Tornado registrado em 1959 no Paraná.
Em Palmas, 35 pessoas morreram durante passagem de tornado no sudoeste do Paraná. (Foto: Silvia Müller/Irma Deitos/Arquivo pessoal)

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Os tornados que atingiram a região centro-sul do Paraná na última sexta-feira (7) trouxeram de volta as lembranças de uma tragédia climática ocorrida há 66 anos na divisa paranaense com o estado de Santa Catarina. Tão feroz quanto imprevisível, um grande tornado com características semelhantes ao que arrasou a cidade paranaense Rio Bonito do Iguaçu deixou então um rastro de destruição e morte no dia 14 de agosto de 1959, no sudoeste do Paraná, atingindo Palmas, União da Vitória e o município catarinense de Canoinhas.

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Antes do monitoramento com radares meteorológicos e do desenvolvimento de tecnologias para alertas climáticos, a velocidade do vento e o tamanho do fenômeno eram quase incalculáveis ao ponto de a catástrofe não ter sido tratada pelos jornais da época como um tornado. Segundo a imprensa no final da década de 1950, o forte vendaval deixou centenas de feridos e tirou a vida de dezenas de moradores nas áreas rurais. O número dos registros históricos não é preciso, mas a estimativa é de até 90 mortes no tornado mais fatal de que se tem notícia no Brasil.

A fazenda Fortaleza, a cerca de 30 quilômetros do centro de Palmas, foi devastada pelo tornado com ventos acima dos 200 km/h, que destruiu as casas de madeira e deixou cerca de 35 mortos na comunidade rural. “Dezenas de tábuas estavam espalhadas, casas caídas, pinheiros arrancados pelas raízes. Um locomóvel [espécie de trator movido a vapor usado para movimentar cargas pesadas] de uma serraria, pesando cerca de 5 mil quilos, foi deslocado uns 40 metros de distância”, relatou o jornalista Moacyr Mitsuyasu, enviado especial da Gazeta do Povo ao local da catástrofe, em reportagem publicada no dia 16 de agosto de 1959.

No ano de 2014, a reportagem da Gazeta do Povo voltou à fazenda, 55 anos após a tragédia climática. O tempo não curou o trauma de quem viu de perto o som e a fúria da natureza e a comunidade nunca soube ao certo o que provocou a catástrofe. “Não eram trovoadas comuns, fazia um barulho estranho, acho que era o furacão que vinha em nossa direção”, lembrou a sobrevivente Flora Nadir Tonial, na reportagem assinada pelo jornalista Niomar Pereira.

“A dona da fazenda chegou pedindo socorro. Estava com o piá mais novo e com um enorme ferimento no quadril. Era um desespero só, morreram o outro filho dela e a empregada que cuidava das crianças. Recolhemos também dois rapazes que trabalhavam na serraria, mas não resistiram aos ferimentos”, relatou.

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A edição do dia 16 de agosto de 1959 do jornal O Comércio traz na manchete: “O doloroso balanço de uma terrível catástrofe”. A reportagem assinada por Adalberto Antônio Rauber afirma que “o cataclismo destruiu muitas casas, feriu várias dezenas de pessoas e matou quatro outras” nos municípios de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), na divisa dos estados do Paraná e Santa Catarina.

Segundo a reportagem, os médicos da região tiveram que trabalhar sem interrupção para o atendimento dos inúmeros feridos, que foram atingidos pelo “vendaval arrasador” entre 13 e 14 de agosto. O caso de um motorista chama atenção pela descrição de um “redemoinho”, que teria arremessado o jipe pelos ares a cerca de 150 metros de distância.   

Assim como na semana passada, a infraestrutura da região atingida ficou totalmente comprometida há 66 anos após o tornado entre o Paraná e Santa Catarina, que de acordo com a reportagem do jornal O Comércio, teve início por volta das 23h de uma quinta-feira, avançando pela madrugada de sexta-feira.

“As linhas telefônicas e telegráficas e a Rede de Viação Paraná–Santa Catarina foram seriamente danificadas. Do mesmo modo os edifícios elétricos da Usina de Palmital foram interrompidos, provocando falta de corrente em toda a extensão elétrica, podendo-se afirmar que toda a cidade ficou às escuras durante várias horas.” O transporte ferroviário foi interrompido pela queda de árvores na linha férrea.     

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O município de Canoinhas também foi atingido por um tornado na madrugada do dia 14 de agosto de 1959 com mortes e destruição na comunidade rural de Rio dos Pardos. Segundo a edição de 22 de agosto de 1959 do jornal Correio do Norte, 14 pessoas morreram e 45 ficaram feridas. 

“Um cavalo estava morto, com um pedaço de madeira atravessado. Uma porca também estava morta e os leitõezinhos tentando mamar. Lembro como se fosse hoje. De pessoas que não tinha mais ninguém, já haviam levado os mortos e os que ficaram feridos”, diz o relato de um sobrevivente, conforme a reportagem do Canoinhas Online, assinada pela jornalista Marly Soares, em 2017.

Segundo ela, a tragédia foi a segunda maior do município catarinense, que 11 anos antes foi destruído por um grande tornado com ventos estimados em mais de 300 km/h. No dia 16 de maio de 1948, 23 pessoas morreram no município catarinense, sendo cinco no Hospital Santa Cruz, que entrou em colapso pela alta demanda de feridos após o tornado.

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