Rubio expõe fragilidades internas do EUA e ecoa a doutrina America First: ‘Interesse americano vem em primeiro lugar’

Do risco de tecnologia inimiga no espaço aéreo ao narcotráfico de Maduro, passando pela guerra na Ucrânia, chanceler revela por que o mundo está mais perto da força cirúrgica do que do diálogo infinito

  • Por Eliseu Caetano, do Estados Unidos
  • 03/12/2025 08h54 - Atualizado em 03/12/2025 08h54
Reprodução/Fox News Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump, em entrevista à Fox News Marco Rubio, secretário de Estado do governo Trump, em entrevista à Fox News

A entrevista de Marco Rubio a Sean Hannity, na Fox News, não foi simplesmente mais uma rodada de perguntas sobre política externa. Foi um descarregar de verdades incômodas, um mapa geopolítico sem verniz e um manifesto claro da doutrina que o governo Trump está impondo ao mundo. Rubio falou como diplomata, mas soou como alguém que já entendeu: o terreno é hostil, os adversários são reais e hesitação custa caro.

Logo no início, Hannity tenta quebrar o gelo com o novo documentário The Age of Disclosure. Rubio não cai na armadilha. Ele traz para o debate o que realmente importa: há objetos voando em áreas militares restritas, ninguém sabe de quem são, e o maior risco não é “ET”, é China, Rússia ou outro adversário testando capacidades que os radares americanos nunca procuraram. 

Uma admissão dura: “Estamos treinados para caças e mísseis, mas eles podem estar vindo com drones e balões”. A vulnerabilidade é mais assustadora que o mistério. Depois, Rubio parte para o ponto mais explosivo da entrevista: a crise dos afegãos que entraram nos EUA sem vetting adequado durante o governo Biden. Ele não suaviza — nem tenta. Explica que vetting perfeito não existe e que países sem documentação confiável tornam o processo praticamente cego. 

O alerta é direto: “Você pode trazer alguém sem histórico radical… e ele se radicaliza depois”. O golpe final: não tem como admitir centenas de milhares de pessoas de qualquer lugar do planeta sem assumir que uma parte vai se voltar contra o país. A era Biden, na visão dele, foi irresponsável — e agora a conta chegou.

O coração da entrevista, porém, é a definição mais clara até agora da “doutrina Trump” no uso da força. Segundo Rubio, não é isolacionismo; também não é intervencionismo sem limites.  É algo mais frio, mais cirúrgico, mais americano:

  1. Identificar o interesse nacional.
  2. Definir o objetivo exato.
  3. Usar força limitada para cumpri-lo — e sair.

O exemplo perfeito? O ataque às instalações nucleares do Irã: uma operação de 24 horas, B-2s, bunker busters, alvo destruído, zero ocupação, zero “guerra eterna”. Trump mira, acerta e volta pra casa. Sobre Venezuela, Rubio dispara sem hesitar: Maduro não é um governante, é um operador do narcotráfico continental. Diz que Caracas serve de corredor para a cocaína colombiana rumo aos EUA e lembra o público de algo que muitos fingem esquecer: há indiciamentos formais nos EUA acusando o regime venezuelano de tráfico internacional. 

Para piorar, o secretário de Estado expõe o fator mais subestimado pela imprensa latino-americana: Venezuela é hoje o principal ponto de apoio do Irã e do Hezbollah no hemisfério ocidental. Ou seja: ameaça terrorista, tráfico e Estado falido — tudo num mesmo pacote.

Rubio ainda cutuca os críticos: “Um porta-aviões americano na Europa é sinal de compromisso. No Caribe, vira agressão? Como assim?”. Para ele, se o lema é “America First” (“Primeiro os Estados Unidos), então o hemisfério ocidental é o ponto de partida, não o rodapé do mapa. E então vem a parte mais sensível: Ucrânia.

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O chanceler diz o que muitos evitam dizer em público: ninguém está “ganhando” essa guerra. A Rússia perde milhares de soldados por semana; a Ucrânia resiste heroicamente, mas a devastação continua. O front não avança. A guerra virou desgaste. E é aí que Rubio solta a frase que resume toda a estratégia atual: “O único líder capaz de falar com Zelensky e Putin ao mesmo tempo é Donald Trump”. O objetivo americano não é “cheque em branco” nem sonho utópico. É simples:

  • Garantir que a Ucrânia não seja invadida novamente;
  • Assegurar sua soberania;
  • E permitir que o país prospere sem virar marionete.

Rubio afirma que avanços ocorreram, não o bastante para um acordo, mas o suficiente para provar que há um caminho possível. Basta que as partes queiram. A entrevista inteira é um retrato de um chanceler que não fala como burocrata. Ele fala como estrategista. Como alguém que lê o mundo tal como ele é, não como diplomatas preferem imaginar.

E deixa claro que a nova política externa americana não será guiada por ilusões, mas por força, precisão e objetivos mensuráveis. O recado final de Rubio? O mundo mudou, e os EUA estão mudando com ele.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.