Moraes precisa ser investigado
Gravidade do caso exige algo que o ministro costuma aplicar com rigor aos outros: investigação imediata
André Marsiglia - 24/12/2025 14h31

O caso envolvendo o Banco Master e o escritório da esposa do ministro Alexandre de Moraes, com possível atuação direta do ministro, pode ser ainda mais grave do que o crime de “advocacia administrativa”, que parte da imprensa tem cogitado.
Se confirmada a hipótese de que Moraes tenha solicitado, direta ou indiretamente, ao presidente do Banco Central, algum tipo de favorecimento, e este favorecimento tiver sido indevido ou irregular, estaremos diante até mesmo de um possível crime de corrupção passiva, tipificado no Artigo 317 do Código Penal.
A gravidade do caso exige algo que o ministro costuma aplicar com rigor aos outros: investigação imediata.
Onde está a severidade considerada necessária para “salvar a democracia”, quando a corda está no pescoço do próprio ministro?
Nos últimos sete anos, réus foram presos preventivamente, jornalistas tiveram bens bloqueados, parlamentares perderam mandatos, contas foram suspensas, redes sociais banidas, relações familiares afetadas e carreiras destruídas com base em meras suspeitas e na aplicação de conceitos elásticos da lei.
Se essa mesma régua fosse aplicada ao caso Master, o presidente do Banco Central estaria sendo formalmente inquirido, a esposa do ministro prestaria esclarecimentos, e o próprio Moraes estaria, no mínimo, afastado do cargo cautelarmente.
Nada disso ocorreu. O Estado respondeu com silêncio, e o ministro com um punhado de notas breves e contraditórias, tentando encerrar o assunto. Versões contraditórias de Mauro Cid foram respondidas com ameaças de Moraes, mas eram outros tempos, não é mesmo?
Se o Estado pretendesse ser levado a sério, a PGR precisaria agir. Sabemos que não vai. Mas ainda pode surgir uma CPI sobre as relações de Moraes com o Banco Master, trazendo esperança parecida com a da CPMI do escândalo da previdência.
Ainda que o Congresso durma, o caso não vai morrer, a orelha do coelho escondido atrás do sofá está evidente e será revelada pela imprensa, pela velha mídia, inclusive, que escolheu rifar Moraes, quando ele não sossegou seus arbítrios, após prender Bolsonaro, inimigo comum de Moraes e da própria velha mídia.
A imprensa chegará a outros clientes da esposa de Moraes, outros contratos e outros escritórios ligados a outros ministros de tribunais superiores. Afinal, Brasília abriga um mercado pródigo de escritórios ligados a autoridades, algo conhecido de todos, mas raramente exposto. A resistência à investigação do caso Moraes pode abrir um precipício para a Corte inteira.
Por enquanto, no STF, ninguém solta a mão de ninguém. Mas, se a imprensa ou uma CPI sobre o escândalo do Banco Master avançar, pode ser que todos prefiram soltar a mão de Moraes a arriscar perder a própria.
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André Marsiglia é advogado, professor de Direito Constitucional e especialista em liberdade de expressão. |
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