A Constituição brasileira exige dos indicados ao Supremo Tribunal Federal (STF) “notável saber jurídico” e “reputação ilibada”. Ao longo dos últimos anos, contudo, o nome recém escolhido pelo presidente Lula para o STF, Jorge Messias, por ação e omissão acabou comprometendo o preenchimento do segundo requisito. E manchou a própria reputação e do órgão público que chefiou.

Messias fez da Advocacia-Geral da União (AGU) a Advocacia-Geral do Governo do PT. Com direito à criação do Ministério da Verdade (Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia). Esse departamento “messiânico” e censório acatou 35 denúncias e reclamações contra opositores do governo. Mas rejeitou todas as 25 que questionavam a atuação dos petistas no poder. O desequilíbrio evidencia o uso seletivo da máquina pública para atuação política.

Outro tema relembrado no Ouça Essa é a reação de Messias às críticas do jornalista Alexandre Garcia durante as enchentes no Rio Grande do Sul. A AGU processou Garcia por declarações dirigidas ao governo federal, levantando a discussão sobre os limites entre crítica política e uso do aparato estatal como instrumento de intimidação.

Reputação ilibada manchada por vários episódios

O advogado-geral comprometeu a “ilibada reputação” exigida para o cargo de ministro do STF devido à forma como reagiu às revelações da série Twitter Files Brasil, que expuseram ordens de remoção de conteúdo e coleta de dados sigilosos pelo Supremo. Messias tomou as dores e acusou os jornalistas de tentar “desestabilizar o Estado Democrático de Direito”. E foi além, abriu procedimento contra quem fez as denúncias. Idêntico comportamento teve em relação às queixas de Elon Musk quanto a ordens secretas e ilegais.

Mas o que mais compromete a reputação de Messias veio à tona apenas recentemente. Documentos internos mostram que a AGU alertou Messias sobre irregularidades ainda em 2024 e recomendou intervenção imediata. Messias fez vista grossa seletiva, privilegiando justamente os dois sindicatos mais ligados ao PT: o Sindnapi, cujo vice-presidente é Frei Chico, irmão do presidente Lula, e a Contag, tradicional aliada do ex-metalúrgico. Messias só tomou alguma providência contra essas entidades há poucos dias, quando o caso já dominava os noticiários. Durante mais de um ano, com a complacência ou omissão do AGU, os idosos continuaram sofrendo descontos indevidos milionários.

Com tal retrospecto, Jorge Messias deveria estar muito mais próximo de responder a um processo administrativo disciplinar do que uma sabatina para condução ao STF.