Lula liga para Motta em meio a crise e tenta reaproximação após embates na Câmara
De acordo com um líder da Casa, a conversa entre Lula e Motta foi positiva
O presidente Lula telefonou, nesta terça-feira (16), para o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. A iniciativa foi interpretada por aliados de Motta como um gesto de aproximação após o desgaste na relação entre os dois, marcado principalmente por divergências em pautas de segurança pública, em especial o projeto de lei conhecido como PL Antifacção, após Motta indicar um aliado de Tarcísio de Freitas para a relatoria.
Segundo uma fonte, a conversa ocorreu em tom cordial. “Foi uma ligação tranquila e respeitosa, como sempre foi”, afirmou. Durante o diálogo, Lula destacou a importância da Câmara na construção das agendas do país, com ênfase nas pautas econômicas.
A ligação aconteceu após o encontro entre Hugo Motta e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Na reunião, Haddad solicitou ajustes no projeto de lei aprovado pela Câmara durante a madrugada, que prevê cortes em benefícios tributários federais concedidos a diferentes setores da economia.
De acordo com um líder da Casa, a conversa entre Lula e Motta foi positiva e pode sinalizar movimentos políticos com reflexos para o cenário de 2026.
Entre aliados do presidente da Câmara, há a avaliação de que Motta deve retomar o controle da condução dos trabalhos legislativos.
Parlamentares apontam dois fatores que teriam contribuído para o desgaste da imagem de Motta: críticas públicas do ex-presidente da Câmara Arthur Lira, que classificou a condução da Casa como uma “esculhambação”, e a campanha com o slogan “Congresso inimigo do povo”, vista por deputados como estimulada pelo próprio governo.
Nos bastidores, alguns deputados avaliam que Motta teria optado por esvaziar a pauta legislativa para cumprir compromissos assumidos ao longo do ano, ainda durante sua campanha à presidência da Câmara, que contou com apoio tanto do PT, partido de Lula, quanto do PL, legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro. No entanto, essas mesmas siglas passaram a fazer avaliações negativas da gestão de Motta neste final do ano.
O PL, por exemplo, reclama do não cumprimento de acordos, especialmente em relação à votação da anistia “ampla, geral e irrestrita”. O líder do partido afirma que Motta teria protelado a condução de temas considerados prioritários pela legenda.
Já o PT protagonizou embates com a presidência da Câmara após a escolha do deputado Guilherme Derrite, nome da oposição ligado ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como relator do PL Antifacção, o que ampliou as tensões entre o governo e a Casa Legislativa.