Saneamento esgoto ranking das cidades
Ranking mostra que as 100 piores cidades no saneamento têm, quase todas, nota zero no quesito. (Foto: Carolina Gonçalves / Agência Brasil)

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No município piauiense de Morro Cabeça no Tempo vivem, segundo dados do IBGE, cerca de 4,5 mil pessoas. A cidade, que fica na porção sul do estado, na divisa com a Bahia, não tem nenhuma de suas ruas asfaltadas e não conta com bueiros, bocas de lobo e rede pluvial. Principalmente: não há rede de esgoto no município, o que obriga os moradores a recorrerem a soluções arcaicas de saneamento básico, como fossas sépticas.

Mesmo se fosse um caso isolado, a falta de esgoto sanitário em Morro Cabeça no Tempo seria um problema ao menos para seus habitantes. A questão é que o município é um dos 25 que aparecem no Ranking das Cidades da Gazeta do Povo sem ter nenhum único domicílio ligado à rede de coleta e tratamento de esgoto. A maioria dessas cidades fica nas regiões Norte e Nordeste, mas há casos semelhantes registrados em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 56% da população brasileira é atendida por redes de esgoto, o que evidencia uma lacuna preocupante em um país de dimensões continentais. Esse dado se confirma no Ranking das Cidades, uma vez que há 666 municípios – incluindo os mais mal colocados – com menos de 1% de ligações de esgoto.

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Confira as 25 cidades com menor nota em relação ao saneamento básico

  • Barra Bonita-SC
  • Barra do Rio Azul-RS
  • Bonfim do Piauí-PI
  • Cajazeiras do Piauí-PI
  • Castanheiras-RO
  • Coronel José Dias-PI
  • Curralinhos-PI
  • Juarina-TO
  • Júlio Borges-PI
  • Lagoa Bonita do Sul-RS
  • Milagres do Maranhão-MA
  • Morro Cabeça no Tempo-PI
  • Pequizeiro-TO
  • Porto Alegre do Tocantins-TO
  • Riachão do Poço-PB
  • Santa Rosa do Piauí-PI
  • Santa Terezinha do Tocantins-TO
  • Santo Antônio do Planalto-RS
  • São Felipe D'Oeste-RO
  • São Félix do Tocantins-TO
  • São José do Peixe-PI
  • Senador Alexandre Costa-MA
  • Serra Nova Dourada-MT
  • Tenório-PB
  • Ubiretama-RS

Norte e Nordeste lideram entre piores notas

A distribuição geográfica das 100 cidades com as notas mais baixas no quesito esgoto (quase todas com nota 0) demonstra que o desafio do saneamento básico está fortemente concentrado em alguns estados. Piauí e Maranhão somam, juntos, 44% das 100 piores cidades. O Piauí lidera o ranking de forma expressiva, com 32 cidades, e o Maranhão aparece em terceiro lugar com 12 cidades entre as piores.

Apesar do problema ser mais acentuado no Norte/Nordeste, o Rio Grande do Sul figura como o segundo estado com mais municípios no fundo da tabela do esgoto sanitário, com 13 cidades entre as mais mal avaliadas. Logo depois, Santa Catarina contribui com sete cidades, indicando que a falta de esgotamento sanitário adequado é um problema que se manifesta em todas as regiões, mesmo nas mais desenvolvidas.

Tocantins e Rondônia, ambos com oito cidades cada, reforçam a urgência do saneamento na Região Norte. Outros 10 estados completam o ranking, mostrando uma distribuição ampla do problema, mas com menor frequência individual.

EstadoCidades com piores notas
Fonte: Ranking das Cidades / Gazeta do Povo

Falta de esgoto ameaça a saúde dos moradores

O acesso ao saneamento básico se destaca como um dos critérios mais relevantes para a qualidade de vida das cidades do Brasil. Isso porque a coleta e o tratamento adequados de esgoto, além do fornecimento de água potável e da gestão de resíduos sólidos, são essenciais para garantir condições mínimas de saúde e bem-estar à população.

A ausência de saneamento adequado está diretamente relacionada à proliferação de doenças infecciosas e parasitárias, como diarreia, hepatite e cólera. Do mesmo modo, ambientes insalubres também favorecem a disseminação de vetores como o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e do zika vírus.

Não à toa, as piores notas associadas ao esgoto sanitário são de cidades onde as avaliações sobre saúde também ficaram na parte de baixo da tabela. Em Morro Cabeça no Tempo, por exemplo, o Ranking das Cidades atribuiu uma nota 1,44 à saúde no município – em uma escala que vai de 0 a 10. Quando o recorte diz respeito somente às mortes por causas evitáveis entre crianças de 0 a 10 anos, a avaliação é ainda pior: foram quase 70 óbitos para cada 100 mil habitantes, o que resultou em uma nota 0,79.

