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Redação do Enem impõe desafio aos candidatos ao abordar envelhecimento sob ‘perspectivas’

10/11/2025 01:45 Conexão Política
Foto: Fernando Frazão/ABr
Foto: Fernando Frazão/ABr

O tema da redação do Enem 2025, baseado nas perspectivas do envelhecimento no Brasil, surpreendeu professores, cursinhos preparatórios e até veteranos de bancas examinadoras. Nas redes sociais, muitos candidatos relataram insegurança diante da proposta, afirmando ter dificuldade em entender como não fugir do tema. Outros reconheceram que não estavam preparados para discutir a questão, que consideraram vaga ou ampla demais.

Entre os docentes, as avaliações se dividiram. Alguns enxergam um movimento de simplificação deliberada por parte do Inep, com o objetivo de elevar o desempenho geral dos candidatos. Outros, ao contrário, defendem que a proposta exigiu maior interpretação, repertório e maturidade argumentativa do que em anos anteriores.

Simplificação sob aparente complexidade

Para Vinicius Doroch, professor de Linguagens e Redação nos colégios privados IPO e CEIB, em Várzea Grande (MT), o Enem tem reduzido gradualmente o nível técnico da redação, aplicando um processo de simplificação sob uma aparência mais sofisticada.

“Tecnicamente falando, de uns anos para cá, observamos diminuição nas notas 1000. Junto a isso, caiu a frequência de alunos interessados em vestibulares”, explicou. Segundo ele, o governo tem buscado conter os baixos índices por meio de temas mais acessíveis. “Para reverter o quadro, o governo opta por problemáticas mais simplistas e restritas. O motivo reside nas estatísticas ruins. Dessa forma, busca elevar os indicadores”, afirmou.

Doroch acredita que a proposta deste ano segue essa lógica. “Eles melhoram piorando a complexidade do que deve ser escrito. Olhando para este tema, de forma geral, trata-se de algo simples: falar sobre envelhecimento no Brasil”, avaliou.

Na visão do professor, o Inep tenta suavizar essa percepção com o uso de palavras mais sofisticadas. “Não pode ser algo escancarado. O governo confere brilho ao tema. Neste ano, inseriram ‘perspectivas’ para conferir glamour. O cerne, porém, tem se tornado mais simples”, observou.

Ele faz uma distinção importante entre simplificação e banalização. “Não é porque a temática é mais simplista que se torna banal. Discutir envelhecimento no Brasil é essencial, assim como o tema anterior. Não afirmo banalização; digo simplificação. Claro, isso é da minha perspectiva como professor”, explicou.

Doroch acrescenta que a percepção dos alunos varia conforme o contexto escolar e social. “Dependendo da escola e da condição socioeconômica, os posicionamentos variam. Meus alunos acharam o tema simples, pois abordo questões de forma mais complexa. Outros o consideraram difícil por causa de ‘perspectivas’. Nós, professores, vemos o todo e sabemos que é simples. Os alunos fixaram-se na palavra em si e se confundiram”, relatou.

Para ele, o uso de termos rebuscados é uma forma de disfarçar a redução da dificuldade. “O governo simplifica de modo glamorizado, para que não seja evidente. Sem ‘perspectivas’, o tema seria ridiculamente fácil. A palavra evita isso a olho nu”, concluiu.

Interpretação e repertório como diferenciais

Em outra leitura, Gabriel Miranda, professor de Linguagens e Redação na rede privada Escola Nacy Amazonas, em Igarassu (PE), avalia que o Enem 2025 apresentou uma proposta mais exigente em comparação às edições anteriores. Para ele, o tema impôs ao candidato a necessidade de enxergar, por exemplo, dimensões sociais e econômicas do envelhecimento no país, demandando maior profundidade interpretativa.

“Achei o tema complexo, mas prefiro assim ao do ano passado, acessível a qualquer um. Este exige mais interpretação e tato para a redação. Quem estudou leva vantagem; os despreparados enfrentam dificuldades maiores”, afirmou.

Miranda vê que a abordagem poderia seguir caminhos distintos, inclusive o econômico, diante da falta de planejamento público para a velhice. “Eu iria pela relevância econômica: no Brasil, não há plano de aposentadoria válido. Focaria nisso”, disse.

Para ele, o problema está na ausência de políticas de longo prazo. “Espera-se uma problemática evidente, mas aqui é a falta de perspectiva. O que isso causa? Essa é a questão central”, argumentou.

O professor também sugere que a redação poderia explorar o aspecto humano e social do envelhecimento. “Poderia apontar o cuidado: idosos sem controle financeiro ou de vida, escanteados pela sociedade”, opinou.

Balanço do exame

Em um balanço geral do exame aplicado neste domingo (9), o Enem 2025 registrou aproximadamente 4,8 milhões de inscritos. A taxa de abstenção alcançou cerca de 27 %, em linha com a do ano anterior (26,6 %).

Os portões abriram ao meio-dia e fecharam às 13h (horário de Brasília), com término da aplicação às 19h. Foram eliminados 3.240 estudantes por infrações como portar equipamentos eletrônicos, sair da sala antes do permitido ou utilizar materiais não autorizados. A prova desta etapa cobriu as áreas de Linguagens, Códigos, suas Tecnologias, Ciências Humanas e produziu redação, com cobertura em 1.804 municípios.

O segundo dia de aplicação está marcado para o próximo domingo (16), quando os participantes responderão às provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. O horário de abertura e fechamento dos portões será mantido: das 12h às 13h, pelo horário de Brasília, com término às 18h30.

A expectativa do Inep é de que o índice de participação se mantenha estável em relação ao primeiro dia, quando cerca de 4,8 milhões de inscritos compareceram às provas. Após o encerramento da segunda etapa, o instituto deve divulgar o gabarito oficial até sexta-feira (21) e, posteriormente, os resultados individuais, previstos para janeiro de 2026.

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