Comando Vermelho Penha
Membros do Comando Vermelho incendiaram carros para criar obstáculos à entrada de policiais na operação Contenção. (Foto: EFE/Antonio Lacerda)

Ouça este conteúdo

De tempos em tempos, o Brasil assiste ao mesmo espetáculo: artistas, influenciadores e até certos “especialistas” de gabinete se levantam nas redes sociais para condenar operações policiais e ditar o que é certo e errado em segurança pública. Aparentemente, bastam alguns milhões de seguidores, um diploma pendurado na parede e uma boa dose de vaidade para transformar qualquer pessoa em autoridade moral sobre o tema. O problema é que, no mundo real, curtidas e discursos de palco não substituem conhecimento técnico.

A fama dá visibilidade, mas não dá competência. Segurança pública não é assunto de camarim – é tema de quem estuda o crime de perto, enfrenta o perigo e carrega nas costas o peso da criminalidade. Enquanto o policial arrisca a vida em comunidades dominadas por facções, o artista comenta do conforto do seu estúdio, com ar-condicionado e café quente. É fácil criticar quem enfrenta o risco quando se observa tudo à distância, entre uma gravação e outra, com o celular na mão e a consciência leve.

A verdade é dura: opinar sem entender virou moda. Só que segurança pública não é palco de egos nem passarela ideológica – é campo de ação, técnica e coragem. Exige preparo, dados e experiência, não discursos prontos e indignação seletiva

Uma professora da Universidade Federal Fluminense chegou a afirmar que “uma pedra pode neutralizar a ação de uma pessoa com fuzil”. A frase, dita com ar de superioridade, simboliza bem o abismo entre a teoria e a realidade da segurança pública. É fácil falar em “resistência simbólica” quando se está em um campus protegido ou em um apartamento de classe média, mas quem vive o cotidiano do crime sabe que pedra nenhuma neutraliza fuzil. Esse tipo de pensamento, além de ingênuo, é perigoso – porque desmoraliza quem realmente arrisca a vida para proteger os outros.

Essas vozes de luxo e conforto, que se dizem defensoras dos direitos humanos, parecem esquecer que o primeiro direito humano é o de viver em paz, sem o domínio do medo e da violência. Quem mora nas áreas mais pobres – não somente do Rio de Janeiro, mas do país todo – e sente na pele a ausência do Estado, sabe que, muitas vezes, a polícia é o único escudo entre a ordem e o caos. Ainda assim, esses mesmos artistas tratam cada operação como se fosse um ato de barbárie, enquanto fecham os olhos para o terror imposto por criminosos que transformam bairros inteiros em zonas de guerra.

VEJA TAMBÉM:

A verdade é dura: opinar sem entender virou moda. Só que segurança pública não é palco de egos nem passarela ideológica – é campo de ação, técnica e coragem. Exige preparo, dados e experiência, não discursos prontos e indignação seletiva. É curioso ver quem nunca pisou em uma favela se achar no direito de ensinar quem coloca a própria vida em jogo para defender os outros.

O país precisa de menos vaidade e mais seriedade. Fama não é sinônimo de autoridade – e muito menos de conhecimento – e falar sem saber é um desserviço. Talvez o maior ato de consciência, hoje, seja entender que nem toda voz precisa ecoar. Será que esses famosos, protegidos por muros altos e seguranças particulares, teriam a mesma opinião se vivessem um único dia sob o som dos tiros que a polícia enfrenta?

Dionatan Ferreira é acadêmico de Gestão Pública na Universidade Federal do Paraná.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos