A criminalidade afasta os mais talentosos e produtivos do país. (Foto: Imagem criada usando ChatGPT/ Gazeta do Povo)

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Por motivos óbvios, a economia do crime deveria entrar no debate público no Brasil. Este ramo da economia estuda a causalidade das variáveis explicativas na criminalidade. Pesquisadores, com métodos econométricos, testam a significância estatística de alguns fatores, como renda, escolaridade, rigor penal e número de policiais no impacto da violência.

Neste tipo de estudo, estabelecer a direção da causalidade é um grande desafio. Por exemplo, o senso comum nos diz que aumentar o número de policiais deve reduzir a criminalidade.  Entretanto, a correlação estatística entre as variáveis é altamente positiva, pois áreas com mais crimes costumam ter mais policiais. O mesmo raciocínio vale para o rigor penal, uma vez que leis mais duras vêm após a ocorrência de mais violência. Esse dilema de quem vem primeiro, o ovo ou a galinha, é muito comum em pesquisas empíricas, trazendo um grande desafio para os acadêmicos. Diga-se de passagem, a maior parte dos estudos aponta que o aumento do número de policiais e a elevação da probabilidade do bandido ser e permanecer preso reduzem a criminalidade. A hipótese é óbvia, mas a comprovação estatística é desafiadora.

Nessa mesma linha, uma afirmação recorrente é de que a pobreza leva à criminalidade. A ideia por trás dessa visão é que pessoas com menos oportunidades teriam um incentivo maior para cair no crime. Por outro lado, críticos dessa linha de pensamento argumentam que não há este determinismo social, pois praticar um crime depende da escolha do indivíduo.

Enquanto ocorre o debate entre essas correntes de pensamento, um tema pouco explorado é a pergunta inversa: será que mais crimes não geram a perda de atividade econômica, e aumento da pobreza?

Há razões para dizer que essa hipótese é verdadeira. Em qualquer cidade, áreas violentas afastam empresas, e o comércio local fecha mais cedo. Com menor atividade econômica, cai o emprego e a renda, gerando pobreza.

As favelas no Rio de Janeiro são um exemplo disso. Empreendedores têm medo de abrirem empresas por lá por conta das extorsões do Estado paralelo criado pelo crime organizado. O comércio vai embora, e os serviços fecham as portas mais cedo. Até empresas gigantes de eletricidade e saneamento têm receio de fazer a manutenção nessas áreas.

A criminalidade afasta os mais talentosos e produtivos do país 

Outra atividade afetada é o turismo. Imagine se, no morro no Rio de Janeiro, houvesse segurança. Restaurantes, bares e hotéis poderiam funcionar de lá para os turistas desfrutarem do alto da belíssima paisagem da cidade, criando renda e emprego para a população mais pobre. Infelizmente estamos muito longe dessa realidade. Com a beleza natural do Rio de Janeiro, daria para a cidade viver praticamente do turismo.

Os custos econômicos do crime não param por aí. Há elevados gastos com segurança e saúde – afinal muitos chegam feridos em hospitais. Mais gastos relacionados às consequências da criminalidade significam menos gastos com educação, saneamento, SUS, transporte, etc. – afinal, o orçamento do governo é limitado; para cada escolha, há uma renúncia.

A criminalidade também gera corrupção, trazendo ineficiência econômica em vários serviços, do público ao privado. A perda de eficiência econômica também resulta em aumento da pobreza.

Por fim, a criminalidade afasta os mais talentosos e produtivos do país.  Quantos jovens não estão abandonando o Brasil para estudar fora por medo da criminalidade? Não é normal viver em um país onde você perde a vida por não entregar um celular.

Muitos intelectuais e setores da imprensa adoram repetir o lenga-lenga sociológico de que  “a desigualdade gera criminalidade”, mas nunca pararam para pensar na possibilidade inversa: será que não é justamente a alta criminalidade que gera a pobreza?

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