EUA enviam maior navio de guerra do mundo para costa da Venezuela

Maduro reage e põe tropas em alerta máximo; Washington fala em combate ao tráfico, mas analistas veem pressão militar inédita no continente.

  • Por Eliseu Caetano
  • 11/11/2025 15h09 - Atualizado em 11/11/2025 15h19
EFE/EPA/KIYOSHI OTA / BLOOMBERG POOL Presidente dos EUA, Donald Trump, e a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi (não mostrada na foto), participam da cerimônia de assinatura de um documento sobre a implementação do acordo comercial EUA-Japão O Pentágono comunicou oficialmente que a missão visa “inibir o tráfico de drogas e neutralizar organizações criminosas transnacionais” que operam nas águas do Caribe

O tabuleiro geopolítico latino-americano virou de cabeça para baixo nas últimas horas. O porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior e mais avançado da Marinha norte-americana, chegou à região do Caribe há pouco, acompanhado por destróieres, submarinos nucleares e caças F-35.

Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, trata-se de uma “operação de segurança marítima e combate ao narcotráfico” – mas diplomatas e militares ouvidos pela Reuters e pelo Washington Post afirmam que o movimento marca o maior acúmulo de poder bélico dos EUA na América Latina em 35 anos.

O que diz Washington

O Pentágono comunicou oficialmente que a missão visa “inibir o tráfico de drogas e neutralizar organizações criminosas transnacionais” que operam nas águas do Caribe.

O grupo de ataque do Gerald R. Ford, com cerca de 5 mil militares a bordo, inclui duas fragatas, três destróieres e um submarino classe Virginia, além de 60 aeronaves.

Fontes ligadas ao Comando Sul dos EUA (Southcom), porém, admitem que a presença tem também valor “dissuasório e estratégico” diante de “ameaças regionais emergentes” — referência implícita ao regime de Nicolás Maduro, da Venezuela.

A reação de Caracas

O governo venezuelano reagiu com veemência. O ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, anunciou a mobilização total das forças armadas e a ativação de baterias antiaéreas de fabricação russa S-300 e radares chineses JY-27A.

“Estamos preparados para qualquer provocação. A soberania da Venezuela não se negocia”, declarou Padrino, em cadeia nacional.

Maduro classificou a presença americana como “ato de intimidação imperialista” e prometeu “resistência total” caso haja incursão.

De acordo com o portal AP News, Caracas suspendeu acordos energéticos com Trinidad e Tobago após navios de guerra americanos atracarem no porto local, a apenas 400 km da costa venezuelana.

Cenário militar e dados reais

O USS Gerald R. Ford desloca mais de 100 mil toneladas, possui quatro catapultas eletromagnéticas e propulsão nuclear dupla – é o maior navio de guerra do planeta.

Relatórios do Pentágono indicam que o grupo de ataque opera dentro da área marítima internacional, mas a menos de 500 km do litoral venezuelano.

Desde setembro, os EUA vêm conduzindo operações navais contra o tráfico, que já resultaram em 19 embarcações abatidas e mais de 70 mortos em águas latino-americanas.

O movimento coincide com declarações recentes do ex-presidente Donald Trump, que afirmou que “os dias de Maduro no poder estão contados” – declaração que inflamou ainda mais as tensões.

Segundo o jornal francês Le Monde, o Exército venezuelano, enfraquecido por anos de crise econômica, conta hoje com cerca de 120 mil soldados ativos e 220 mil milicianos civis, número inferior ao que possuía há uma década.

O que está em jogo

A presença de um porta-aviões norte-americano no Caribe reacende memórias da Guerra Fria – quando os EUA mantinham força naval permanente próxima a Cuba.

Agora, o foco é a Venezuela: um país com as maiores reservas de petróleo do mundo, aliado da Rússia, da China e do Irã, e que mantém cooperação militar direta com Moscou desde 2019.

Analistas veem a ação como parte de uma estratégia de contenção à influência russa e chinesa na América do Sul.

Para Washington, trata-se de uma operação legítima de segurança regional.

Para Caracas – e boa parte da esquerda latino-americana -, é o início de uma escalada perigosa que pode mergulhar o continente em um novo tipo de guerra híbrida.

Enquanto isso, diplomatas da ONU pedem “contenção imediata” de ambas as partes, mas, nos bastidores, ninguém esconde que o clima é de pré-conflito.

O maior porta-aviões do mundo está agora no quintal da América Latina.

Os EUA dizem que é “guerra às drogas”.

A Venezuela responde que é “invasão”.

E o resto do continente observa, em silêncio, o estopim de uma nova crise militar nas Américas.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.