Além dos impactos na saúde, o saneamento básico influencia diretamente a educação e a produtividade. Em síntese, crianças que vivem em áreas sem coleta de esgoto ou água tratada tendem a faltar mais às aulas por problemas de saúde, o que compromete seu desempenho escolar e, a longo prazo, suas oportunidades de inserção no mercado de trabalho. Da mesma forma, adultos adoecem com mais frequência, o que reduz sua capacidade de trabalho e, consequentemente, sua renda.

Ranking mostra município com 100% de esgoto sanitário

Do outro lado da tabela, o destaque positivo fica com São Caetano do Sul. O município, localizado na Grande São Paulo, é o único do Ranking das Cidades com cobertura universal de esgoto sanitário. Como resultado, os dados mostram que não há nenhum domicílio fora da rede de coleta e tratamento de esgoto na cidade.

Cidades que investem em infraestrutura sanitária não apenas melhoram seus indicadores de saúde e meio ambiente, mas também promovem inclusão e equidade. Assim, ao avaliar quais são os melhores municípios para se viver, é imprescindível considerar o percentual de domicílios com acesso à rede de esgoto como um dos principais termômetros da qualidade de vida.

Veja as cidades com melhor nota

CidadeNota
São Caetano do Sul-SP 10.00
Júlio Mesquita-SP 9.99
Vitória-ES 9.97
Águas de São Pedro-SP 9.97
Iracemápolis-SP 9.96
Santa Cruz de Minas-MG 9.95
Sertãozinho-SP 9.93
Américo Brasiliense-SP 9.93
Arco-Íris-SP 9.92
Matão-SP 9.91
Santa Bárbara d’Oeste-SP 9.91
Fonte: Ranking das Cidades / Gazeta do Povo

Acesse o ranking completo

Na ferramenta abaixo, você pode buscar a sua cidade pelo nome. Todos os 5.570 municípios brasileiros estão listados.

Não houve empates no levantamento. Para simplificar a leitura, a tabela mostra apenas duas casas decimais. Belém, por exemplo, teve uma nota 5,713 contra 5,707 de Palmas. Com o arredondamento, ambas aparecem com 5,71. 

Como a nota foi calculada

O ranking da Gazeta do Povo considerou 27 indicadores nacionais, que são divididos em 10 categorias diferentes. Os mais relevantes ganharam peso maior no cálculo. Confira abaixo os indicadores contabilizados em suas categorias. 

  1. Homicídios — peso 4 

Taxa de Homicídios 2019-2023, ponderada (peso maior para os anos mais recentes). Fonte: IPEA – Atlas da Violência / Estatísticas de Homicídios. 

2. Economia — peso 3 

Vagas de empregos formais no setor privado. Fonte: CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Agosto 2025). 

Salário mensal médio. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023. 

Número de empresas atuantes. Fonte: IBGE – CEMPRE 2023. 

PIB per capita 2021. Fonte: IPEA. 

  1. Moradores de rua, favelas e dependentes químicos — peso 3 

Famílias em situação de rua. Fonte: Cadasteo Único(CADUNC) (Outubro de 2025). 

Percentual de moradores em favelas. Fonte: Censo 2022 – IBGE.  

  1. Educação — peso 2 

População adulta com diploma superior. Fonte: IBGE – Censo 2022. 

Taxa de alfabetização. Fonte: IBGE – Censo 2022. 

Nota do IDEB - Anos Finais do Fundamental. Fonte: INEP – IDEB 2023. 

Nota do IDEB - Ensino Médio. Fonte: INEP – IDEB 2023. 

Vagas presenciais no ensino superior. Fonte: Censo da Educação Superior 2024. 

5. Saúde — peso 2 Internações por uso de drogas (jan/2024–set/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet. 

Número de médicos (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet. 

Total de leitos de internação (setembro/2025). Fonte: DATASUS/Tabnet. 

Mortes evitáveis de 0 a 4 anos (2025). Fonte: DATASUS/Tabnet. 

6. Saúde financeira do município — peso 2 

Capacidade de Pagamento do município. Fonte: Tesouro Nacional – CAPAG. 

7. Infraestrutura urbana — peso 3 

Porcentagem de domicílios com esgotamento sanitário. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Porcentagem de domicílios com coleta de lixo. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Arborização urbana. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Vias pavimentadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Bueiros e bocas de lobo (%). Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Iluminação pública. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

Porcentagem de calçadas. Fonte: Censo 2022 – IBGE. 

8. Mortes no Trânsito — peso 1 

Mortes no trânsito por 100 mil habitantes. Fonte: DATASUS/Tabnet (2024). 

9. Suicídios — peso 1 

Número de suicídios. Fonte: DATASUS/Tabnet (2024)

10. Salas de cinema — peso 1 

Número de salas de cinema. Fonte: ANCINE – 2025. 

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