O avanço que não entrou no texto: como a Cop30 fortaleceu o fim dos fósseis fora da plenária
Mesmo sem incluir o mapa do caminho no documento final, a Conferência em Belém impulsionou um movimento internacional que agora reúne mais de 80 países e prepara a primeira dicussão para eliminar combustíveis fósseis
A plenária final da COP30, em Belém, terminou sob a tensão de um processo que traduz a própria complexidade da política climática global. Um discurso carregado de simbolismo da ministra Marina Silva abriu o encerramento, ao resgatar a distância entre a promessa da Rio-92 e a realidade de um mundo que não conseguiu transformar a ciência em ação na velocidade necessária. Os aplausos de pé que Marina recebeu não diminuíram o peso das horas que antecederam a aprovação do documento final. A plenária chegou a ser interrompida por cerca de uma hora devido às divergências sobre o tema mais sensível da Conferência: a inclusão de um mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento. Colômbia, Panamá e Argentina fizeram as críticas mais duras à ausência desse compromisso. A Colômbia, em especial, apresentou objeção firme ao trecho de mitigação. Do outro lado, a Rússia elevou o tom ao dizer que alguns negociadores “se comportavam como crianças” — declaração imediatamente rebatida por países latino-americanos, que lembraram a urgência climática e o pouco tempo que resta para disputas políticas. Sem consenso para inserir a transição energética no texto principal, restou ao presidente da COP, embaixador André Corrêa do Lago, anunciar um compromisso informal: ele próprio vai liderar, ao longo de 2026, um programa internacional dedicado ao tema. É um gesto que tenta preencher a lacuna deixada pela ausência de uma decisão formal, mas que também reconhece o impasse.
Paradoxalmente, o maior avanço da COP30 veio justamente do que não entrou no documento. O movimento pelo fim dos combustíveis fósseis — que antes parecia isolado — sai de Belém com apoio de mais de 80 países. A iniciativa, que ficou fora do texto oficial, agora avança por fora da COP: a primeira discussão internacional dedicada ao fim dos fósseis já está marcada para abril, na Colômbia, consolidando uma articulação que pode pressionar a diplomacia climática de maneira inédita. Os resultados formais da conferência incluíram a entrega de 119 NDCs atualizadas, avanços em adaptação, um plano de ação robusto e a incorporação da transição justa como eixo central — elementos destacados pela CEO da COP30, Ana Toni. Marina Silva reforçou a sinergia entre conferências e a necessidade de mobilizar múltiplas arenas políticas para acelerar decisões. Belém encerra a COP30 refletindo os avanços possíveis em um mundo com multilateralismo fragilizado e uma geopolítica marcada por rivalidades. A Conferência entra para a história pela coragem de expor o sistema — mas também pelo risco evidente de adiar decisões críticas para o futuro.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.