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Prédios na Cidade de Gaza, destruídos após ataque aéreo israelense. (Foto: Mohammed Saber/EFE/EPA)

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No momento em que o cessar-fogo entre Israel e os terroristas do Hamas está por um fio, com ataques israelenses em Gaza ocorrendo após acusações de violação da trégua por parte dos militantes islâmicos, o Conselho de Segurança da ONU dá uma boa notícia ao mundo. Com 13 votos favoráveis e duas abstenções, de Rússia e China, o órgão aprovou a criação de uma força internacional para o enclave palestino, que seria administrado interinamente por uma Junta de Paz – exatamente como previa o plano lançado pelo presidente norte-americano, Donald Trump, no fim de setembro.

A Força de Segurança Internacional (ISF, na sigla em inglês), terá uma função diferente daquela tradicionalmente exercida pelos “capacetes azuis”, como são chamadas as tropas das Nações Unidas normalmente enviadas para supervisionar acordos de paz em regiões conflagradas. A tropa, que será instalada no máximo até dezembro de 2027, terá as missões de fazer valer a lei em Gaza, proteger civis, garantir a segurança das fronteiras com Israel e Egito, manter abertos os corredores humanitários, treinar uma nova força policial palestina. A ISF ainda supervisionará a desmilitarização de Gaza, o desmantelamento da infraestrutura utilizada por grupos armados e o confisco de arsenais ilegais.

Não há a menor chance de paz enquanto o Hamas – e qualquer outro grupo cuja razão de existir seja a destruição de Israel e o extermínio dos judeus – continuar armado

Estes últimos itens são de essencial importância. Por razões óbvias, não há a menor chance de paz enquanto o Hamas – e qualquer outro grupo cuja razão de existir seja a destruição de Israel e o extermínio dos judeus – continuar armado. Isso significa que o tempo se torna um fator crucial. Mesmo com seu grande apoiador e financiador – a teocracia iraniana – enfraquecido, dois anos são um intervalo longo o suficiente para o Hamas se rearmar clandestinamente e recuperar ao menos parte do poder de fogo que Israel reduziu a muito custo, em resposta à barbárie terrorista de 7 de outubro de 2023. Quanto antes a ISF estiver em Gaza, maiores as chances de sucesso no desarmamento do Hamas.

Os terroristas, como era de se esperar, já manifestaram seu descontentamento. Afirmaram, nas mídias sociais, que a resolução da ONU “não atende às demandas palestinas”, como se o Hamas fosse o porta-voz de toda uma população. É certo que o arranjo agora aprovado no Conselho de Segurança “não atende às demandas” dos próprios terroristas, mas é igualmente certo que os palestinos comuns, aqueles que só desejam viver em paz, cuidar de sua família e prosperar, que estão cansados de serem usados como escudos humanos pelos jihadistas, que não querem mais ver suas escolas e hospitais servindo de base para terroristas, estes só terão a ganhar com a presença da ISF.

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O Hamas ainda reclamou que a resolução “impõe um mecanismo de tutela internacional” sobre Gaza. De fato o faz, mas apenas de forma temporária: quando o Hamas estiver desarmado, quando a Autoridade Palestina tiver se reestruturado e mostrar capacidade de administrar a região vivendo em paz com Israel, quando a reconstrução do enclave estiver encaminhada, será possível caminhar na direção do autogoverno palestino. Mas, para isso, será preciso contar também com a cooperação das demais nações árabes, e principalmente de Israel, já que Benjamin Netanyahu insiste na rejeição a qualquer Estado palestino. Sem essa cooperação, será enorme o risco de esta nova ação, respaldada pela ONU, somar-se à lista de tentativas frustradas de alcançar paz duradoura no Oriente Médio.