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A décima terceira cúpula climática anual das Nações Unidas está acontecendo em Belém. As expectativas para a COP 30 são baixas e não deveríamos esperar que ela gere novas ideias para responder à seguinte pergunta: como deveríamos pensar sobre o problema das mudanças climáticas?
A resposta veio há duas semanas, da pena do filantropo Bill Gates. Em um memorando antecipando a cúpula, ele disse que “embora as mudanças climáticas terão consequências graves, especialmente para os habitantes dos países mais pobres, elas não provocarão o fim da humanidade. As pessoas poderão viver e prosperar na maioria dos lugares da Terra no futuro previsível”.
Em outras palavras, as mudanças climáticas não são uma ameaça existencial. Em vez de focar na temperatura global, a prioridade deve ser melhorar a vida das pessoas. O aquecimento não é o problema mais sério nem mais imediato que os pobres enfrentam – a pobreza e as doenças ainda o são. Portanto, diz Gates, faz mais sentido destinar os recursos, que são limitados, a esses problemas onde podem fazer uma diferença maior.
Essa mensagem – de que as mudanças climáticas não serão catastróficas e que a humanidade poderá continuar se adaptando – representa um ponto de vista completamente oposto ao consenso que as cúpulas climáticas têm promovido. O próprio Gates, que durante anos financiou generosamente iniciativas contra as mudanças climáticas, publicou em 2022 um livro intitulado “Como evitar um desastre climático”.
A evolução no pensamento de Gates implica novos enfoques de política pública que incluem intervenções básicas em saúde pública e dar importância ao crescimento econômico e à inovação. “A saúde e a prosperidade”, diz Gates, “são a melhor defesa contra as mudanças climáticas”.
Gates tem razão. À medida que o mundo se enriqueceu, o bem-estar melhorou. Por exemplo, o risco de morte por eventos climáticos extremos caiu mais de 99% nos últimos 100 anos. A pesquisadora da Universidade de Oxford Hannah Ritchie documenta como as inovações tecnológicas e o próprio crescimento geraram avanços antes impensáveis. Muitos países, por exemplo, conseguiram desacoplar o crescimento econômico das emissões per capita de dióxido de carbono; os países desenvolvidos continuam crescendo, mas com menores emissões. Ritchie também tinha uma visão pessimista até começar a investigar os dados.
Ao pedir que se levem em conta os custos e benefícios das políticas focadas nas mudanças climáticas, Gates está seguindo um número crescente de especialistas realistas neste tema. O nome mais influente desse grupo provavelmente é o filantropo Bjorn Lomborg, presidente do centro de pesquisas Copenhagen Consensus.
Lomborg demonstra que aqueles que enfatizam a redução da temperatura como objetivo principal não levam em conta as prioridades dos pobres que supostamente querem ajudar, nem o custo atual que sua política implica, nem a capacidade das pessoas de se adaptarem ao longo do tempo.
Gates dá um exemplo do conflito entre prioridades. Conta que, há alguns anos, um governo de um país pobre proibiu o uso de fertilizantes sintéticos para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, mas o resultado foi menor produção agrícola, menos alimentos e preços altíssimos.
A questão ética importa. Tem sentido pedir às pessoas pobres de hoje que façam sacrifícios para melhorar a temperatura no ano 2100, quando as pessoas – inclusive os “pobres” – serão consideravelmente mais ricas? Lomborg explica que o dano climático da inação reduzirá o aumento de bem-estar no início do próximo século de 450% para 435%. As futuras gerações ainda serão muito mais prósperas e, por isso, mais capazes de enfrentar os problemas relacionados às mudanças climáticas.
A mensagem de Gates é muito bem-vinda.
Ian Vásquez é o vice-presidente de estudos internacionais no Instituto Cato, onde também dirige o Centro para a Liberdade e a Prosperidade Global.
Este artigo foi publicado originalmente no El Comercio (Peru).