Homem-bomba de Brasília: atentado na Praça dos Três Poderes completa um ano 

Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França, lançou dois artefatos em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF) e depois se matou

  • Por Sarah Américo
  • 13/11/2025 06h00
Arquivo pessoal autor atentado Francisco Wanderley Luiz Francisco Wanderley Luiz esteve na manhã de ontem no anexo IV da Câmara dos Deputados, entrou às 8h15, foi ao banheiro e logo saiu

Era noite de 13 de novembro de 2024, quando uma movimentação estranha tomou conta da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, conhecido como Tiü França, ameaçava explodir o local. Ele chegou portando uma mochila com explosivos e, ao ser abordado por um segurança, pediu que ele se afastasse, exibindo os artefatos que carregava. Tiü França lançou dois artefatos em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF), depois, deitou-se sobre um explosivo e o detonou. Ele morreu na explosão, que não teve outras vítimas.

Tiü França morava em Brasília há alguns meses e frequentava o Congresso Nacional. Antes do dia do ataque, fez algumas visitas à Câmara e foi ao gabinete deputado federal Jorge Goetten (Republicanos-SC), conterrâneo dele, da cidade de Rio do Sul (SC). Pela manhã, do dia 12 de novembro, esteve no anexo IV da Casa, onde entrou às 8h15, foi ao banheiro e logo saiu. Ele chegou a deixar um automóvel com explosivos num estacionamento público no mesmo anexo IV que ele visitara. A ex-esposa contou, na época, que o objetivo do ex-marido era atingir o ministro Alexandre de Moraes e qualquer pessoa que estivesse próxima no momento do ataque.

Nas redes sociais, ele costumava publicar mensagens críticas e ataques ao STF, além de postagens em que afirmava ter colocado bombas nas casas de jornalistas e políticos. Em uma dessas publicações, Francisco aparece dentro do Supremo, acompanhado da frase: “Deixaram a raposa entrar no galinheiro”. Nessa publicação havia ataques aos ministros do Supremo, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aos então presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

 
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Segundo o filho de Francisco, Chairon Luiz, o pai enviou mensagens em tom de despedida pouco antes do ataque. Já o irmão, Valdir Rogério Luiz, afirmou que o motivo teria sido político, e não por problemas familiares, e que ele teria passado por um processo de radicalização. O laudo divulgado pela Polícia Federal, confirmou que a causa da morte foi um traumatismo craniano causado pela explosão do artefato que ele mesmo segurava.

A tragédia não parou na morte de França. Daiane Dias, a ex-mulher de Francisco Wanderley Luiz, e que chegou a ser ouvida pela Polícia Federal na investigação que apurou o ato, ateou fogo propositalmente, segundo a polícia, na casa onde vivia em Rio do Sul (SC) e sofreu queimaduras graves de 1°, 2° e 3° graus por todo o corpo. O incêndio na residência aconteceu quatro dias depois do ataque em Brasília. Dias morreu no dia 3 de novembro no Hospital Geral Tereza Ramos, de Lage. Daiane é a mulher mostrada no vídeo compartilhado acima.

Quem era Tiü França?

Francisco Vanderley Luiz, de 59 anos, era natural de Rio do Sul, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, cidade com cerca de 72 mil habitantes e fica a aproximadamente 200 quilômetros de Florianópolis. Em sua casa, a PF apreendeu documentos e encontrou um celular no trailer que ele levou à Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Francisco trabalhava como chaveiro e, em 2020, se candidatou ao cargo de vereador pelo Partido Liberal (PL), usando o nome de campanha “Tio França”. Obteve apenas 98 votos e não foi eleito. Antes, foi empresário na cidade catarinense e teve alguns negócios de sucesso, mas acabou falindo. Sua última ocupação foi como chaveiro, também em Rio do Sul.

O histórico policial do homem inclui uma prisão por contravenção em 2012 e uma condenação por violência doméstica em outro processo, onde foi detido por quase três meses e teve a condição de não deixar a região sem autorização judicial. Em 2021, ele foi denunciado por organizar uma festa em seu estabelecimento, desconsiderando as normas de distanciamento social impostas durante a pandemia.

Apesar das acusações, o juiz responsável pelo caso decidiu pela absolvição, considerando a denúncia improcedente. No ano seguinte, Francisco também foi autuado por causar barulho excessivo, mas essa ocorrência foi arquivada. Seu histórico inclui uma detenção de quase três meses relacionada à violência doméstica, durante a qual ele teve a condição de não deixar a região sem autorização judicial.

Em 2023, Francisco visitou o gabinete do deputado Jorge Goetten (PL-SC), que relatou ter percebido mudanças de comportamento no visitante. Goetten relatou que França estava visivelmente “alterado” quando conversou com ele em 2023.