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O escândalo da BBC não escandalizou a opinião pública. Nos dias de hoje, escândalos não necessariamente escandalizam mais — se é que ainda existe opinião pública. Talvez estejamos mais para uma confederação de nichos, ou uma constelação de bolhas, ou como se queira chamar essa fragmentação do que um dia já se chamou de senso comum.
Um ex-conselheiro da emissora inglesa admitiu a fraude cometida contra Donald Trump. Seu depoimento foi publicado pelo jornal The Telegraph e a BBC não desmentiu — até porque a manipulação do discurso do então candidato à Casa Branca é facilmente constatável. Em documentário veiculado às vésperas da eleição americana do ano passado, a tradicional TV britânica mistura falas isoladas de Trump para forjar outro significado ao que ele disse.
Como diria Roger Waters (na época em que compunha contra a repressão), foi mais um tijolo na parede da farsa. A imprensa quase inteira trabalhou para disseminar a tese de que Trump comandou a invasão ao Capitólio em janeiro de 2021. Jamais surgiu prova de que isso tivesse acontecido, mas quem precisa de provas nos dias de hoje? Basta a versão. A BBC só tentou solidificar um pouco essa versão — com uma adulteração grave que deveria estar dominando o noticiário até hoje.
Mas foi como se a BBC tivesse escrito “cachorro” com x: um erro primário, e vida que segue. A Folha de S. Paulo noticiou no fim de semana: “Como erro em edição de discurso de Trump paralisou a emissora BBC”. Errar é humano; chamar fraude de erro é sobre-humano. Já O Estado de S. Paulo, em editorial, escreveu: “O perigo do jornalismo militante”.
Mais perigoso que o jornalismo militante é o jornalismo que confunde militância com delinquência. E isso foi a melhor parte da reação da mídia ao escândalo da BBC, por incrível que pareça
Veículos como Globonews, Valor Econômico, G1, a própria BBC e outros fizeram bem pior nos dias que se seguiram à confissão de manipulação publicada pelo Telegraph. A escolha editorial foi atacar justamente a vítima da manipulação. Despejaram uma sucessão de manchetes contra Trump, mirando em diversos assuntos (menos o da montagem fraudulenta da BBC, claro). A coisa foi tão impressionante que é o caso de citar aqui, pelo menos em parte, essa artilharia:
“Trump estava ciente dos crimes sexuais de Epstein, revelam e-mails” (Valor Econômico).
“Trump não quer guerra na Venezuela, mas sim desestabilizar o governo de Nicolás Maduro para que ele caia por pressões internas de opositores” (Globonews).
“Trump é atingido por escândalo que ele próprio trouxe à tona” (G1).
“Imagens mostraram Donald Trump com os olhos fechados durante um evento na Casa Branca, gerando críticas de parlamentares democratas. A equipe do presidente negou que ele estivesse dormindo” (Globonews).
“Epstein disse que Trump ‘passou horas’ com uma de suas vítimas, diz e-mail divulgado pela oposição” (BBC News Brasil).
“O prefeito de Londres, Sadiq Khan, afirmou que líderes mundiais reunidos na COP30 precisam ouvir as demandas de autoridades locais e regionais. Ele diz que não teme Donald Trump, que nega a existência de uma crise climática” (Globonews).
“‘Sou o único capaz de derrubar Trump’, disse Epstein em e-mail” (G1).
Este é só um pequeno extrato da avalanche de matérias contra Trump que vieram na sequência da publicação do Caso BBC. Se você observar as redes sociais de alguns desses veículos, verá que eles se deram ao trabalho até de redigir chamadas novas para matérias já postadas — aumentando com jeitinho o volume da artilharia.
Poderiam ter economizado esforços concentrando a mensagem em um único post: “Não queremos falar da fraude da BBC contra Donald Trump. Não queremos que o público perceba o serviço sujo da imprensa para tentar difamar um político legitimamente eleito. Precisamos tentar esconder a propaganda enganosa que inventa ataques inexistentes à democracia”.
Fica a sugestão aos colegas para a próxima campanha difamatória. É de graça.
