Tiroteio em Washington vira munição política para Trump, que busca reforçar discurso de endurecimento migratório

Presidente encontra no ataque – atribuído a um imigrante afegão – argumento para revisar programas humanitários e ampliar controle na fronteira

  • Por Eliseu Caetano
  • 27/11/2025 08h49 - Atualizado em 27/11/2025 08h50
EFE/EPA/YURI GRIPAS / POOL Presidente dos EUA, Donald Trump, durante uma reunião com o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, na Sala do Gabinete da Casa Branca Ataque ocorrido na região central de Washington abre espaço imediato para ser explorado politicamente pelo presidente Donald Trump

O ataque ocorrido na região central de Washington abriu espaço imediato para ser explorado politicamente pelo presidente Donald Trump. Assessores próximos já admitem que o episódio reúne exatamente os elementos que fortalecem a agenda que ele tenta implementar desde o retorno ao poder: endurecimento na política migratória, revisão de programas de acolhimento e retomada da narrativa de que falhas herdadas do governo anterior colocaram em risco a segurança nacional.

Trump reagiu classificando o caso como “ato de terror” e afirmando que a entrada do suspeito nos Estados Unidos “nunca deveria ter acontecido”. Segundo aliados, a estratégia a partir de agora será reforçar três linhas de argumentação:

1. Apontar que o governo anterior teria falhado na triagem de refugiados afegãos, especialmente sob o programa criado durante a retirada das tropas do Afeganistão em 2021;

2. Usar o episódio para pressionar pela revisão de todos os imigrantes afegãos já admitidos, alegando risco potencial à segurança interna;

3. Defender medidas ainda mais rígidas de controle, ampliando a triagem, limitando a entrada de estrangeiros e reforçando a presença militar em áreas sensíveis;

O presidente ordenou o envio de 500 soldados adicionais da Guarda Nacional para a capital e defendeu publicamente a suspensão de todos os pedidos de imigração de afegãos, medida que o governo implementou horas após o atentado.

Para analistas, a forma como o crime ocorreu – ataque a militares, em área nobre da cidade, por um estrangeiro recém-regularizado – constitui o cenário ideal para que Trump fortaleça sua retórica de segurança, capaz de mobilizar sua base e pressionar opositores a defender políticas migratórias mais duras.

O ataque que paralisou Washington

O atentado aconteceu na tarde de quarta-feira (26/11) a poucos quarteirões da Casa Branca, perto da estação Farragut West, no coração da capital. Dois soldados da Guarda Nacional de West Virginia patrulhavam a região quando foram surpreendidos por disparos. O ataque foi descrito pela polícia como uma emboscada.

Após os disparos, houve gritos, correria e evacuação de prédios vizinhos. A Casa Branca entrou em bloqueio temporário, ruas foram interditadas e helicópteros sobrevoaram a região. A capital ficou parcialmente paralisada por quase uma hora.

O suspeito, identificado como Rahmanullah Lakanwal, de 29 anos, tentou fugir, mas foi detido já ferido. As vítimas seguem em estado grave.

Aeroporto fechado e caos momentâneo

A gravidade do incidente levou a Administração Federal de Aviação a suspender temporariamente todas as decolagens no Aeroporto Ronald Reagan, o principal da cidade. O bloqueio, que durou cerca de 20 minutos, afetou voos, provocou atrasos em cascata e aumentou a sensação de pânico entre passageiros.

Washington vivia clima de grande movimento devido ao feriado prolongado, o que tornou o impacto ainda maior.

Quem é o suspeito e como entrou nos EUA

Lakanwal é natural do Afeganistão e teria chegado aos Estados Unidos em 2021 pelo programa de reassentamento criado após a retirada das tropas americanas daquele país. O programa foi implementado para acolher afegãos considerados vulneráveis, civis perseguidos, tradutores, colaboradores e pessoas ligadas a operações americanas.

Segundo documentos oficiais citados pela imprensa, ele solicitou asilo em 2024, obtendo aprovação em 2025, o que lhe dava permissão legal de residência. Até então, não havia registros públicos de antecedentes criminais.

Como funcionava o programa afegão suspenso pelo governo

O programa de reassentamento criado em 2021 recebeu dezenas de milhares de afegãos. Eles podiam obter moradia temporária, assistência básica e encaminhamento para processos migratórios regulares, como pedido de asilo ou visto humanitário.

Críticos do programa alegavam falhas na triagem e excesso de concessões. Defensores afirmavam que se tratava de um compromisso humanitário assumido pelos Estados Unidos após 20 anos de presença militar no Afeganistão.

Com o ataque, o governo americano anunciou a suspensão imediata e por tempo indeterminado de todos os pedidos de imigração relacionados a afegãos, alegando necessidade de revisar critérios de segurança.

Riscos, consequências e debate humanitário

A suspensão atinge milhares de pessoas que aguardavam aprovação de vistos, reunificação familiar ou reassentamento. Organizações de direitos humanos alertam para risco de violações, estigmatização de comunidades inteiras e penalização de refugiados sem relação com o crime.

Há também temor de que o caso alimente hostilidade contra afegãos já estabelecidos legalmente no país.

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O que vem a seguir

A investigação continua, e autoridades ainda não confirmaram motivação ideológica ou ligação com qualquer grupo extremista. Caso o FBI conclua que o ataque não foi motivado por terrorismo, o debate político pode ganhar contornos ainda mais tensos: opositores acusariam o governo de usar uma tragédia isolada para justificar medidas extremas.

Do lado da Casa Branca, a expectativa é de que o episódio sirva como ponto de inflexão para reforçar políticas de segurança e migratórias – algo que Trump deverá utilizar intensamente nos próximos dias.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.