo está pronto para agir de forma concreta e imediata, ou se continuará a ser dominado pela inação e pela falta de compromissos realistas e eficazes.

